Qual é o estrago causado por uma bomba atômica? Em Hiroshima, John Hersey traz a resposta por meio de seis hibakushas, sobreviventes do ataque norte-americano à cidade que intitula o livro. Um ano após o atentado, o jornalista passou 18 dias no Japão e, em seis semanas, escreveu uma das melhores reportagens já publicadas. Muito além de contabilizar mortos e feridos, Hiroshima insere o leitor neste drama real, retratado brilhantemente por um mestre do jornalismo literário.
A narrativa inicia em 6 de agosto de 1945, às 8h15, no exato instante em que a bomba A explode no solo japonês. O momento marcaria a primeira grande experiência com o emprego de energia atômica que os EUA já realizara. Milhares de pessoas foram vitimadas pela novidade bélica. Entre aqueles que resistiram estavam os doutores Masakazu Fujii e Terufumi Sasaki, as mulheres Hatsuyo Nakamura e Toshiko Sasaki, além do Reverendo Kiyoshi Tanimoto e do padre alemão Wilhelm Kleinsorge. Eles relataram a Hersey fatos que o mundo não viu.
No primeiro capítulo, o autor concentra a narrativa no trajeto dos protagonistas desde o momento em que acordaram até o choque da explosão. Mesmo o mais ocidental dos leitores é capaz de se identificar com aquelas pessoas. Seus planos para o dia e a preocupação com um ataque eminente são pontos muito bem retratados pelo repórter. Detalhes como a exata distância de cada um em relação ao ponto de impacto contribuem para ilustrar a situação dos sobreviventes na hora do caos.
Passado o clarão gerado pela bomba, inicia-se uma seqüência de tirar o fôlego. O cenário de terror que pairava sobre os habitantes de Hiroshima é contado praticamente em tempo real. A luta pela sobrevivência e a corrida frenética para salvar outros feridos caracterizam as páginas do segundo capítulo. Apesar de relatar momentos de bravura, John Hersey não faz de Hiroshima um palco para a construção de heróis, pelo contrário, ele enfatiza as fragilidades dos seis hibakushas, tornando-os ainda mais humanos e cativantes.
A reportagem também nos reserva curiosidades pouco proferidas sobre o fatídico ataque, como a ingenuidade dos japoneses acerca do que os atingira. No corre-corre, muitos atribuíram o estrago aos famosos B-29. Outros especulavam sobre um possível banho de gasolina. Todos desconheciam as reais proporções do atentado. Nem mesmo o barulho da destruição pôde ser ouvido. Foi apenas “um clarão silencioso”.
O grande diferencial de Hiroshima se destaca nas últimas páginas. Não bastasse o primeiro contato com os entrevistados um ano após a explosão, Hersey os encontra novamente quatro décadas depois. Quando pisou na cidade pela segunda vez, ele viu uma Hiroshima orgulhosa e reerguida. No entanto, as marcas deixadas pela bomba, tanto físicas quanto psicológicas, permanecem visíveis nos seis sobreviventes.