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chamadas

Matéria 2549, publicada em 05/09/2006.


:Divulgação:Evandro Caetano

Da esquerda para direita: Bruno, Walmer e Coelho

Joinville, 3 de setembro de 2006, camarim do Big Bowling

Tiago Luis Pereira


— E aí, como tu conseguiu entrar?

— Quando o segurança passou, fechei a cara e fui atrás dele. Todo mundo pensou que eu era segurança também.

— Putz, e eu tive que enfrentar essa fila gigantesca que tá aí. Se bem que eu não ia conseguir passar por segurança. Tá tomando o quê?

— Red Label. Quer? Toma aí, é por conta do Bruno — Enquanto servia meu copo com uma mão, com a outra apontava para o vocalista, que se esforçava para sair na foto abraçando as quatro fãs (ele teve que fazer isso muitas vezes). — E tu, veio pegar autógrafo?

— Mais ou menos. To aqui pra fazer uma matéria pra uma revista virtual que eu trabalho. Acho que tu vai aparecer nela. Como é o teu nome?

— André... Andrezinho, é melhor. Quer um queijinho também? Tem chocolate ali. A cerveja tá ali, mas tá quente.

— O Red Label tá bom. Só falta um Red Bull. Tem aí, será?

— Tinha, mas eu tomei. Daqui a pouco alguém traz outro.

No meio daquele bolo de fãs (na maioria mulheres), bisbilhoteiros e alguns oportunistas, todos os quatro integrantes do Biquíni, de alguma forma, estavam visíveis no camarim do Big Bowling: não tinha como não ver o Bruno e o Miguel (eles têm quase dois metros de altura) a não ser quando se abaixavam para beijar alguma fã; o Coelho, desprovido de uma estatura notável, era identificado pela careca cintilante; e o Álvaro, discreto, bem menos assediado do que os outros três (será que é fado de baterista?) observava a movimentação de pé em cima do sofá, com o cotovelo apoiado no frigobar. “E o Patrick, cadê?”. No mínimo, umas sete vezes essa pergunta teve que ser respondida por alguém da produção ou pelos próprios caras da banda, mostrando que o ex-Los Hermanos (por que não consta essa informação no site do Biquíni?) e ex-Rodox não padece de nenhum tipo de receio dos fãs da banda que integra desde 2000. E onde ele estava, afinal? Não sei, ninguém sabia ao certo. Mas se me dissessem que ele havia se machucado num dos pulos frenéticos que deu em cima do palco, eu acreditaria. Walmer Carvalho, o saxofonista, Gian Fabra, o produtor, completavam a equipe que recebia os fãs. Também tinha duas pequenas figuras, de pouco mais de dez anos, cabelos compridos e nem um pouco incomodadas com a bagunça instalada: “Como é o teu nome?” Ele respondeu e eu não escutei. Tentei outra coisa: “Tu é filho de alguém da banda?” Ele fez um movimento negativo com a cabeça e apontou para o produtor, Gian Fabra. Falou mais algumas coisas, das quais só consegui entender que a outra criança que estava com ele era um amiguinho. Depois, quando notou que eu não estava entendendo nada do que ele me dizia, pegou um chocolate e saiu para o outro lado do camarim.

Era domingo, talvez por isso o show não tenha se estendido mais. Pouco menos de uma hora e meia de músicas extraídas do último lançamento da banda, o CD/DVD a vivo, de 2004, foi pouco para a maioria dos presentes. Mesmo com tempo para citações de Green Day, Red Hot Chilli Peppers e Maskavo, vários comentários pós-show continham uma queixa: “Acabou muito rápido”. Além da inconveniência da segunda-feira iminente, uma outra hipótese para o show ter sido mais curto que o esperado foi levantada pelo próprio Bruno, ainda no palco: “O produtor me ligou ainda há pouco, dizendo que o show ia começar. Eu tava me empanturrando de pizza e tive que vir correndo pra cá...” Essa sutil alusão a problemas digestivos que ele poderia vir a sentir não foi a única demonstração de intimidade entre público e banda. “Chove Chuva” teve água jorrando na platéia; “Vento Ventania” contou com o catártico momento no qual todos se agacham (a não lotação do ambiente permitiu que ninguém se machucasse) e, depois, se levantam ao mesmo tempo, num pulo só; não é que o rapaz convocado para assumir os vocais em “No Mundo Da Lua” (isso é praxe nos shows há alguns anos) não decepcionou! Demorou um pouco para ele saber o que estava acontecendo, mas, quando recebeu o microfone das mãos do Bruno, cantou o refrão inteiro sem dar vexame. E adivinhem onde o Bruno cantou “Eu sou do povo/Eu sou um Zé Ninguém”? No chão, correndo no meio do povaréu, como o mais ilustre dos “Zé Ninguéns” da noite, acompanhado de um monte de backing vocals alucinados.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.