De janeiro a novembro, ele é palhaço. Já ganhou um concurso de melhor palhaço concorrendo com outros profissionais de circo. A partir de mais ou menos 15 de novembro até 24 de dezembro, a ocupação é outra: Papai Noel. É assim há 35 anos a vida do joinvilense de 63 anos chamado Nivaldo Graper. Horas a fio beijando, abraçando, conversando (“Como vão as notas, meu filho?”, “Tem obedecido à mamãe e o papai?”, “O que quer ganhar do Papai Noel?”) e tentando fazer todos os tipos de gracejos para agradar criancinhas que ele nunca viu antes.
Mas seu Nivaldo não reclama nem um pouco. O trigésimo quinto aniversário veio como “graça divina”, afirma ele: “Eu tinha pedido a Deus que me deixasse completar 35 anos como Papai Noel. Mas agora que alcancei o desejo, peço que Ele me deixe trabalhar por mais dez”, confessa, enternecido.
Em dias de movimento fraco, são umas 800 crianças que o procuram no Shopping Cidade das Flores, onde firmou contrato neste fim de ano. Mas nos dias agitados, como o domingo passado (19/11), até 1200 beijos e afagos são distribuídos. Em dias assim, ele não tem tempo nem de ir ao banheiro.
ESTATÍSTICAS DO PAPAI NOEL
Não é à toa que Seu Nivaldo mantém-se trabalhando como Papai Noel em empresas e shoppings da cidade ininterruptamente desde de 1971. Além da barba de 15 centímetros cultivada há dois anos (já chegou a deixar crescê-la por oito anos) este bom velhinho tem outro diferencial. Seu currículo é invejável: 75 medalhas de homenagem; 18 diplomas de honra ao mérito; e três troféus imprensa de melhor Papai Noel. A experiência adquirida através dos anos o deixa em vantagem em relação aos concorrentes. Na última seleção para a vaga do Shopping Cidade das Flores, ele concorreu com mais 14 candidatos, e prevaleceu o peso do seu currículo e o álbum com mais de 5 mil fotos que Seu Nivaldo apresentou à diretoria do Shopping.
Mas em tempos de desemprego nem Papai Noel tem estabilidade. Seu Nivaldo é aposentado e ganha um salário mínimo por mês. O adicional que tira com os bicos de palhaço e de Papai Noel (ele não quis dizer quanto ganha exatamente) é o que garante o sustento dos três filhos e da mulher doente. Apesar da boa reputação que construiu, ele teme que sua vaga seja ocupada por um Papai Noel mais novo e que cobre mais barato. “Teve um que pediu 350 reais para trabalhar aqui. Por esse preço eu não trabalho”, afirma ele, com certa indignação.
Mas pelo menos até o próximo dia 24, Seu Nivaldo estará, de segunda à segunda, alegremente recebendo as crianças e tirando fotos na praça do Cidade das Flores.