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Matéria 3626, publicada em 14/02/2007.


:Douglas Engle (divulgação)

Carnaval carioca é uma das maiores festas populares do Brasil

A festa já vem desde a antigüidade

Jouber Castro


Que o Carnaval é uma das maiores festas do planeta todo mundo sabe. Que o Brasil assumiu vigorosamente o selo da festa e que tem um dos carnavais mais famosos também não é segredo. O que muita gente não sabe é que a festa não é um fenômeno da vida contemporânea. Nem da vida moderna. É sim um encadeamento de tradições que acabaram se cruzando e formando o que conhecemos por Carnaval atualmente. Também por isso cada região do planeta o comemora de uma forma diferente, mas sempre com muita alegria e diversão.

Os pesquisadores mais audaciosos atribuem a origem do Carnaval a festas em honra dos deuses egípcios Ísis, Osíris e Apis. Alguns vão mais longe, e dizem que a festa tem ligação com comemorações por boas colheitas, cerca de dez mil anos antes de Cristo. Mas os registros mais claros do início do carnaval falam do século 7 a.C., quando Pisistrato oficializou o culto ao Deus Dioniso na Grécia. Essa data marca a origem do que se chama de “Carnaval pagão”. Também na Grécia, e em Roma, havia as comemorações das duas colheitas anuais (lupercais e saturnais), e a celebração da volta da primavera. O grande ponto em comum sempre foi que a festa derivava de fenômenos astronômicos e naturais. Os lugares onde a festa tomou corpo propriamente foram as civilizações grega e romana, que fizeram grandes comemorações entre os séculos 7 a.C.e 6 d.C., começando a mistura e a integração de classes sociais diferentes na festa.

O salto do Carnaval ocorreu em 590 a.C, quando a igreja católica oficializou as comemorações e parou de chamá-lo de festa pagã. Tal decisão só foi tomada porque o Carnaval já era uma realidade instituída. Naquela época, os festejos começavam já no dia de Reis (6 de janeiro no calendário gregoriano). Apesar da oficialização, a igreja só reconheceria o Carnaval como manifestação popular no Concílio de Trento, em 1545. E foi nessa época que o Carnaval tomou o formato mais conhecido atualmente: máscaras e fantasias, com origem nas festas parisienses e venezianas.

A explicação para o nome também tem a ver com tradições católicas. Segundo a pesquisadora Lilian Russo, há quem diga que a palavra teve origem na expressão latina carne vale (adeus carne!), outros falam em carne levare (abstenção de carne). Também havia um carro em forma de barco que entrava em Roma nos dias de festa, que pode ter derivado em carrus navalis (carro naval). As ligações com a palavra “carne” vêm da história católica, que diz que as pessoas não devem consumir carne no período da quaresma, os quarenta dias que antecedem a Páscoa (período em que Jesus Cristo esteve meditando no deserto antes de sua morte).

As datas da Páscoa e do Carnaval não são fixas, para que aquela não coincida com a data da páscoa judaica. Isso torna o cálculo complicado. A explicação é de Tatiane Xerez: no hemisfério sul, considera-se a última lua nova do verão. Conta-se 14 dias. O domingo seguinte será de Páscoa. O Carnaval será sete domingos antes, fazendo com que a quarta-feira seguinte seja de cinzas. Fato é que é um tanto difícil de entender.

No Brasil, as origens do Carnaval carioca, que atrai os olhares do mundo

Na terra brasilis, a miscigenação da festa é ainda maior. As referências se misturam, e fazem com que cada região comemore a data de uma maneira diferente, conforme as suas origens. A descrição mais geral da chegada do Carnaval no Brasil fala de uma festa trazida por portugueses das ilhas de Açores, Madeira e Cabo Verde, por volta do ano de 1723. A origem da palavra vem do latim introitus, que corresponde aos três dias de festejos que antecedem a quaresma. A festa consistia em brincantes de origem mais pobre (principalmente negros) pelas ruas, trocando arremessos de baldes e bisnagas d'água e jogando farinha, água de limão, polvilho, gesso, tintas e areia uns nos outros. Havia também quem batesse nos colegas de festa com colheres de pau e vassouras.

Como os brancos mais ricos não saíam às ruas durante os dias de entrudo, as tradições européias começaram a ser adotadas com a realização dos primeiros bailes da elite, que na década de 1840 começaram a englobar também a classe média. Nos bailes, realizados em hotéis e teatros cariocas, dançava-se schottische, mazurca, polca, valsa e o maxixe brasileiro. Foi só em 1869 que foi composta a primeira música de carnaval, “Zé Pereira”, onde foram introduzidos novos instrumentos como a cuíca, o tamborim, o pandeiro e o reco-reco, usadas pelo Zé Pereira original já em 1846.

Nessa época ainda não era costume sair às ruas para brincar o Carnaval. Jornalistas da época (destaque para José de Alencar) começaram a incentivar o uso de costumes dos carnavais de Roma e Veneza, com pessoas fantasiadas e mascaradas, e guerras de flores e confete. Em 1855 houve os primeiros desfiles, com o clube “Congresso das Sumidades Carnavalescas”. Com os ricos também indo a rua, a festa começou a ser de segregação. A elite brincava nos salões e nos corsos, e os pobres nos cordões, afoxés, blocos e, mais tarde, escolas de samba. Mais tarde porque, segundo Lilian Russo, foi justamente nessa época que, sob influência de ritmos como o lundu, o tango, a polca e o maxixe, surgiu um novo ritmo tipicamente brasileiro: o samba.

Foi em 1899 que surgiu a primeira marcha carnavalesca, “Ô, Abre-Alas!”, de Chiquinha Gonzaga. Com essa nova tendência, já em 1902 havia mais de 200 blocos carnavalescos no Rio de Janeiro. Juntamente com as marchas, o samba começou realmente a virar símbolo do Carnaval em 1917, com a divulgação da primeira gravação de um samba para a gravadora Casa Edison. O ano de 1928 teve a fundação das primeiras escolas de samba: a Deixa Falar, e, em seguida, a Mangueira. O jornalista Mário Filho foi o responsável pela organização do primeiro desfile de escolas de samba, na praça Onze, em 1932. Dali trocou-se o local do desfile até que ele se estabelecesse no Sambódromo (Avenida Marquês de Sapucaí) em 1984.

O Carnaval de cada região do Brasil possui uma história diferente, mas entre todos há um ponto comum: a alegria do brasileiro, que torna a festa sempre muito divertida e freqüentada por pessoas do mundo inteiro. Em 2005, a escola de samba carioca Porto da Pedra contou um pouco da história do Carnaval em seu samba-enredo. Leia e ouça:

Ouça o programa sobre as marchinhas e sambas-enredos mais famosos

Porto da Pedra - 2005 - "Festa Profana" - (leia) - (ouça)

Outros sambas-enredo, que venceram ou não o Carnaval, tornaram-se de domínio público, e acabaram sendo cantados por torcedores de todas as escolas e viraram clássicos do samba. Abaixo, a Revi traz um exemplo de samba inesquecível:

Imperatriz Leopoldinense - 1989 - "Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós" - (leia) - (ouça)

Desde o início do século, até mesmo antes do samba, as marchinhas são sinônimo de Carnaval. Outros exemplos de canções de domínio público, algumas marchas ainda sobrevivem nos salões de Carnaval, e são cantaroladas por muitos blocos nas ruas do Brasil:

Mamãe, eu quero - (ouça)

Aurora - (ouça)

Máscara negra - (ouça)


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