Revi Bom Jesus/Ielusc

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Matéria 2419, publicada em 07/08/2006.


:Letícia Caroline

Livros de consulta interna são os preferidos

Prática de furtar livros acontece há muito tempo

Letícia Caroline


Para os devoradores de livros, entrar em uma biblioteca pode ser o equivalente a adentrar o ambiente místico entre céu e inferno. Afinal, ao se ver rodeado de clássicos, o humilde apreciador sentirá um misto de emoções. A alegria de estar às voltas com tantas obras-primas e a tristeza de não poder tê-las em sua estante pessoal. O problema surge quando a pessoa não controla o ímpeto e sorrateiramente leva um livro embora.

Engana-se quem pensa que o roubo de livros ou a bibliocleptomania é uma prática atual. Alberto Manguel, no livro “Uma história da leitura”, relata as peripécias de Conde Libri, um dos maiores ladrões de livro de todos os tempos. Sendo um homem influente e de títulos, em meados de 1840, ele conseguia entrar em qualquer biblioteca. “Armado de credenciais oficiais, vestindo uma enorme capa sob a qual escondia seus tesouros, Libri ganhou acesso a bibliotecas de toda a França, onde seu conhecimento especializado lhe permitia descobrir e colher as maravilhas escondidas”, relata Manguel. No entanto, o conde não conseguiu se conter e começou a vender as obras mais preciosas. Foi acusado e condenado, mas nessa época ele já estava na Itália, onde morreu pobre.

Na biblioteca central do Bom Jesus/Ielusc não podia ser diferente. Os gatunos também retiram livros da prateleira e não devolvem nunca mais. Os exemplares únicos — aqueles dos adesivos vermelhos que só podem ser retirados nos finais de semana — são os mais visados pelos bibliocleptomaníacos. Nesta situação, o dano acaba sendo bem maior. Geralmente essas obras encontram-se esgotadas nas livrarias, aumentando a dificuldade de restituição.

Outra maneira de extravio de livros é o empréstimo sem devolução. Apesar de entrar em contato com os “esquecidos”, às vezes, a perda é inevitável. Como no caso de uma ex-aluna de enfermagem que retirou dois livros e sumiu. Os funcionários da biblioteca não conseguiram mais manter contato com a acadêmica. “Agora esse tipo de perda vai acabar. Temos um sistema integrado com a secretaria. Se a pessoa tem alguma coisa pendente, não consegue nem fazer a rematrícula”, diz Maria da Luz Machado.

A chegada dos DVDs não passou despercebida pelos espertos olhares. Como os filmes ficavam ao alcance de todos — dentro de uma caixa, em cima do balcão — muitas obras foram perdidas. Agora, os CDs ficam guardados e só as caixas ficam fora.

O único sistema de segurança da biblioteca é o guarda-volumes. Mesmo sem bolsa, os especialistas conseguem levar livros escondidos, sabe-se lá onde. Em breve, os praticantes dessa tática levarão um susto. Isso porque, entre os investimentos para este semestre, está a implantação de detectores magnéticos na entrada da biblioteca. Assim como em livrarias e outros estabelecimentos, quem não tiver a fita desmagnetizada será importunado por um barulhinho acusador.

Desorganização, um dos problemas na Biblioteca Pública de Joinville

Na biblioteca do maior município do estado, o roubo de livros não é muito freqüente. O que mais ocorre é a depredação do acervo. Muitos alunos fazem pesquisa e não têm dinheiro para tirar xerox das páginas, por isso acabam arrancando as folhas e levando-as para casa.

Assim como no Bom Jesus, a biblioteca municipal sofre com a inadimplência e o atraso. A maioria dos livros extraviados é daqueles que emprestam e nunca mais devolvem. Mesmo com uma pessoa responsável por ir atrás dos “esquecidos”, é muito difícil encontrá-los. É comum que eles se mudem de endereço e até de cidade.

Lá, não são os livros raros ou exemplares únicos que somem. Segundo a atendente Marília Costa, os preferidos são os que tratam de espiritismo, auto-ajuda e esoterismo. A semelhança com a biblioteca do Bom Jesus/Ielusc pode ser encontrada no guarda-volumes, que também é o único sistema de segurança do local. “Temos um projeto de renovação do prédio. Nele estarão incluídos aparatos de segurança. Mas está tudo no papel ainda”, declara Marília.

Tudo está no papel, ninguém sabe informar, são coisas freqüentes na Biblioteca Municipal Rolf Colin. Foi impossível conseguir dados numéricos para esta matéria porque as pessoas que, teoricamente, saberiam fornecer as informações estavam de licença prêmio e atestado médico. Os demais funcionários não sabiam, faziam que o assunto não era com eles, ou estavam mais interessados em comer seus pastéis. Aliás, pastéis vendidos lá dentro e degustados no setor que abriga a administração e os livros raros da biblioteca municipal.

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