Em Joinville, aproximadamente 215 deficientes auditivos estudam em escolas da rede pública. A maior concentração se dá no bairro Bucarein, onde somente o Ceja (Centro de Educação de Jovens e Adultos) é responsável por 113 estudantes com problemas de audição. Sueli Bartnikowsky é professora do Ceja desde 1998 e leciona para surdos há oito anos. Ela explica que o ensino voltado para os adultos apresenta muitos desafios. "A maior parte dos nossos alunos passou a vida toda sem ter acesso ao aprendizado correto e, por isso, sente muita dificuldade", lamenta. Os alunos mais velhos aprendem através de módulos e se encontram apenas duas vezes por semana.
No caso dos adultos, a procura pelo estudo ocorre em função da cobrança que as empresas exercem sobre os funcionários surdos. Sueli revela que quase todos os alunos da instituição estão empregados. No entanto, observa que os deficientes são contratados devido a exigências legais, não por uma questão de responsabilidade social. Para a professora, o desinteresse dos familiares é o maior obstáculo na integração dos surdos com a sociedade. Ela alega que muitas famílias preferem ignorar o problema do deficiente em vez de procurar meios para ajudá-lo. "Em geral, os parentes nem se dão ao trabalho de praticar a Libras (Língua Brasileira de Sinais)". Segundo Sueli, qualquer pessoa pode dominar a linguagem dos sinais em dois ou três anos.
De acordo com o Ines (Instituto Nacional de Educação e Integração de Surdos), o déficit auditivo, que pode ser total ou parcial, interfere diretamente na aquisição da fala e da linguagem. Apesar de ser deficiente auditiva, Juliana Cipriano também dá aulas para surdos no Ceja. Ela consegue falar sem dificuldades e compreende as pessoas através de leitura labial. Juliana conta que o papel da família foi fundamental para o seu desenvolvimento: "Meus pais sempre me estimularam a falar, não queriam que eu me comunicasse somente por gestos". A professora afirma que ter a mesma deficiência dos alunos se torna uma vantagem no processo de aprendizado. "Somente um surdo é capaz de entender as dificuldades desses estudantes".
Anexo ao Ceja, situa-se a Escola de Ensino Fundamental Rui Barbosa, principal centro de ensino em Joinville voltado à crianças com problemas auditivos. No local, há salas reservadas apenas para os surdos, onde as aulas são ministradas por professoras bilíngües. A escola também desenvolve um programa de inclusão em que os alunos com deficiência estudam junto com aqueles que não têm problemas de audição. Neste caso, uma pessoa com prática em Libras fica responsável por transmitir as lições simultaneamente à professora da classe.
Marybel Schwingel dá aulas para pessoas especiais há mais de uma década. Ela é encarregada de uma das primeiras séries do Rui Barbosa. Na classe, todos os estudantes são surdos. Segundo Marybel, as dificuldades da turma vão muito além dos problemas causados pela impossibilidade de ouvir. “Essas crianças são vítimas de males como a rubéola e a meningite, que geram inúmeras outras debilidades”. Ela lamenta que doenças possíveis de se prevenir ainda sejam responsáveis pela maior parte dos casos de surdez.
O material fornecido pela rede pública é precário. Marybel só consegue dar aula porque usa os próprios livros e dicionários. Para ela, a metodologia é o maior empecilho: “Nessa realidade, falar em inclusão é hipocrisia. Não dá para empurrar um aluno especial no meio dos demais”, alerta. A professora diz que ocorre um “modelamento” nos profissionais de pedagogia, o que termina por torná-los incapazes de lidar com crianças diferentes. Sem esconder a mágoa, Marybel também se queixa do preconceito contra os professores da rede pública: “As pessoas nos discriminam, sem ao menos conhecerem nosso trabalho”.