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Matéria 2416, publicada em 04/08/2006.


Pedro Russi se despede do Ielusc e vai para UnB

Erivellto Amaranth

Termina a era Pedro Russi no Ielusc. Certamente seria essa a manchete da imprensa esportiva, caso o “sujeito humano” em questão fosse o técnico da seleção brasileira, que acabara de deixar o cargo. Mas não se trata de um jogador de futebol, tampouco de um brasileiro. Porém, ao contrário do que a seleção canarinho desempenhou nessa última copa, o nosso professor em pouco tempo conseguiu conquistar a todos, e com uma característica bastante peculiar: seu carregado sotaque uruguaio, um verdadeiro portunhol que aos poucos foi se aperfeiçoando. "No início os alunos brincavam muito com o sotaque, mas não me importava. É uma forma das pessoas demonstrar que não estão acostumadas com o diferente", filosofa Russi.

Nascido na cidade de Paysandú, no Uruguai, Pedro Russi decidiu sair do país em 1997 para fazer um curso de especialização na Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), em São Leopoldo, a 32 km da capital gaúcha. Depois de ficar um ano por lá, retornou para casa, mas não se demorou: como gostou de estudar na universidade gaúcha, no final de 1998 decidiu voltar, dessa vez para fazer o mestrado em comunicação. Em 2002 ele já estava fazendo doutorado. “Toda chegada a outro lugar tensiona. É diferente para quem chega, e ao mesmo tempo estranho para quem nos recebe, já que cada pessoa carrega uma bagagem cultural. No meu caso, o idioma, os horários, a forma de se vestir eram outros”, explica Russi, ao lembrar de sua chegada em solo tupiniquim.

Mas, afinal: como o Russi chegou no Ielusc? Em 2003, depois que o curso de jornalismo já estava consolidado, importantes professores — contratados especialmente para montar a graduação — retornaram para suas respectivas universidades. Nessa dança de cadeiras, Alexandre Rocha, que lecionava semiótica, retornou para a Unisinos. Sabendo disso, Juciano Lacerda, já professor do Ielusc, comunicou seu amigo Pedro Russi (afinal, moravam juntos no Rio Grande do Sul) da existência da vaga. Ele enviou o currículo, foi bem na entrevista e, conseqüentemente, contratado. “O Ielusc foi a porta que me permitiu dar aulas e desenvolver os trabalhos como pesquisador. Depois fui construindo meu caminho na faculdade”, explica Russi. Ele também recorda que o idioma era uma de suas maiores dificuldades: “No início o meu sotaque era muito carregado. Tinha alunos que não entendiam, mas logo isso foi superado”.

Há mais de três anos em Joinville, Pedro Russi tem uma visão bastante crítica sobre o maior município catarinense: “O que me chamou atenção em Joinville é o efeito controle. Esta é uma cidade muito controladora. Tudo é muito supostamente visto”. Durante o período em que lecionou no Ielusc, ele trabalhou com as disciplinas de semiótica, teoria da comunicação e metodologia e pesquisa, tanto para jornalismo como para publicidade, além de estética e cultura de massa (somente para publicidade) e três seminários de monografia. Com o seminário de férias intitulado “Máscaras”, Russi navegou numa linha mais teatral, que sempre marcou o ator, ou melhor, professor em suas aulas.

O motivo de sua saída

“Se você procura uma coisa, não pode ficar na praia esperando que ela chegue”. Foi com essas palavras, do russo Constantin Stanislavski, que Pedro atribuiu o motivo de sua saída. “Foi por essa busca. Você faz determinados movimentos e acaba buscando novos caminhos”, enfatiza. Esses novos caminhos a que ele se refere estão a 1.560 km de Joinville, mais precisamente nos corredores da UnB (Universidade de Brasília), na capital federal, onde Russi acaba de passar em primeiro lugar em um concurso público. Ele conta que se preparou muito para a prova e saiu daqui com vontade de ser contratado: “Se falasse que eu participei do concurso apenas para experimentar, para ver como era, eu estaria mentindo. Não ia gastar com transporte, estadia e alimentação apenas para isso. Então estudei muito e acreditei que poderia conseguir”. Pedro também faz questão de lembrar que em nenhum momento ele foi omisso com o Ielusc: “A direção do curso esteve sempre ciente do que eu estava fazendo”.

Para entender como funciona a seleção de concurso público para uma universidade federal, Russi explica que o primeiro passo foi apresentar o currículo. Depois de analisado, acontece uma pré-seleção, na qual será definido quem irá para Brasília participar da segunda fase. Pedro foi selecionado e no dia 8 de maio se apresentou para as duas provas finais, que são eliminatórias. Na primeira, uma comissão julgadora formada por mestres e doutores de várias regiões do país sorteiam um tema para a defesa de título. Cada participante tem 60 minutos para explanar sobre o assunto. Na fase final, o pretendente da vaga tem que escolher seis dos 12 temas recomendados pela banca. Desses seis, que são divididos por duas áreas diferentes, deve-se optar por três deles. Depois desse afunilamento, é sorteado um único tema que deve ser desenvolvido em uma aula expositiva, para os alunos da própria UnB. “O tema que eu peguei foi ‘Cultura, Comunicação e Sociedade’. Confesso que senti um certo medo por ser muito amplo, mas saí de lá tranqüilo, achando que fiz o que realmente deveria ter feito”, lembra Russi. Entre as curiosidades que marcaram a extensa seleção, estava o fato de ele (Pedro Russi) ser o único estrangeiro e o mais novo participante entre os concorrentes.

Depois de duas semanas, no fim de maio, foi publicado no Diário Oficial da União uma lista prévia com os três classificados do concurso. “Os participantes tinham um prazo de até 48 horas para recorrer do resultado. Como não o fizeram, fui o selecionado”, explica Russi. Por questões legais, mesmo havendo apenas uma vaga, é obrigatória a divulgação dos outros dois melhores colocados. Agora ele aguarda a cerimônia de nomeação, que deve acontecer no final de agosto, para que o reitor da UnB assine sua posse. “Logo em seguida já começo a trabalhar como professor titular da universidade”, diz.

Na federal de Brasília, Russi vai lecionar as disciplinas de teoria da comunicação e metodologia da pesquisa para os cursos de jornalismo, publicidade e propaganda e audiovisual, além de trabalhar no campo da pesquisa e epistemologia na pós-graduação.

Os últimos compromissos de Pedro Russi no Ielusc são a participação em duas bancas de monografia, como examinador, e o planejamento de alguns trabalhos no Necom — onde desde 2004 atua como coordenador — , como a revista Rastros e o Seminário Sul Brasileiro de Comunicação. “A direção achou melhor eu não pegar nenhuma turma este semestre, já que vou ficar apenas até a última semana de agosto”, conclui. Quando perguntado se o fator financeiro pesou em sua decisão, ele foi claro: “O salário não será muito diferente. O que acrescenta é a dedicação exclusiva. Lá eu vou trabalhar 40 horas semanais, ao contrário daqui, que eram apenas 30. Mas de maneira alguma foi pelo dinheiro. A decisão foi por um projeto de vida”, enfatiza.

“O vínculo com o Ielusc não irá se perder. Nunca vou esquecer o fato de a instituição ter aberto as portas para eu construir meu caminho”, afirma Russi. “Toda separação deixa marcas, mas não fico triste por isso. Saudades eu sempre terei”, conclui. Certamente o sentimento será recíproco. Por isso a nossa manchete não poderia ser outra: Hasta luego, Russi, ou: até logo Russi.

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