Cartão vermelho. Já passavam vinte minutos do segundo tempo. O empate em zero
a zero não agradava nenhum dos dois times. A taça daquele final de campeonato
permanecia intacta e sem dono. O técnico já havia anunciado a entrada de
Romarra, o craque da camisa número dez do time da capital. No entanto, depois da
expulsão do lateral esquerdo do time, o técnico optou pelo zagueiro Fafá
Zendeiro para auxiliar na defesa. O coro da torcida foi inevitável:
− Burro! Burro! Burro!
A cerveja quente já não rendia nem mais um gole, fervia na mão para Alencar.
Mais um trago debaixo daquele sol o faria vomitar pela terceira vez. Vinte
minutos do jogo se passaram quando Fafá Zendeiro apertou as chuteiras na lateral
do gramado preparando-se para entrar. Enquanto o coro da torcida repetia a mesma
palavra, Alencar se perguntava:
− Fafá, zagueiro? Cadê o Romarra?
Não demorou nada para Alencar grudar na grade de proteção, passar por uma
abertura no alambrado e correr pela lateral do campo até chegar em Fafá, que se
lançava pela ponta direita com velocidade em direção a Fafá que pensa consigo
mesmo: Quem é esse louco?
A diarréia desidratou Romarra que dava graças por não ter sido chamado para
completar o time. As pernas não renderiam vinte e cinco minutos de jogo. As idas
ao banheiro somaram treze, só naquela tarde. Justo em uma final de
campeonato.
− Romarra dessa vez não vai dar pra ti.
O treinador volta-se para Fafá:
− Fafá! Entra logo e cuida com as bolas altas.
Enquanto Fafá acabara de receber a sua primeira bola, direita na lateral do
campo, um torcedor é avistado descendo o alambrado. Romarra faz um comentário
para si: Quem é esse louco?
Alencar acompanha Fafá até o campo adversário. A torcida vai ao delírio. O
juiz apita e a corrida não pára. Entram dois policiais em busca de Alencar que
avança pelo meio campo. Alencar passa por um policial e agarra Fafá pelo
pescoço. Estão lá, dois corpos estendidos no chão. Enfim, Alencar é levado pelos
policiais. O árbitro apita o reinício do jogo. É apenas tiro de meta. Alencar é
retirado de campo vaiado, ao som do mesmo coro.
− Burro! Burro! Burro!