— Vem cá, meu bem, deixa eu ler sua mão!
Dezenas de pessoas passam pela rua do Príncipe na tarde de segunda-feira, todas apressadas, quase não olham para os lados e fingem não ouvir as mulheres de saias compridas que chamam com a promessa de desvendar o futuro. Elas não desistem, se misturam ao povo na calçada, puxam as pessoas pela mão como se fossem amigas, afirmam que não precisará pagar e que só querem conversar. As mais velhas sentam-se nos canteiros da rua da Palmeiras ao lado das crianças e aguardam um curioso se aproximar.
As mulheres ciganas trabalham contando os acontecimentos futuros na vida das pessoas, mas se recusam a falar da sua própria. Não aceitam responder seu nome ou idade. “A minha vida é só minha, não é pra ser contada por aí”, diz a mais idosa do grupo. Aliás, ela nega que sejam um grupo, porque “quem vive em grupo é índio e nós não ‘semo’ índio!” São todas da mesma família, mas cada uma tem sua casa, seu marido e seus filhos e se reúnem para trabalhar e viajar.
Ela conta que a família é de Porto Alegre, mas eles viajam o mundo inteiro. Já foram para Manaus, Buenos Aires e Estados Unidos. Como eles vão para todos estes lugares? “Ah, a gente vai assim, se reúne e vai”, responde, ofendida com a minha desconfiança. Estão em Joinville há seis anos e antes, viviam na África, mas diz não lembrar o nome da cidade. Subitamente ela resolve trabalhar um pouco e diz “Ah, continua sua pesquisa com outra ali” e aponta uma jovem com um menino agarrado a suas pernas.
Pergunto da África, esperando uma reação que desminta a outra cigana, mas a jovem responde: “Lá era bonito, mais bonito do que aqui”. Outra menina se aproxima e confirma, a África é mais bonita que o Brasil. E o que tem de diferente entre as pessoas daqui e de lá, pergunto. Mas não tem diferença, é tudo igual, elas afirmam. Na África e no Brasil, ninguém quer conhecer a sorte com a leitura de mão. As pessoas também fingem não ver os ciganos na África.