O novo aluno de jornalismo que se encaminhar para a prateleira de número 070 
da biblioteca central do Ielusc poderá encontrar uma gama de livros sobre 
jornalismo. Entre os teóricos de Nelson Traquina, os técnicos de Nilson Lage ou 
os românticos do jornalismo literário, o calouro enfadado encontrará um 
livro de capa creme, cujos editores aparentemente tentaram simular um 
papel-jornal para chamar atenção. O design gráfico da capa de “Papel-jornal — 
artigos de jornalismo cultural”, no entanto, não compromete o recheio, no qual o 
jornalista Marcello Rollemberg apresenta uma coletânea de artigos produzidos ao 
longo da década de 90 para diversas publicações como as revistas Cult, Veja e 
IstoÉ e os suplementos culturais do O Globo, Jornal do Brasil e Jornal da USP. 
Em formato de ensaio, as críticas e resenhas de Rollemberg oferecem ao leitor 
não só opiniões acerca dos aspectos culturais que lhe são atribuídos. Divido em 
duas partes, o livro transita entre a “Cena Nacional” e o “Plano Americano” e 
abrange informações acerca de literatura, cinema, música e arquitetura de forma 
simples e agradável. Enquanto avalia obras de Nelson Rodrigues ou a produção 
poético literária brasileira, o jornalista investiga questões culturais com a 
fluência de quem há muito tempo entregou a carreira aos artigos de jornalismo 
cultural. 
A cada texto é possível encontrar uma linguagem diferente. Isso porque 
Rollemberg desenvolve os ensaios de acordo com o tema trabalhado. O maior (e 
mais delicioso) exemplo é “1958, Um Ano com muito borogodó”, no qual analisa o 
livro Feliz 1958 — O Ano que não devia terminar. Para começar, ele descreve o 
autor do livro, Joaquim Ferreira dos Santos, como “um jornalista batuta” e diz 
que “o volume é de chuá”. Ao fim, desafia o leitor a compreender seu texto cheio 
de gírias arcaicas lendo a produção analisada. 
Mas não só de críticas e resenhas Papel-Jornal é feito. O autor também narra 
a história de uma livraria parisiense criada em 1919 e berço de artistas de 
todas as nacionalidades que adotaram a França quando não tiveram seu trabalho 
aceito em seu país de origem. Com o mesmo talento descreve os antigos palacetes 
paulistanos da fase áurea do café e discute a máxima "É correto ser 
politicamente correto". 
A utilidade do livro que só mereceu um exemplar na biblioteca Castro Alves ao 
estudante de jornalismo é clara. Não só o texto de Marcello Rollemberg é 
conciso, apesar de espontâneo e criativo, como a perspectiva histórica e 
cultural apresentada é de extrema importância a qualquer um que queira se 
aventurar numa profissão exigente e inconstante como o jornalismo.