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Matéria 4389, publicada em 28/05/2007.


Obrigado por não ser clichê

Clayton Felipe


Oligopólios, consumidores e o hábito de fumar são as vítimas da crítica de Obrigado por fumar. Um filme bem humorado e sem muitas pretensões, mas que faz uma série de provocações sobre argumentação, ética e razão. É uma comédia leve nas atuações e pesada no enredo. A participação de Robert Duvall como o maior industrial do tabaco destaca-se dentre todas as outras, afinadas, mas que não roubam a atenção.

Aaron Eckhart – ator cujo rosto todo mundo conhece mas ninguém lembra o nome ou algum filme que tenha feito – é Nick Naylor, um lobista que cuida do filho nos finais de semana. Ele é o porta-voz da indústria tabagista, o melhor no que faz. Sua técnica de argumentação e oportunismo são sincronizados. Odiado por muita gente, ele sempre consegue reverter situações a seu favor, porém, esse estereótipo, que pede pra ser odiado, causa afeição ao espectador.

A história é contada em três tramas: os relacionamentos profissionais de Nick, a disputa entre ele (indústria do tabaco) e antitabagistas; a produção de um artigo do qual Nick é a fonte e Heather Holloway (Katie Holmes) é a repórter que vai para cama com ele para conseguir informações (e consegue); e por último, e decisivamente, o relacionamento com o filho.

O garoto aprende rápido. A cada conversa dos dois, ele aprende uma lição sobre argumentação e aos poucos começa a admirar mais o pai. Entrementes, Heather transa com Nick para conseguir informações bombásticas para seu artigo.

Mas a melhor das tramas é a relação de Nick com os chefes  – o “capitão” da indústria (Robert Duvall) e BR (J.K. Simmons, o Mr. Jameson de Homem-aranha) –, com seus únicos amigos, lobistas da indústria da bebida alcoólica e armamentista e a negociação com um agente de Hollywood que não dorme (Rob Lowe). A discussão sobre o cachê para fazer Brad Pitt e Catherine Zeta-Jones fumarem após uma transa no espaço sideral é hilária.

O filme encaminha-se para o clímax quando Heather publica o artigo e denuncia todas as informações confidenciais de Nick. Outro ponto de virada importante é o seqüestro a Nick por antitabagistas, pouco depois do programa de TV no qual Nick debate com o senador que representa a sociedade de combate ao fumo. Ameaçado durante o programa, Nick é seqüestrado e submetido a uma overdose de nicotina e em seguida abandonado na estátua de Lincoln. Isso serve de marketing positivo, porém, é a partir daí que ele começa a repensar alguns conceitos.

O problema de Obrigado por fumar é ser previsível. Com a publicação do artigo, Nick se abate. Quem o ajuda a dar a volta por cima é o filho, logicamente. Então, Nick vai ao senado discutir com o senador a questão de botar adesivos com o símbolo de veneno nas embalagens de cigarro e, novamente, sai vitorioso. Nesse embalo ele ainda revela à imprensa que a repórter transou com ele deixando-a em maus lençóis. Mas, como não poderia deixar de ser, a consciência de Nick fala mais alto, e na mesma entrevista, que acontece nas escadarias do senado, ele não aceita um cargo importante, de vice-presidente da associação das indústrias de tabaco, e dessa maneira desestrutura parte do conglomerado do fumo. A surpresa é que Nick não muda muito, não se torna o bom samaritano, mas isso é a cereja do bolo.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.