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Matéria 3305, publicada em 13/11/2006.


:Letícia Caroline

Nem todo mundo que visita a igreja vai para rezar

Um oásis no meio do agito da cidade

Letícia Caroline


Ela fica entre duas das principais ruas de Joinville. Como um reduto, em meio ao caos e a correria típicos de segunda-feira, lá está a catedral da cidade. Desde às oito da manhã, está aberta para receber quem quer que seja. E engana-se quem pensa que as pessoas vão lá só para rezar. Uma pequena observação de 15 minutos revela que este fato não é de todo verdadeiro.

É 15h30 e um grupo de cinco turistas tira fotos e ouve as explicações do guia. Mais sete pessoas estão sentadas, espalhadas pelo amplo espaço da igreja. Na última cadeira, da última fileira, está Eudorico Manuel Albano. O primeiro a contrariar a tese de que as pessoas só vão à igreja para rezar. “Como não tenho paciência, deixei minha mulher fazendo umas comprinhas e vim descansar aqui”, diz. Seu Albano, como é conhecido pelos amigos, desata a falar e completa: “É bom vir aqui para fugir da correria e refletir um pouco”. Ele conversa alto, produzindo eco por todo o lugar e atrapalhando a oração da velhinha ao lado. De rosário na mão e mexendo os lábios, ela olha atravessado para o ocupante da última cadeira. Albano não se importa e agora o assunto já não é catedral. “Você que é jornalista deveria fazer uma matéria lá na Cipla”, sugere ele, que está na empresa há 31 anos. “Depois que a burguesia deixou de comandar, é só alegria para quem trabalha lá”. Fica a dica para os jornalistas de plantão.

Assim como seu Albano, Tereza Zaraga está nesta tarde de 13 de novembro, esperando a hora de seu médico. “Sempre que tenho tempo, venho aqui. É bom sentar e ficar em silêncio”, explica ela. Durante cinco minutos ficou sentada, foi na caixa dos pedidos de oração e saiu. Estava na hora do médico. Além das pessoas que ficam na catedral esperando ou descansando, têm aquelas que passam só para cortar caminho, entram por uma porta e saem por outra. E lá no meio uma mulher toda de branco dorme com o rosto apoiado sobre as mãos e com sacolas penduradas na outra.

E nas ruas vizinhas da catedral o ritmo frenético de carros e pessoas não pára. Enquanto a mulher de branco tirava um cochilo, 33 carros passavam, por minuto, pela avenida Juscelino Kubitschek. Enquanto seu Albano esperava a mulher fazer compras no centro, 24 carros cruzavam a rua do Príncipe. Sem contar as mães e filhos que andam apressados, cheios de bolsas, os carros com som alto e em alta velocidade, o grito de crianças mimadas querendo um brinquedo, tudo contribuindo para a formação da sinfonia típica de centro de cidade. Som este, que pessoas como seu Albano, Tereza, ou a mulher que dormia, procuram fugir.

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