Quem assistiu a “Capote” no cinema tinha uma idéia do que encontraria na segunda noite da série “Comunicação e Literatura”, com o professor Jacques Mick. Já quem, por acaso, não teve oportunidade de assistir ao filme, se deparou com um gênio explosivo, intenso e ambicioso sob uma aparência sensível e delicada. Este foi Truman Garcia Capote, escritor que passou boa parte da carreira “flertando com o jornalismo”, para usar as palavras exatas de quem conduziu os trabalhos nesta quarta-feira, 18 de outubro. Justamente essa verve jornalística ajudou Capote a criar seu estilo, que o tornou um dos escritores mais bem conceituados do século 20. Mais uma vez, a sala C-27 praticamente lotada serviu de prova de como a realização de leituras públicas de escritores/jornalistas consagrados é bem aceita pelos acadêmicos. Em sua maioria, acompanharam a conferência do início ao fim.
A análise de Capote foi iniciada com a leitura da primeira parte de “A Sangue Frio”, seu livro mais conhecido, considerado um clássico da literatura norte-americana. A introdução do professor Jacques apresentou o crescimento de Capote, seu auge arrebatador e o fim de vida recluso de alguém que faturou dois milhões em vendas no ano da publicação de seu livro mais famoso e que morreu sozinho.
Uma seqüência de slides serviu para contar a vida de Capote. A começar pela “foto de olhar lassivo” que alavancou sua carreira estampada na contracapa de “Outras Vozes Outras Salas”, “uma semiautobiografia”, segundo Jacques. A obra trata de homossexualismo, uma das marcas da personalidade do escritor. As imagens conduziram o público de aproximadamente 100 espectadores pelos altos e baixos de Capote, mostraram seus amigos famosos, suas poses para as câmeras, além do envelhecimento e seus últimos anos. Logo em seguida, Jacques mostrou o trecho do filme “Capote”, em que o personagem-título fala de um crime aos amigos (crime esse que, anos mais tarde, transformaria-se no tema de “A Sangue Frio”: o assassinato de uma família em Holcomb, Kansas, nos Estados Unidos).
E para arrebatar os últimos resistentes ao jornalismo literário, a confissão de um dos assassinos da família Clutter, de “A Sangue Frio”, foi lida (e interpretada) por Jacques, e silenciou completamente a platéia. Todos aparentavam muito interesse pela história. E aí vem uma das características mais relevantes do jornalismo literário: a belíssima e envolvente trama aconteceu, de verdade.
O encontro literário foi concluído por Jacques com uma frase simples, porém desafiadora: “Nenhum leitor é o mesmo depois de lê-lo. Esse é o sonho de todo escritor. Será o sonho de todo repórter?”.