O rádio é, sem dúvidas, o maior contador de histórias de uma nação. Em relação às outras mídias – jornal, revista, televisão e internet –, é o mais imediato, real. Graças ao avanço da tecnologia, entre eles o celular, o repórter fala ao vivo para os ouvintes, exatamente no momento do fato, dá detalhes ambientais, captando emoções e os sons de uma cena que não pode ser mostrada. Ao completar 84 anos, no dia 7 de setembro, esta magia, gerada pelo rádio e presente no radiojornalismo, foi deixada de lado pela maioria das emissoras do Brasil.
Por radiojornalismo entende-se aquele formato de programa que inclui a hora certa, a previsão do tempo, informações municipais, estaduais, nacionais e internacionais, prestação de serviço e direitos do cidadão. Tudo apresentado com isenção pelo locutor, que pode ser um radialista ou jornalista. Isenção, como diz o jornalista Heródoto Barbeiro, é “o respeito ao contraditório, o espaço para que todos os lados envolvidos no fato tenham condições de dar a sua versão. ( ) É a busca constante do que se entende ser a verdade”.
A exemplo do Brasil, Joinville não foge a esta regra. Poucas rádios mantiveram na sua programação o radiojornalismo implantado no Brasil com o Repórter Esso, em 28 de agosto de 1941, veiculado inicialmente na Rádio Nacional do Rio de Janeiro e depois se estendendo para o Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Pernambuco. Bastava a vinheta de apresentação e as primeiras palavras do locutor para o ouvinte ficar atento: “Prezado ouvinte, bom dia. Aqui fala o Repórter Esso, testemunha ocular da história”. As pessoas só acreditavam na notícia se ela tivesse sido anunciada pelo Repórter Esso. Outro exemplo é o Grande Jornal Falado Tupi, de São Paulo, levado ao ar em 3 de abril de 1942.
Na verdade, somente as emissoras que, a partir de 1970, se reestruturaram e apostaram na segmentação, valorizando o jornalismo, mantiveram este tipo de programa. Quem fez esta escolha e soube usar as tecnologias disponíveis, como o celular, computadores e softwares para edição de áudios e a transmissão por satélite, aprimorou a forma de apresentação e deu agilidade ao noticiário, incluindo reportagens editadas e ao vivo e entrevistas no estúdio e por telefone com diversas fontes.
No Brasil, felizmente, várias rádios mantêm até hoje ótimos exemplos de radiojornalismo. Entre elas estão a Rádio Jovem Pan AM (SP), Rádio Globo AM (RJ), CBN FM (SP), Rádio Bandnews FM (SP), Gaúcha AM (RS) e Guaíba AM (RS). Todas têm em suas equipes âncoras e/ou apresentadores, repórteres, correspondentes e comentaristas de olho em todos os fatos.
Onde está o radiojornalismo?
Em Joinville, onde existem 11 emissoras – quatro AMs e sete FMs, sem contabilizar as comunitárias e ilegais, o jornalismo isento e completo praticamente desapareceu. A maioria não tem equipes de repórteres para fazer a cobertura dos acontecimentos da cidade e região. A exceção fica por conta do esforço dos apaixonados por rádio e profissionais idealistas. Um deles é o coordenador e jornalista da Rádio Udesc FM, Paulo Roberto Santhias, que, com os estagiários – um deles é acadêmico do Ielusc, contratado por meio de um convênio entre o Bom Jesus/Ielusc e a emissora – mantém na programação informativos como “Udesc Notícias”, “Repórter Udesc”, “Agenda Cultural” e “Conversa e Poesia”. Na Rádio Globo estão o apresentador do “Manhãs na Globo”, Jota Martins, e os jornalistas Charlene Serpa, com o “Globo no Ar”, e Celso Schimidt, responsável pelos informativos à tarde como o “Globo no Ar” e “Globo Cidade”. Mesmo sem poderem se deslocar pela cidade para fazer reportagens ao vivo ou gravadas, eles entrevistam as fontes no estúdio ou por telefone. Na 107,5 FM, mantida pela Fundação Assistencial e de Difusão Educativa e Cultural de Joinville (Funadej), tem o noticiário “Nova Amanhã”, apresentado pelo acadêmico do Ielusc Márcio Batista.
Nas demais rádios, os programas, autodenominados jornalísticos, se resumem em apresentadores que fazem entrevistas oficiais, com políticos, autoridades e fontes dos órgãos públicos da cidade e região, e leitura de releases de patrocinadores e notícias dos jornais e internet. Diariamente, alguns realizam pelo menos uma entrevista, feita no estúdio, mas seguindo a linha editorial do programa. Uma pena, porque quem perde nesta história são os ouvintes que precisam buscar as informações completas em outros veículos de comunicação e não no radio, onde tudo pode ser instantâneo.
Izani Mustafá, professora das disciplinas de rádio do Ielusc