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Matéria 2934, publicada em 10/10/2006.


Notícias a partir do Google Earth

Manoel Schlindwein*

Já não é de hoje que o Google virou ferramenta obrigatória para os jornalistas. Desde checar a grafia de um nome até pesquisar os avanços da medicina, via de regra o trabalho começa com uma simples consulta àquela bucólica telinha de poucos links. Agora, além do buscador, um outro programa do pacote de ferramentas do site começa a atrair a atenção das redações. Mais do que um simples passeio virtual pelo globo, o Google Earth serve aos repórteres como ferramenta para veicular informação com mais interatividade e de forma mais divertida.

O cruzamento de dados de diferentes fontes permite possibilidades quase infinitas. Vamos começar com um exemplo simples. No site Maps.Huge.Info é possível localizar a posição geográfica de uma região nos Estados Unidos com base nos números do código postal. Pensando naquele famoso seriado gringo da década de 90? É só digitar “90210” (de “Beverlly Hills, 90210”, original em inglês para “Barrados no Baile”) e lá está: Los Angeles, Califórnia.

Mas a partir dos números do correio dá pra se fazer coisa bem mais elaborada. Que tal conferir onde moram os principais financiadores das campanhas dos candidatos à Casa Branca na eleição de 2004? Basta digitar o CEP da região no site Following the Dollars: Map Political Campaign Contributions in Your Area (coisa como “Seguindo os Dólares: Mapeie os Contribuintes da Campanha Política na sua Região”) que o internauta encontra o endereço dos doadores registrado no banco de dados do Projeto Fundrace. Digite por exemplo “10010”, um dos muitos códigos postais da ilha de Manhattan, e você vai verificar que há muito mais doadores democratas que republicanos entre as ruas 14 e 34 de Nova York. Os primeiros destinaram 238.706 dólares para a campanha de John Kerry, o equivalente a 82,3% do total, ao passo que os seguidores de George W. Bush desembolsaram 51.350 dólares, o correspondente a 17,7% do total na região. Eis aqui, aliás, uma dica para jornalistas brasileiros: montar algo semelhante no país a partir dos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Pegou a idéia? A união de dados de fontes diversas e os mapas do Google Earth ficou conhecida no ciberespaço como “mash up”, trocadilho para “mistura”. A rede contém centenas de mashups, boa parte deles com endereços de lojas e serviços. É o caso do banco de dados FastFoodMaps.com. Nele pode-se localizar quase 50 mil endereços das 10 principais cadeias de comida expressa nos EUA (só a cidade de Houston, no Texas, conta com 480 registros). Quem entra no sugestivo MashMap.com, no entanto, não vai encontrar uma vasta coletânea de mapas com temas variados, lá estão “apenas” os endereços dos principais cinemas nos Estados Unidos. Ao passar o cursor pelo mapa é possível conferir a programação das salas: Atlanta, na Geórgia, por exemplo, conta com 13 salas e 17 filmes em cartaz (com poucos cliques de mouse descobre-se que o filme “O Diabo Veste Prada” tem sessões do meio-dia às dez da noite no Regal Perimeter Point Stadium).

De olho na novidade, o site do jornal The New York Times colocou um mapa personalizado do Google Earth para dar dicas de viagem aos leitores do caderno de turismo. Confira aqui. Já o Washington Post mantém um link onde é possível localizar a residência das vítimas americanas em conflitos no Oriente Médio. O responsável pela façanha é Adrian Holovaty, contratado em setembro do ano passado para o cargo de “editor, editorial innovations”. Ele foi o criador do site ChicagoCrime.org, o pai dos Google Earth mash ups, onde os internautas conferem o local exato de estripulias fora-da-lei com base em dados oferecidos pelo departamento de polícia da cidade. A criação levou dez mil dólares ao arrematar o primeiro prêmio no Batten Awards para Inovação em Jornalismo.

Algo menos mórbido fez o Times Herald Record, divulgando um mapa com os postos de gasolina e seu respectivo preço na região (). Já o jornal australiano Sunday Morning Herald usou a ferramenta para ilustrar uma matéria sobre a perseguição de um foragido policial. As variações são muitas e o que não falta são bancos de dados fartos de registros para os jornalistas aproveitarem. Com a chegada da Microsoft no páreo as possibilidades devem se tornar ainda maiores. Agora só falta deixar a criatividade rolar.


Manoel Schlindwein é jornalista formado pelo Ielusc

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