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Matéria 4010, publicada em 02/04/2007.


Camara Mirim: um laboratório político


Roelton Maciel



O bilionário Bill Gates já alertou: “Seja legal com seu colega CDF, ele provavelmente será seu chefe no futuro”. Se conhecesse o projeto Câmara Mirim, o dono da Microsoft poderia complementar: “... ou governar sua cidade”.

Na última segunda-feira de cada mês, as cadeiras do plenário da Câmara de Vereadores de Joinville são ajustadas para comportarem troncos e pernas menores. Nessa data, a bancada do poder legislativo é toda das crianças. Os ocupantes temporários são estudantes de escolas públicas e particulares que carregam o título de vereadores mirins – geralmente alunos exemplares com maior inclinação a atividades intelectuais.

Eles têm funções semelhantes as dos adultos. Enquanto os vereadores “de verdade” são incumbidos de servir à comunidade, aos pequenos é depositada a responsabilidade de, pelo menos, beneficiar as escolas onde estudam. Mas, para cumprir as obrigações, os mirins não dispõem dos mesmos recursos que os políticos da casa. Todo o auxílio recebido se resume a algumas passagens de ônibus, material escolar e tíquetes de alimentação.

Antes de conquistarem uma cadeira no plenário, os membros da Câmara Mirim percorrem um longo caminho. Sabrina Piva, coordenadora do projeto, explica que a composição do mini-legislativo segue os mesmos parâmetros das eleições municipais: “Eles tiveram que lançar candidatura oficial e concorrer com alunos de 4ª a 7ª série do mesmo colégio”. Todo o processo é organizado pelo TRE. As escolas recebem urnas eletrônicas (oficiais) e cada estudante ganha um título de eleitor fictício. Assim começa a corrida pelo voto. Durante a campanha, os jovens formam alianças, contam com o apoio de cabos eleitorais e, como bons candidatos, fazem promessas.

Eleito pela Escola Municipal Karin Barkemeyer, há dois meses Renan Girardi vive a rotina de vereador mirim. Tempo suficiente para o menino viabilizar a construção de uma pracinha atrás da escola. “O terreno pertence ao município, mas estava inutilizado”, relata. Foi o primeiro feito do pequeno político, declarado “conservador de direita”. Antes de submeter o projeto à aprovação da mesa, Renan certamente consultou seu pai, membro do departamento de patrimônio da prefeitura.

Carreira política não é unanimidade

Geraldo Alckmin e Anthony Garotinho são as referências de Renan. Nas palavras do garoto, “os poucos que se salvam”. Curiosamente, é a descrença no governo que alimenta a possibilidade de uma carreira política no futuro. “Se as coisas continuarem assim, acho que vou me envolver para tentar mudar”, sonha.

Em 2005, o estudante Vanildo Selhorst Danielski atuou pela Câmara Mirim. Da época em que legislava, Vanildo carrega a experiência como orador e alguns vínculos de amizade. Histórias também. “Os vereadores da Câmara só assistiam as nossas sessões por alguns minutos. Mas um dia eu reclamei em público e eles nunca mais fizeram isso”. Durante o mandato, ele apresentou mais de 30 projetos. Somente um foi aprovado pelos colegas. Hoje cursando o ensino médio e aposentado dos deveres na Câmara, o jovem descarta um possível retorno ao meio político. “Devo estudar direito ou jornalismo”, conclui.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.