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Matéria 3700, publicada em 26/02/2007.


:Eva Croll

Cinco minutos são suficientes para que a ágil Adriane guarde todas as bijuterias na bolsa

Pancadas de chuva já fazem parte do cotidiano joinvilense

Eva Croll


Já passava um pouco das três horas quando o céu azul, mesclado de branco por culpa das nuvens, cedeu lugar à escuridão nada atípica aos moradores de Joinville. O barulho das folhas secas sendo arrastadas pela ventania da tarde de 26/2 avisava aos pedestres e comerciantes autônomos que as barraquinhas precisavam ser cobertas – ou desmontadas – e que já era hora de posicionar-se embaixo de um toldo para não se molhar.

No centro da cidade, a pressa era visível nos passos das pessoas. “O pior é que eu não trouxe sombrinha”, disse a senhora de blusa verde-limão à amiga ao lado. Na praça Rolf Colin, as bancadas que expõem bijuterias começavam a ser desmontadas rapidamente. Adriane Stonorga, dona de uma delas, recolheu centenas de mercadorias em menos de cinco minutos. “É a prática”, disse, de bom humor, enquanto jogava vários anéis de coco dentro de uma sacola. “Precisamos estar preparados, pois estes temporais em Joinville são muito imprevisíveis”, completou. Depois de arrumar os colares, pulseiras e brincos dentro de uma mala verde, as nuvens começaram a derramar os primeiros pingos. A bancada, que media pouco mais de dois metros de comprimento, foi desmontada de tal forma que pôde ser enrolada em um pano junto com dois guarda-sóis. “A melhor invenção do artesão foram estas bancadinhas”, sorriu, ofegante após a correria. Ela procuraria um lugar para se abrigar, ou iria até o terminal, se a chuva não lhe alcançasse a tempo. Um dia de vendas foi perdido, mas ela não reclama: “Tenho trabalho me esperando em casa. Sempre tenho que consertar alguma peça, e são nesses imprevistos que ponho tudo em dia”.

Mais adiante, as barracas azuis, que abrigam as feiras de artesanato no pátio da biblioteca pública, continuavam firmes, embora os produtos estivessem todos protegidos dentro de caixas de papelão. O chileno Maurício Santez, também comerciante de bijuterias, utiliza uma delas para expor seus produtos. Os pingos já haviam ganhado mais força, e, segundo ele, “la tormenta” estava cada vez mais perto . A barraca estava parcialmente desmontada, e o artesão já carregava a bicicleta com os apetrechos. “Não me arrisco mais. Quando percebo que o tempo está se armando pra chuva, já recolho tudo. Já tive minha barraca desmontada pelo vento muitas vezes”, reclamou Maurício, após contar que, num desses episódios, tentou até segurar as armações de ferro para que a ventania não as carregassem, o que, infelizmente, não surtiu efeito. Além disso, segundo o comerciante, não vale a pena esperar a chuva passar, já que, só para remontar a barraca, ele leva mais de duas horas. Nesses casos, o rumo de casa é tomado. O chileno pedala do Centro até o bairro Paranaguamirim — isto é, cerca de 12 quilômetros.

Na esquina, um carrinho de pipoca também parecia não temer as ameaças da chuva. O proprietário, Adão Lourenço, olhou para as nuvens escuras e nem se preocupou: “Já vi ameaças de chuva piores em Joinville”. Trabalhando há oito anos como vendedor de pipoca, contou que já viu até o carrinho de um colega ser derrubado pela ventania. Os dias mais ventosos são mais preocupantes. Nesses casos, Adão prende a máquina de pipoca sobre rodas em um poste e vai se abrigar embaixo de uma das lojas do centro.

Felizmente, o céu fechado de nuvens escuras prometeu demais: foram poucos os minutos de chuva. Uma eternidade, talvez, para Marlon da Silva, operário da Tupy, que esperava o tempo se ajeitar embaixo do toldo de uma lojinha 1,99. “Não posso sair na chuva assim. Fui ao médico ainda há pouco pois estava com dores no ouvido”, confessou, com o semblante sério. De capacete engatado no braço, ele esperaria mais um tempo para buscar sua moto, que se encontrava estacionada ao lado da Catedral.

As pancadas de chuva já não são novidade para os cidadãos joinvilenses. No entanto, sempre acabam interferindo na rotina. Em meses quentes, os tempos ruins são mais esperados. De acordo com a Estação Meteorológica da Univille, os meses de janeiro, fevereiro e março de 2006 apresentaram índices pluviométricos de 280,3mm, 300,2mm e 225,9mm, respectivamente. O mês de janeiro de 2007 obteve 335,9mm. Isto é, Joinville teve quase 20% mais chuvas no primeiro mês deste ano. Existe solução para isso? Para os moradores de uma das cidades mais chuvosas no país, carregar uma sombrinha na bolsa é sempre a melhor precaução.

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