A noite de terça-feira, 06/03, teve gosto de folga concedida para os
acadêmicos de comunicação social e nutrição, quando um blecaute deixou todos os
prédios do Ielusc na escuridão. A boa notícia (para os mais folgados) é que o
episódio pode se repetir na noite de quarta-feira. A má notícia é, se não cair a
energia, o disjuntor pode pegar fogo. A notícia mais triste é que poucos
funcionários sabem onde fica o disjuntor, motivo pelo qual a noite ielusquiana
permaneceu no breu por cerca de 50 minutos: sem a presença do vigia Neri Pereira
e do responsável pela manutenção José Corrêa ― figuras mais conhecidas como
“tio” Neri e “seu” Zé da Manutenção ― ninguém sabia como guiar o técnico da
Celesc para resolver o problema. O motivo do apagão é simples: o transformador
que mantém a área do Ielusc precisa ser trocado. Enquanto a carga suportada é de
150 quilowatts, a utilização atual é de pelo menos 200. Se até pouco tempo este
transformador era suficiente, agora a utilização de tantos condicionadores de
ar, ventiladores e computadores ao mesmo tempo excede a capacidade do disjuntor
e causa a queda de energia. (Cláudia Morriesen)
O intervalo acabara de acabar. Os mais assíduos já haviam retornado às suas
salas. Os outros ainda conversavam pelo pátio, nos bancos ou na cantina. De
repente, um grito alto e coletivo. Os blocos B, C e D e o área entre eles havia
se tornado um grande quarto, iluminado por um grande abajur, a torre do relógio
da Igreja da Paz. O escuro fez de todos muito parecidos. Os risos eram mais
altos, os namorados menos inibidos. As conversas pelos bancos, mais íntimas.
Parecia que o blecaute havia vindo a calhar para os acadêmicos na calorenta
noite de terça-feira. Os celulares viraram lanternas, e as salas de aula um
grande breu. Havia professores que tentavam continuar a discussão no escuro
mesmo, mas não foram muito bem-sucedidos, já que às 21h30 todas as turmas já
haviam sido liberadas. Quando a faculdade já ficara vazia – já que boa parte dos
alunos já haviam voltado para casa, ou ido a bares mais iluminados que a
faculdade –, exatamente às 21h44, a luz voltou, juntamente com os motores do
bebedouros, os aparelhos de ar-condicionado e as turbinas dos ventiladores,
consumando a melancolia de 46 minutos de aulas perdidas. Aluns grupos e casais
ainda estavam na faculdade. Às 22h30, horário em que, nos dias normais, a
portaria está lotada, poucas pessoas abandonavam o Ielusc. Lições da penumbra?
Que já não nos guiamos mais com os olhos pelos corredores do campus. E que
caminhar no escuro é uma grande experiência sensorial. (Jouber Castro)
A discussão de semiótica na sala D5 para o 3º semestre de jornalismo ia bem.
Prometia para depois do intervalo. Mas não cumpriu. A luz acabou. E com um isso
o ânimo de quase 50 alunos se acendeu para ir ao bar praticar um pouco da boemia
típica de grandes jornalistas. Eles encheram o Expressinho na rua 9 de Março e,
quando não cabia mais ninguém ali, o grupo que não conseguiu lugar rumou ao bar
O Quiosque, na rua do Príncipe, esquina com a Jerônimo Coelho. Por volta das
22h30 alguns estudantes voltaram correndo ao Bom Jesus, não porque lembraram da
aula, mas para não perder o ônibus de volta a São Francisco do Sul. “Ainda bem
que tem banheiro no ônibus”, agradeceu Gabriela Medeiros, que já tinha tomado
uma cerveja. (Felipe Silveira)
Aparentemente, era uma terça-feira pacata de aula. A partir das 19h, a
discussão dos textos de semiótica já estava sendo iniciada, enquanto os
atrasados subiam, sem nenhuma dificuldade, as escadas do bloco D para
juntarem-se ao resto da turma. A maioria das carteiras estava coberta de papéis,
dos quais sobressaíam a cor das canetas marca-texto, além de celulares e
lapiseiras. Às 20h40, o barulho estrondoso de sineta anunciava que teria-se
vinte minutos de intervalo. O pátio parecia estar mais cheio do que o normal –
talvez porque os alunos estivessem dividindo o espaço com dezenas de carros -,
mas ainda restava um banco de concreto, desocupado, vermelho. As seis acadêmicas
de jornalismo correram para garantir o assento, e a conversa fluía comicamente,
como de costume. Alguns minutos depois, um acontecimento quebrou a rotina de
terça-feira. De uma hora pra outra, tudo ficou escuro, sem ensaios. Num primeiro
momento, a expressão de susto tomou conta do rosto das alunas, assim como pegou
de surpresa aqueles que estavam descendo as escadas – eles nunca imaginariam o
quão difícil poderia ser descer uma escada -, dando a primeira mordida num
sanduíche natural ou lavando as mão nas pias do banheiro. O blecaute ocorrido
ontem só não pegou despreparados os fiéis que assistiam ao culto: a Igreja da
Paz permaneceu com a iluminação intacta. Depois do susto, a consciência de tudo.
Já passava das 9h, e, sem luz, ter aula seria impraticável. As seis acadêmicas
correram para buscar as bolsas na sala, tropeçando nas escadas, enquanto
apreciavam a Lua, amarela e majestosa, que refletia nas janelas do segundo andar
de breu. Com certeza, com todos os postes da instituição que, de repente,
deixaram de iluminar as dependências, a Lua dificilmente seria notada. E os
professores dispensaram as turmas. Só estava complicado arrumar o material todo
segurando um celular como fonte de luz. Lá embaixo, as únicas luzes que se viam
eram de celulares, que dançavam nas mãos de alunos, e de flashes. Realmente, foi
algo incomum, digno de ser fotografado. A multidão que ocupava o pátio, em menos
de dez minutos, esvaiu-se pelo portão estreito da guarita. Segundo fontes
seguras, a luz voltou quando ainda faltavam 45 minutos para as aulas
terminarem. Voltou, iluminou o pátio, já deserto, mas as seis alunas já haviam
se despedido, e, enquanto umas sentavam em cadeiras de lanchonete, outras
acenavam para pegar o ônibus, mais cedo do que de costume. (Eva Croll)
As salas e corredores ganhavam luz com a ajuda dos celulares. Pequenos focos
brilhantes que se espalhavam pelo campus. Foi dessa forma que muitos partiram em
busca de pertences e se encontraram com outros colegas. A turma do 5º período de
jornalismo, que esperava mais uma aula de internet com Juciano Lacerda,
permaneceu na sala. Mas não por muito tempo. O objeto de estudo, fruto da
modernidade, não resistiu à primitiva escuridão. Para o professor, a expectativa
de lecionar, naquela noite, também se apagou. “Vamos pro bar!”, disse uma das
silhuetas formadas na penumbra. A idéia ganhou adeptos e o grupo rumou.
(Roelton Maciel)
A conversa com os amigos no pátio foi interrompida pelo apagão. O breu, antes
assustador, aos poucos foi tomando forma de comemoração e o senso comum fez com
que lembrassem da interrupção das aulas. A impressionante escuridão dos blocos
que concentram as salas de aula não atingiu a igreja da paz e a torre conseguiu
permanecer imponente, ou mais do que o comum. A massiva presença de alunos no
espaço ao ar livre, reflexo da descontinuidade das aulas, foi momento para a
descontração. Alguns imediatamente tomaram o rumo de casa, outros decidiram
consultar os professores pedindo permissão para abandonar as discussões. Passear
pelos corredores significava brincar de cabra-cega. “É você, fulano?”, andavam
perguntando. Após esperar durante muito tempo para que se fiat lux, os
próprios professores juntaram suas trouxinhas de livros e textos, e
encaminharam-se para o conforto de seus lares. O barzinho foi escolha de muitos
acadêmicos. Para os de fora a idéia da espera pelo ônibus irritava. Marchavam em
direção à saída, primeiro, terceiro, quinto ou sétimo, não importava o semestre.
Saíam com sorrisos estampados nos rostos ou pesar por saber que o índex dessa
semana, certamente ficará para a próxima. Enquanto isso, a lua dava um show de
dourado, podendo ser observado pela ausência da luz que o homem criou.
(Lorena Trindade)