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Matéria 3252, publicada em 07/11/2006.


:Eva Croll

Rogério posa ao lado de sua obra preferida

Livrarias Curitiba abriga exposição de retratos em grafite

Eva Croll


Que tal um retrato seu na parede do quarto? É essa a proposta do desenhista Rogério Gomes, que está expondo seus trabalhos no segundo piso das Livrarias Curitiba do Shopping Mueller. Com a ajuda de uma maleta repleta de lápis de todos os tamanhos e cores, apontadores e fotos de pessoas, Rogério trabalha tranqüilamente apoiado no cavalete, instalado entre a exposição de retratos feitos com grafite e as pinturas do artista plástico Eduardo Melo.

O contato com a arte de desenhar veio cedo. Aos 7 anos, o desenhista já transferia imagens para folhas de papel. Nascido em Janiópolis, Paraná, mudou-se para o Rio Grande do Sul com apenas 1 ano e lá permaneceu até os 28. Com a frase “Não gosto de estudar”, Rogério contou que seus estudos não passaram do ensino médio, o que não o impediu de trabalhar na Rene, empresa de publicidade, desenhando logomarcas na área de criação. Há cinco anos, resolveu deixar o emprego para, segundo ele, “se aventurar”: mudou-se para Joinville, onde passou a ter o desenho como uma profissão. Porém, o artista assumiu que, antes disso, o aperfeiçoamento na arte só foi possível graças ao salário obtido na empresa publicitária: “Tem que ter uma segunda profissão para se aperfeiçoar nesta”.

Sentado em uma mesa comprida sustentando vários retratos em preto e branco, Rogério comentou da importância do uso de material de qualidade. “As pessoas estão preocupadas não só com a arte [técnica], mas também com a durabilidade das obras”, justificou, logo após ter mencionado a opção por material importado. No momento, a foto de uma cliente estava presa a um dos grampos do cavalete, já em parte reproduzida em uma folha, pela qual Rogério cobraria 200 reais devido ao tamanho. Muitos dos retratos são feitos a partir de fotos, e outros por observação em tempo real. Em cada um deles, o artista costuma gastar cerca de quatro horas, dispondo de pequenos intervalos. Não se levantando nenhuma vez da frente do cavalete, em menos de duas horas a obra está pronta.

Ao redor da mesa, retratos da princesa Diana, Vera Fischer, Robinho, Freud e Lacan estavam à venda. Rogério contou que os desenhos dos psicanalistas foram feitos especialmente para uma conferência de psicólogos no hotel Parthenon Platz. Segundo ele, a aceitação foi ótima, rendendo-lhe inclusive pedidos. Para isso, o artista acha que expor seus trabalhos é essencial: “As pessoas precisam saber quem é capaz de fazer retratos, para assim poder encomendá-los”. Apontando o retrato de uma criança, em preto e branco, com uma borboleta pousada nas mãos, o artista revelou ser este seu trabalho preferido. A borboleta, que se sobressaía na cena por ser o único componente colorido, ganhou nuances reais.

Já que a demanda de trabalho é bastante significativa, Rogério pode viver tranqüilamente com o dinheiro que recebe pelos desenhos. Porém, para ele, Joinville foi a pior cidade para a venda das obras. Os estados do Rio Grande do Sul e Paraná já receberam suas exposições, e em Santa Catarina expôs em Criciúma, Jaraguá do Sul, São Bento do Sul e Rio do Sul, locais onde obteve mais aceitação. Na visão do artista, cidades menores acolhem melhor as obras de arte.

Este é o primeiro dia de Rogério na livraria, passado um ano e meio depois de entrar em contato com os organizadores do projeto para exibir seus trabalhos. Segundo Anelise Paz, funcionária responsável pela área cultural da Curitiba, há dois anos é oferecido o espaço para a mostra de obras de arte. Primeiramente, os trabalhos dividiam as prateleiras com os livros do terceiro andar, mas, devido a inúmeros pedidos de clientes que desejavam expor, o segundo andar foi transformado para receber exclusivamente os artistas e suas obras. Rogério, que também costuma fazer parte da clientela da livraria, descobriu o espaço por acaso, em uma visita ao terceiro andar.

Apesar de achar Joinville uma cidade pouco propícia para a exibição da arte, Rogério revelou-se otimista com a repercussão da exposição. Afinal, alguns momentos depois, o cinegrafista Luiz Meneghetti, enviado da RBS, subia as escadas e pedia permissão para filmar as obras. As filmagens serão exibidas nesta semana ao fim do Jornal do Almoço. Para quem perder os retratos de Rogério na telinha, vale a pena conferir de perto os desenhos cheios de jogos de sombra e luz. A exposição vai até o dia 30 de novembro.


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