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Matéria 3662, publicada em 16/02/2007.


Na sombra do Braga

Roelton Maciel


Alguém na cidade estava sendo despejado. A redação de A Notícia toma conhecimento e encaminha a pauta ao repórter. Ele saca o telefone, contata a polícia e checa a situação. Pede um chimarrão para o chefe de reportagem, faz mais uma ligação e acerta detalhes de outra matéria. Troca algumas palavras com um colega, caminha até os fundos da sala, retorna e garante a saída. Acompanhado por um motorista e um fotógrafo, o repórter Marco Aurélio Braga embarca no veículo de reportagem para cobrir mais uma pauta, sem saber que era furada.

Já no outro canto da cidade, uma viatura estacionada da polícia sugere o local do despejo. Ainda no veículo, o fotógrafo Pena Filho é rápido em mirar a lente diante do pára-brisa. Braga caminha a passos lentos na direção dos homens em frente à propriedade. Um deles é o oficial de justiça. Ele diz ser um caso de inadimplência e garante que os moradores têm boa condição financeira. O repórter faz algumas perguntas, mas percebe que a pauta caiu. Ali, não tem história.

A caneta simples e o bloco de papel não são usados. Sem fotos e declarações, Marco Aurélio Braga e Pena Filho retornam ao carro. Pelo rádio, Braga informa a situação à redação. “Tem como salvar a matéria?”, pergunta o chefe de reportagem. A resposta é negativa: “O cara não quis pagar a imobiliária, isso é problema dele”.

De volta às dependências de A Notícia, Braga faz outras ligações. Na pauta da vez, um caso de latrocínio. Um vendedor de bilhetes lotéricos foi assassinado há poucos dias. Parentes e amigos planejam protestar numa passeata escolar. Mas falar com os familiares não será tarefa fácil. Outro jornal da cidade publicou informações distorcidas sobre o crime, deixando a família desconfiada da imprensa. A saída é falar com a diretora da escola. O procedimento, que é padrão, se repete: ele sai da redação e faz outra requisição de saída, novamente com motorista e fotógrafo.

Na Secretaria da Educação, a diretora o recebe para uma breve entrevista. Ele confirma algumas informações e deixa o prédio. Porém, a matéria ainda está incompleta. Uma ligação feita antes de embarcar confirma o encontro com a irmã da vítima, que estava nas proximidades. Instantes depois, já em frente a principal fonte, o repórter ressalta a boa fé da matéria. Ele também solicita uma foto da moça, que trazia uma camisa estampada com a imagem do irmão. Parte do trabalho está feito. Agora, Braga parte para escrever o que será publicado em 33 mil exemplares no dia seguinte.

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