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Matéria 3062, publicada em 23/10/2006.


:Eva Croll

Jefferson e Paulo são dois dos 15 clientes assíduos de Celso

Sorvetes, bijuterias, churros e... cartões telefônicos!

Eva Croll


Em meio a uma barraca de sorvete, carrinhos de churros e vários painéis de bijuteria, dá para ver a mesinha forrada com toalha xadrez e repleta de cartões telefônicos de todos os anos e temas possíveis. Sentado em um banquinho próximo da mesa está Celso Eberhardt, dono de um acervo de mais de 50 mil cartões. O dia quente e ensolarado de hoje inspirou mais ainda o alemão de 57 anos a sair de casa para expor suas mercadorias, ainda que para um público bastante restrito.

Chegando ao seu lado com olhos curiosos, não demorou muito para que Celso me explicasse o que estava fazendo. “Amada, eu vendo cartões telefônicos usados para colecionadores”, me contou. Um banquinho de plástico reservado para os clientes e encostado do outro lado da mesa me instigou a sentar, já que minha primeira jornada de repórter na rua me exigiu algumas voltinhas pelo centro da cidade.

Duas bicicletas encostaram na árvore que fazia sombra na pequena exposição. Eram os primos Jefferson Amorim e Paulo Malschitkzy Neto, dois dos 15 clientes mais fiéis de Celso. Jefferson, de 18 anos, contou que coleciona cartões telefônicos desde os 6. O motivo? “Ah, é difícil explicar. Sempre achei demais colecionar objetos antigos”. O garoto também coleciona gibis, revistas e figurinhas de qualquer tipo, mas sua atenção especial vai mesmo para os cartões de telefone. Costuma visitar a mesinha de Celso pelo menos uma vez por semana, o que já lhe rendeu cerca 2.500 peças, tirando as que ele deixou de contar: “Não conto mais meus cartões”, revela.

Paulo, por sua vez, possui “apenas” 400 cartões. Afinal, faz somente um ano que começou a coleção, tudo devido à influência do primo. Os dois costumam ir juntos comprar exemplares que faltam para completar suas séries. No momento, Jefferson procurava por um cartão do Batman, enquanto Paulo escolhia outras peças que se encaixassem nas séries que já havia começado.

Quando interroguei Celso a respeito de como tudo começou, respondeu que tinha sido culpa da sua esposa. A culpada em questão certa vez chegou em casa segurando cinco cartões telefônicos estampados com orquídeas. Naquela época, meados de 1989, os telefones públicos estavam deixando de funcionar com fichas. A partir disso, o casal começou a juntar todos os cartões que viam, até mesmo os repetidos, os quais Celso expõe todos os dias à tarde. Além de passar as tardes trocando e vendendo, o colecionador possui um emprego fixo na Embraco, onde trabalha como operador qualificado da área de termologia, das 22h às 5h.

Primeiramente, o colecionador vendia as peças na Praça da Bandeira, mas, com a reforma do local, foi obrigado a mudar de ponto. Agora, encontra-se na Praça Rolf Colin desde 1997. “Aqui, éramos em sete vendedores, mas como a procura por estes objetos diminuiu, acabei ficando sozinho”, relata Celso, que afirma vender os cartões sem nenhuma pretensão de fonte de renda.

Os preços são definidos pela tiragem de cada cartão: quanto maior a tiragem, menor o preço. Um cartão com 500 exemplares, por exemplo, é vendido por cerca de R$ 25, enquanto os integrantes de uma tiragem de 500 mil são vendidos por R$ 1. Mas, segundo Celso, clientes antigos descolam preços especiais.

Enquanto o vendedor me contava sua história, vários olhares voltavam-se para a bancada forrada de atrativas paisagens, animais selvagens e criaturas do mar. Até que mais uma cliente se aproxima. Sueli Yokomizo, uma dona-de-casa de 44 anos, possui 5.492 cartões telefônicos em sua coleção. “Minha família acha que sou louca por colecionar cartões, mas para mim isso é uma terapia”, afirma. Sueli, que costumava catá-los em orelhões, lixeiras ou até mesmo nas ruas, revela que atualmente não faz mais isso por não achá-los mais nesses pontos, e atribui isso ao fato da existência de telefones celulares. Colecionadora há 13 anos, Sueli conta que seu filho mais velho também “sofre da mesma doença”, já que coleciona latinhas, chaveiros e lápis.

Enquanto Celso ia até o quiosque mais próximo comprar alguma coisa para beber, Sueli sentou-se no banquinho reservado ao vendedor e escolheu as peças que mais lhe chamaram a atenção. No fim, a dona de casa gastou R$ 40 em cartões. Ao voltar da visita ao barzinho, Celso ainda contou que nem todo dia consegue vender alguma coisa. Uma sacola em cima da mesa que guardava cerca de 250 cartões havia sido trazida por uma moça que costumava juntá-los, e que resolveu vendê-los por R$ 25 para o Alemão, assim como é conhecido.

Já que sobrevive de seu salário como operador, Celso garantiu que passar as tardes na praça seria mais por prazer de que por faturamento. “Pretendo trocar minha coleção de cartões por cédulas e moedas”, revelou.

Infelizmente, não são todos os dias em que se pode encontrar Celso e seus cartões na praça. “Venho quando me dá vontade”, explicou, mostrando a mala repleta de caixas cheias. Mas quando um vendedor de notas antigas lhe faz uma boa proposta de venda ou troca, o alemão não pensa duas vezes e sacrifica algumas horas de sono para obter suas cédulas. “Tem vezes que eu abro uma exceção, né?” sorriu.

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