Há dois anos, a casa onde vivia a família Castro passou a abrigar 
todos os tipos de objetos antigos, livros e revistas inutilizadas. O cheiro do 
passado tomou o ar do ambiente, e o branco das paredes cedeu lugar à sépia das 
prateleiras, abarrotadas de títulos amarelados pelo tempo. Esta volta ao passado 
é responsabilidade do colecionador Jean Carlos Martins, criador do Brechó da 
Revista – um negócio que, muito além de revender coisas antigas, dá lugar a 
nostalgia e desafia o relógio. 
O brechó fica na Rua Dona Francisca, ao lado da academia Califórnia. Quadros 
velhos e alguns equipamentos ultrapassados são os chamarizes da fachada, uma 
prévia do que há escondido nas dependências do lugar. Quem entra, se vê em um 
universo paralelo logo no primeiro cômodo: uma bicicleta Monark de 1953 divide 
espaço com uma vitrola de 1924, que se amontoa a outras tantas bugigangas vindas 
de 1900 e preto e branco. 
Na parte dos fundos, todos os metros quadrados (disputadíssimos) são 
dedicados aos livros. São dez mil deles. Torres de romance e ficção se formam 
com as publicações empilhadas. As coleções são postas em fileiras e formam uma 
trilha em torno das paredes. Há exemplares de todos os gêneros. Alguns caindo 
aos pedaços, outros curiosamente intactos. Ao centro, uma quantidade incontável 
de revistas baratas esperam por um leitor. Poucas com o mesmo valor de uma Veja 
n° 1. “Essa eu não vendo. É raridade”, diz Jean. Também há gibis, quadrinhos e 
cartazes. Coisas que um dia foram descartadas por alguém. 
 
Num passeio entre os corredores apertados do brechó, também há opções para os 
amantes da fotografia, com fotos e câmeras diversas. Algumas datam de 1930. O 
cinema se expressa nos 3.500 VHS, abandonados após a chegada da tecnologia 
digital. Cada passo é uma surpresa. Telefones de madeira, moedas centenárias e 
porcelanas da vovó. “Vendo praticamente qualquer coisa anterior à década de 50. 
Tem de tudo”. 
Outra sala é preenchida de vinis. Cerca de 20 mil discos testemunham os 
estilos musicais de gerações anteriores. Dali provém a maior parte da renda da 
casa. “É aqui que a maioria dos clientes param. Alguns aparecem toda semana pra 
comprar alguma coisa”. Mas a velha máquina registradora, outra antigüidade 
resgatada, não tem sido tão útil quanto desejaria Jean. Segundo ele, o negócio 
ainda não lhe garante muito lucro: “Eu faço mais por amor do que por dinheiro”. 
O estímulo, conta o colecionador, “vem do amor pela coisa”. 
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