— E aí, como tu conseguiu entrar?
— Quando o segurança passou, fechei a cara e fui atrás dele. Todo mundo
pensou que eu era segurança também.
— Putz, e eu tive que enfrentar essa fila gigantesca que tá aí. Se bem que eu
não ia conseguir passar por segurança. Tá tomando o quê?
— Red Label. Quer? Toma aí, é por conta do Bruno — Enquanto servia meu copo
com uma mão, com a outra apontava para o vocalista, que se esforçava para sair
na foto abraçando as quatro fãs (ele teve que fazer isso muitas vezes). — E tu,
veio pegar autógrafo?
— Mais ou menos. To aqui pra fazer uma matéria pra uma revista virtual que eu
trabalho. Acho que tu vai aparecer nela. Como é o teu nome?
— André... Andrezinho, é melhor. Quer um queijinho também? Tem chocolate ali.
A cerveja tá ali, mas tá quente.
— O Red Label tá bom. Só falta um Red Bull. Tem aí, será?
— Tinha, mas eu tomei. Daqui a pouco alguém traz outro.
No meio daquele bolo de fãs (na maioria mulheres), bisbilhoteiros e alguns
oportunistas, todos os quatro integrantes do Biquíni, de alguma forma, estavam
visíveis no camarim do Big Bowling: não tinha como não ver o Bruno e o Miguel
(eles têm quase dois metros de altura) a não ser quando se abaixavam para beijar
alguma fã; o Coelho, desprovido de uma estatura notável, era identificado pela
careca cintilante; e o Álvaro, discreto, bem menos assediado do que os outros
três (será que é fado de baterista?) observava a movimentação de pé em cima do
sofá, com o cotovelo apoiado no frigobar. “E o Patrick, cadê?”. No mínimo, umas
sete vezes essa pergunta teve que ser respondida por alguém da produção ou pelos
próprios caras da banda, mostrando que o ex-Los Hermanos (por que não consta
essa informação no site do Biquíni?) e ex-Rodox não padece de nenhum tipo de
receio dos fãs da banda que integra desde 2000. E onde ele estava, afinal? Não
sei, ninguém sabia ao certo. Mas se me dissessem que ele havia se machucado num
dos pulos frenéticos que deu em cima do palco, eu acreditaria. Walmer Carvalho,
o saxofonista, Gian Fabra, o produtor, completavam a equipe que recebia os fãs.
Também tinha duas pequenas figuras, de pouco mais de dez anos, cabelos compridos
e nem um pouco incomodadas com a bagunça instalada: “Como é o teu nome?” Ele
respondeu e eu não escutei. Tentei outra coisa: “Tu é filho de alguém da banda?”
Ele fez um movimento negativo com a cabeça e apontou para o produtor, Gian
Fabra. Falou mais algumas coisas, das quais só consegui entender que a outra
criança que estava com ele era um amiguinho. Depois, quando notou que eu não
estava entendendo nada do que ele me dizia, pegou um chocolate e saiu para o
outro lado do camarim.
Era domingo, talvez por isso o show não tenha se estendido mais. Pouco menos
de uma hora e meia de músicas extraídas do último lançamento da banda, o CD/DVD
a vivo, de 2004, foi pouco para a maioria dos presentes. Mesmo com tempo para
citações de Green Day, Red Hot Chilli Peppers e Maskavo, vários comentários
pós-show continham uma queixa: “Acabou muito rápido”. Além da inconveniência da
segunda-feira iminente, uma outra hipótese para o show ter sido mais curto que o
esperado foi levantada pelo próprio Bruno, ainda no palco: “O produtor me ligou
ainda há pouco, dizendo que o show ia começar. Eu tava me empanturrando de pizza
e tive que vir correndo pra cá...” Essa sutil alusão a problemas digestivos que
ele poderia vir a sentir não foi a única demonstração de intimidade entre
público e banda. “Chove Chuva” teve água jorrando na platéia; “Vento Ventania”
contou com o catártico momento no qual todos se agacham (a não lotação do
ambiente permitiu que ninguém se machucasse) e, depois, se levantam ao mesmo
tempo, num pulo só; não é que o rapaz convocado para assumir os vocais em “No
Mundo Da Lua” (isso é praxe nos shows há alguns anos) não decepcionou! Demorou
um pouco para ele saber o que estava acontecendo, mas, quando recebeu o
microfone das mãos do Bruno, cantou o refrão inteiro sem dar vexame. E adivinhem
onde o Bruno cantou “Eu sou do povo/Eu sou um Zé Ninguém”? No chão, correndo no
meio do povaréu, como o mais ilustre dos “Zé Ninguéns” da noite, acompanhado de
um monte de backing vocals alucinados.