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Matéria 3273, publicada em 09/11/2006.


Em defesa dos palavrões alheios

Tiago Luis Pereira

encaro o perigo dessa crítica à crítica feita à tirinha do Paulo Horn ser entendida como alguma coisa do tipo “Ah, ele tomou o as dores do amiguinho”. mesmo porque essa hipótese não é lá tão implausível. costumo lanchar e tomar cerveja com o Paulinho quase todos os dias antes da aula e durante algumas semanas ele trabalhou nessa tira. desde o embrião da idéia até quase a sua versão final eu acompanhei o processo. “Tô bolando uma HQ pro Pimeira Pauta. É uma brincadeira com o nome do Foucault e fuck you”, dizia. ele me mostrou os primeiros esboços, me explicou de onde vinham os personagens e eu achei boa a idéia. nós ficamos empolgados porque a idéia era baseada num episódio real e a realidade, quando se demonstra engraçada, costuma ser mais engraçada ainda ao ser retratada de alguma forma. ou seja, nos empolgávamos ao ver aquela pequena “piada interna” se tornando pública. e só isso.

o Primeira Pauta foi impresso e, aparentemente, a tirinha não causou mais do que umas risadinhas. do apogeu da minha ingenuidade, pensei que estava tudo certo, afinal, pra que “servem” as tiras além de causar risadinhas? mas existe pelo menos um leitor (que seja só um, por favor!) que não se conformou com o “desserviço” que aqueles desenhios prestaram aos leitores e às “crianças”. o economista, MBA pela FGV/RJ, mestrando em administração pela ESAG/UDESC e consultor na área comportamental Jonecir Alberto Borba fez o favor de nos alertar (sim, alertar nós, alunos de comunicação social) da periculosidade da brincadeira. ou pelo menos era essa a intenção dele. sob o título de “Lamentável” em letras garrafais, esse leitor crítico mandou um e-mail para o Primeira Pauta repudiando o fato de a tira mostrar um aluno fumando, falando “porra” e “fuck you”.

por um lado, gostei muito do e-mail porque demonstrou que o Primeira Pauta está sendo lido fora do campus. além disso, o Paulinho ficou muito feliz por ter incomodado alguém e eu gosto de ver meus amigos felizes, mas confesso que não acreditava que a tirinha pudesse incomodar alguém. santa ingenuidade. é bem verdade o que dizem por aí que Platão não nos deixa em paz (ou seríamos nós que não paramos de ressuscitar seu ideal moralizante e despejamos inescrupulosamente por toda manifestação artística um julgamento baseado no pressuposto mimético?). cacete, pensei que as coisas iam melhor! porra, não poder falar palavrão é foda. e fumar, então? atualmente, não existe pecado maior. putz, acho que o e-mail do Jonecir é mais coerente do eu pensava. vejam, só de ler a HQ do Paulinho eu já tô colocando um monte de palavrões nesse texto. aliás, é melhor eu parar por aqui, se não alguém pode querer copiar esta perniciosa forma de escrever. afinal, a idéia é “limpar” a mídia...

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