O grupo que se concentra todas as tardes no canto da Praça Nereu Ramos chama atenção dos mais observadores. Embora nem sempre sejam os mesmos, um ou outro sempre está lá marcando ponto na sombra de duas grandes árvores que protegem as três mesinhas de jogos e alguns bancos de madeira próximos aos canteiros de flores. Os cabelos são quase todos grisalhos, indicando que aqueles senhores têm muita história pra contar, e sentam-se ali porque a esta altura da vida querem descansar.
Estão num dos principais pontos do centro de Joinville, vêem tudo o que acontece e classificam a praça como o “ninho da fofoca”. Debatem política, futebol, aposentadoria e poderiam tomar conta do obituário. Porém, os simpáticos “velhinhos” não ficam de papo pro ar o tempo inteiro. Eles nomearam sua segunda atividade como “bico”. Pelo fato de saberem quem está vendendo carro e quem aluga apartamentos no Centro, acabam intermediando pequenos negócios.
O empresário Oriel Corrêa tem 68 anos e ainda não se aposentou, mas passa as tardes na praça, lugar em que já fez grandes amigos. Segundo o morador do Anita Garibaldi, não há necessidade da criação de locais semelhantes nos bairros já que a Praça Nereu Ramos é o ponto de encontro.
Francisco Galdino, 65 anos, disse que ficar em casa é uma lástima. O aposentado conheceu Corrêa na praça. “Aqui você vê tudo que se imagina”, completou Galdino, que foi rapidamente interrompido pelo amigo: “Semana passada um cara assaltou aquela galeria ali e saiu atirando”. Em seguida, aponta para uma lanchonete: “Aquela máquina de sorvete tem um buraco de bala”.
Quando um dos companheiros da tarde não aparece por motivo de doença, os outros estranham e até cogitam um possível falecimento, mas o falso falecido aparece contando sobre a forte gripe. “Aqui matamos muita gente que ainda não morreu”, disse Corrêa. Para os idosos, os encontros na praça fazem com que se sintam úteis, se afastem das doenças e criem amizades.