Luiz Fernando Bertoldi e Glaene Vargas. Ele é ator. Ela, assessora de
imprensa. Aparentemente, nada de semelhante entre os jovens de 25 e 26 anos,
respectivamente. O ponto em comum que permeia os estudantes é o fato de ambos
terem se formado em jornalismo pelo Bom Jesus/Ielusc e estarem, no momento,
concorrendo como finalistas no prêmio Acaert, na categoria Monografia –
Radiodifusão.
“Mais uma razão para nos orgulharmos de nosso curso”, disse o professor
Silnei Soares. “Além de termos dois acadêmicos concorrendo ao prêmio de melhor
monografia estudantil, o Bom Jesus/Ielusc ainda é finalista na categoria de
instituição que mais enviou trabalhos”, concluiu. A faculdade já possui um
troféu ganho por esta categoria, guardado no estúdio de rádio.
Tanto Luiz Fernando como Glaene tiveram seus trabalhos inscritos no concurso
pelo professor Jacques Mick. Foi uma surpresa para Luiz quando soube que sua
monografia estava classificada entre as finalistas. Em seu trabalho, o
ex-acadêmico abordou as ferramentas que o jornalista utiliza para construir as
reportagens, colocando o profissional em uma posição à qual chamou de
“Repórter-ator”, título da monografia.
“A partir do momento em que a câmera é ligada, o repórter assume outra forma:
a de personagem”, afirmou Luiz, que, não por coincidência, é ator. Além de
utilizarem o mesmo veículo de trabalho, as ferramentas utilizadas pelos
repórteres e atores são praticamente as mesmas. Dentre elas, Luiz cita o
figurino, a dicção, a maquiagem e a marcação de cenas, muito utilizada no
teatro. É explicada a importância que tais recursos têm para o jornalismo, uma
vez que acrescentam dinamismo às cenas, fugindo da reportagem centrada no único
objetivo de informar. Luiz Fernando, que teve o rumo de suas pesquisas orientado
pelo professor de telejornalismo Ângelo Ribeiro, citou o apresentador do
Jornal Nacional como um destes ícones. “William Bonner é capaz de convencer o
espectador a não mudar de canal devido ao uso destes recursos”, pontuou.
Ao ser questionado do motivo pelo qual escolheu este tema, tudo se tornou
claro: o ex-acadêmico é ator. Ao trancar o curso em 2004, utilizou o período de
um ano e meio que ficou afastado das câmeras de reportagem para atuar no mundo
dos palcos e cortinas. Formou-se na escola para atores Schiavini e obteve seu
registro profissional na área, para depois viajar para o Rio de Janeiro e
estudar na Cia de Artes de Laranjeiras. Em três meses, concluiu o curso de
profissionalização e só então voltou para Joinville e para o jornalismo, no ano
de 2005.
Todo o conhecimento adquirido neste período gerou as idéias centrais de seu
último trabalho, no qual Luiz ainda traçou um paralelo entre as profissões de
ator e jornalista, concluindo que, por mais que se faça uso da dramaturgia, o
repórter deve conservar sua postura de mensageiro da verdade.
Mais um ponto em comum pode ser traçado entre os dois ex-acadêmicos. Assim
como Luiz, Glaene também aborda o repórter como sendo, muitas vezes, uma espécie
de personagem que assume características do tema para aproximar os espectadores
e até mesmo as fontes. Dentro de seu trabalho de conclusão, guiado pelo
professor Silnei Soares, são analisadas dez matérias, todas exibidas no Jornal
Nacional. Dentre análises de repórteres discursando em cima de montes de
sementes ou montados em cavalos, o sotaque dos profissionais ganha importância
na pesquisa de Glaene.
“Os Brasis que escapam do padrão: uma análise das matérias apresentadas no
Jornal Nacional”, tema do trabalho da ex-acadêmica, foi montado com base na
seleção de reportagens do jornal diário exibido pela Rede Globo. “Eu gravava o
jornal inteiro, e depois assistia às gravações para selecionar as reportagens
que se encaixavam no meu tema”, revelou. Seis matérias analisadas foram
escolhidas de tais gravações, enquanto as outras quatro foram selecionadas da
sessão de extras do DVD “Jornal Nacional 35 anos”, na qual Glaene encontrou
séries como “Profissão Professor” e “Brasil Rural”.
Com a pesquisa, a ex-acadêmica, que, atualmente, trabalha como assessora de
imprensa, pôde ter acesso à informação de que o Jornal Nacional, seu objeto de
estudo, foi o primeiro jornal a ir em rede no Brasil, e , desde então, contratou
fonoaudiólogos para disfarçar repórteres com o sotaque carregado. De acordo com
a própria pesquisadora, sua intenção não era criticar o sistema de padronização
da emissora, mas analisar as situações do seu ponto de vista pessoal. Para isso,
utilizou até mesmo a linguagem fonética em suas explicações.
O prêmio da Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão, além de
premiar trabalhos acadêmicos, também destaca o talento de jornalistas
catarinenses. No dia 8 de novembro serão conhecidos os ganhadores. Profissionais
receberão um troféu que imita um microfone, enquanto acadêmicos um diploma comprovando o mérito de ganhador do concurso, no teatro
Álvaro de Carvalho, em Florianópolis. Como disse o professor Silnei, “Fiquemos
na torcida aguardando o resultado”.