Depois de 25 anos da última reforma, o Mercado Municipal de Joinville sofre
com algumas mazelas da modernidade. Para os comerciantes de pequeno e médio
porte que mantêm o mercado vivo, a maior delas é a concorrência. Fica
difícil bater de frente com híper e supermercados, que têm
estacionamentos maiores do que o próprio espaço físico da grande casa enxaimel,
na esquina entre a avenida Paulo Medeiros e a rua Cachoeira, um dos pontos
extremos do centro de Joinville.
“Nós, que somos pequenos comerciantes, acabamos engolidos”, diz Ronaldo
Teixeira, diretor do Comércio de Peixes Classe A e presidente da Associação
Social e Cultural dos Boxistas do Mercado Municipal. “No caso da nossa peixaria,
só sobrevivemos porque somos uma cooperativa”. A grande modificação, para
Teixeira, é a mudança do caráter do mercado. O que antes era um centro de
distribuição de mercadorias tornou-se um centro de compras e lazer. E não pode
parar no tempo, precisa urgentemente se adequar às novas necessidades e
tendências. “Mas não podemos perder as nossas raízes, temos de respeitar a
vontade dos comerciantes mais antigos, que sobreviveram a todos os altos e
baixos”, argumenta Teixeira.
As reivindicações deles dizem respeito ao espaço físico do mercado. De cara,
reformas no piso e na ventilação que adeqüem o ambiente às exigências do
Corpo de Bombeiros. Tudo num sistema de parceria entre a associação e o
Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de
Joinville (Ippuj), para que a vontade dos boxistas seja consonante com as
possibilidades do instituto. Afinal, atualmente o mercado emprega diretamente
cerca de 180 pessoas, e é responsável pelo sustento de 600. Outra proposta dos
que utilizam os espaços do mercado é uma melhor integração entre o mercado e a praça Hercílio Luz. “Acho
que a praça deve ter apresentações e outras atividades. Nós temos de ter algo
diferente de um supermercado”, fala Teixeira. Segundo ele, o mercado deve ser um
espaço para produtos artesanais, naturais e culinários. “Acho também que seria
bom uma casa lotérica e uma floricultura”. As grandes reclamações dos boxistas
são o estacionamento (“Tem gente que pára o carro aqui e vai para o centro”); a
falta de cuidado com os banheiros; o trânsito, que torna o acesso ao mercado
difícil; e a poluição no rio Cachoeira. “Em dias de sol, o cheiro do rio se
mistura com o dos peixes. Não há quem suporte”, reclama o presidente, que
defende a dragagem do Cachoeira.
Após a reforma serão analisadas as carências do Mercado Municipal na questão
da variedade de serviços. Detectadas as deficiências, será aberta licitação para
novos comerciantes. “Digamos que alguém queira abrir aqui um restaurante alemão.
Após o estudo do mercado, a pessoa vai contactar a Conurb [Companhia de
Desenvolvimento e Urbanização de Joinville, responsável pela manutenção do
espaço] e ela abrirá a licitação”, explica Teixeira. Esse processo é o mesmo
para todos os boxistas atualmente. Eles pagam aluguel e condomínio, que engloba
as faturas de água e energia elétrica. “Gastamos, todos juntos,
atualmente, cerca de 40 mil reais por mês”.
Desde 1982, quando foi construído o mercado no seu formato atual, são poucos
os lojistas que resistem a maremotos e calmarias. Além de Teixeira, que
trabalha no mercado desde os 14 anos de idade, a lanchonete, o despachante
marítimo e o barbeiro resistem há 25. “Mesmo com esse tempo todo, ainda acho que
o controle não deveria ser da Conurb”, diz o comerciante conhecido no mercado
como “peixeiro”. “O Mercado Municipal hoje se aproxima muito mais da Fundação
Cultural, ou da Secretaria de Turismo”.
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Fotos: Jouber Castro