“Se você quer fama e dinheiro, compre uma guitarra”. É este o conselho de
Marina Colasanti aos jovens escritores e eu não duvidaria dela. Principalmente
depois que cheguei ao Anthurium Park Hotel, onde estava marcada a coletiva de
imprensa de Affonso Romano e Marina Colasanti, dois grandes escritores, poetas e
jornalistas brasileiros e, ao questionar os funcionários da recepção do hotel
sobre o local da entrevista, ambos me olharam e responderam: “Olha, acho que não
é aqui! Será que não é no Joinville Tourist?”
A confusão só terminou quando os próprios escritores apareceram no hall de
entrada, deixando o restaurante em direção ao seu quarto. A meu lado, Adriana
Zoch, a assessora de imprensa responsável pelo Proler — evento que está trazendo
Marina e Affonso para palestrar em Joinville — correu para saudá-los e só então
avisá-los que marcara uma coletiva de imprensa entre as 14 e 16 horas para os
dois. Marina Colasanti, vestida de preto e azul marinho, colar de prata e
maquiagem azul nos olhos, uma senhora elegante prestes a completar 69 anos,
concordou com um sorriso. Affonso Romano, grandes óculos de lentes escuras e
pasta preta na mão, um autêntico senhor de 69 anos, olhou para sua esposa e
falou: “Você dá a entrevista, eu vou dormir”.
Sentada na sala de chá do hotel, a escritora toma um café e comenta a bela
vista para o jardim. Tudo nela é delicado, o jeito como fala e como sorri,
notando cada canto do lugar. “Olha, nem é muito grande, é só um jardinzinho, mas
já traz uma alegria para a vida”, comenta a escritora apaixonada por detalhes.
Aliás, escritora, cronista, contista, poetisa, jornalista e conferencista, como
ela mesma enumera. Minha vontade é esquecer a entrevista e passar a tarde em
companhia daquela figura tão agradável, mas ela me olha e aguarda a minha
pergunta. “É possível viver como escritor no Brasil?” — é tudo o que consigo
questionar.
Sim, é possível viver como escritor no Brasil, na ótica de Marina Colasanti.
Ela vive assim há mais de 30 anos. “Vive-se como escritor, mas é um trabalho em
longo prazo. Um jovem escritor não pode esperar sucesso na publicação de seu
primeiro livro. No máximo vai conseguir uma projeção regional” —afirma — “Mas se
você quer ser escritor, comece agora. Não existe essa história de inspiração:
escreva muito e você poderá vir a se tornar um escritor”. Ela fala com a
segurança de quem conhece a causa: entre contos, poesia, prosa e literatura
infantil e adulta, Marina já publicou mais de 30 livros, escreve constantemente
para revistas femininas, além de ter trabalhado em diferentes atividades no
Jornal do Brasil. Também foi apresentadora, repórter e roteirista de TV.
A respeito do jornalismo no país, Marina culpa as faculdades pela deficiência
dos novos profissionais. Ela conta que, quando entrou no Jornal do Brasil, em
1962, um editor era responsável pelos novatos, destinado a ensiná-los e
pautá-los. “Os donos de empresa agora pensam: já que tem escolas de jornalismo,
eu não preciso ensinar nada a ninguém. Mas as faculdades não têm capacidade de
formar jornalistas com experiência prática”, critica a escritora. Quando Marina
começou a trabalhar no JB, Fernando Gabeira era o pauteiro e ela comenta: “As
melhores cabeças do meu tempo trabalhavam em jornais e nenhum deles era formado
em jornalismo, pelo simples fato de não existir o curso”.
Casada há 35 anos com o poeta Affonso Romano, ela se despede de mim com um
conselho, enquanto se preparava para gravar uma entrevista com a única repórter
que também compareceu na coletiva do desconhecido casal de sucesso: “Diga para
seus colegas, os jovens escritores: é preciso ter talento e determinação. Não
adianta ter só um ou outro. Você pode ter um grande talento para escrever, mas
se não usá-lo, ele será o mesmo que nada”.