Ela fica entre duas das principais ruas de Joinville. Como um reduto, em meio
ao caos e a correria típicos de segunda-feira, lá está a catedral da cidade.
Desde às oito da manhã, está aberta para receber quem quer que seja. E engana-se
quem pensa que as pessoas vão lá só para rezar. Uma pequena observação de 15
minutos revela que este fato não é de todo verdadeiro.
É 15h30 e um grupo de cinco turistas tira fotos e ouve as explicações do
guia. Mais sete pessoas estão sentadas, espalhadas pelo amplo espaço da igreja.
Na última cadeira, da última fileira, está Eudorico Manuel Albano. O primeiro a
contrariar a tese de que as pessoas só vão à igreja para rezar. “Como não tenho
paciência, deixei minha mulher fazendo umas comprinhas e vim descansar aqui”,
diz. Seu Albano, como é conhecido pelos amigos, desata a falar e
completa: “É bom vir aqui para fugir da correria e refletir um pouco”. Ele conversa
alto, produzindo eco por todo o lugar e atrapalhando a oração da velhinha ao
lado. De rosário na mão e mexendo os lábios, ela olha atravessado para o ocupante
da última cadeira. Albano não se importa e agora o assunto já não é catedral. “Você
que é jornalista deveria fazer uma matéria lá na Cipla”, sugere ele, que
está na empresa há 31 anos. “Depois que a burguesia deixou de comandar, é só
alegria para quem trabalha lá”. Fica a dica para os jornalistas de plantão.
Assim como seu Albano, Tereza Zaraga está nesta tarde de 13 de novembro,
esperando a hora de seu médico. “Sempre que tenho tempo, venho aqui. É bom sentar
e ficar em silêncio”, explica ela. Durante cinco minutos ficou sentada, foi na
caixa dos pedidos de oração e saiu. Estava na hora do médico. Além das pessoas
que ficam na catedral esperando ou descansando, têm aquelas que passam só para
cortar caminho, entram por uma porta e saem por outra. E lá no meio uma mulher
toda de branco dorme com o rosto apoiado sobre as mãos e com sacolas penduradas
na outra.
E nas ruas vizinhas da catedral o ritmo frenético de carros e pessoas não
pára. Enquanto a mulher de branco tirava um cochilo, 33 carros passavam, por
minuto, pela avenida Juscelino Kubitschek. Enquanto seu Albano esperava a mulher
fazer compras no centro, 24 carros cruzavam a rua do Príncipe. Sem contar as
mães e filhos que andam apressados, cheios de bolsas, os carros com som alto e em alta velocidade, o grito de crianças mimadas querendo um brinquedo,
tudo contribuindo para a formação da sinfonia típica de centro de cidade. Som
este, que pessoas como seu Albano, Tereza, ou a mulher que dormia, procuram
fugir.