Revi Bom Jesus/Ielusc

>>  Joinville - Sábado, 18 de maio de 2024 - 20h05min   <<


chamadas

Matéria 2343, publicada em 21/06/2006.


"Quem não tiver pecados que atire a primeira pedra"

concedida a Erivellto Amaranth

Osmari Fritz (PMDB) ficou conhecido em Joinville muito antes de se eleger vereador. Aos 30 anos, ele largou o sacerdócio, depois de atuar sete anos como padre na cidade. “Infelizmente o celibato é uma imposição, é um decreto que te impõe castração sexual”, desabafa Fritz que resolveu formar uma família. Hoje ele está casado e tem três filhos.

O peemedebista é mais um dos muitos políticos da Câmara que ganhou notoriedade em Joinville desempenhando trabalhos sociais na igreja. Adepto da Teologia da Libertação, Fritz atuou nas pastorais sociais e movimentos populares dos bairros Floresta e Aventureiro. Hoje, além de vereador, realiza atendimento comunitário como psicólogo. Antes de assumir a sua primeira legislatura, em 2005, trabalhou como Secretário do Bem Estar Social e na secretaria regional do Aventureiro, além de ter sido suplente na Câmara.

Durante a entrevista concedida a Revi, o vereador seguiu a linha “quem não tiver pecados que atire a primeira pedra” e procurou não dar um parecer mais pessoal sobre os casos Kalfels e Marcucci, não fazendo “nenhum julgamento de valor”. Fritz explica também que votou a favor do vereador Adilson Mariano (PT), contra a abertura da comissão processante, e reafirma a sua vocação religiosa: “Eu sou padre casado. Espero que a igreja mude a lei e eu volte para a ativa”.


Sobre o caso Lauro Kalfels, o senhor votou a favor ou contra a instalação da comissão processante? Foi tentativa de suborno na sua opinião?

Osmari Fritz: No caso específico do Lauro, e do [Adilson] Mariano, a nossa bancada do PMDB optou por isentar os dois. No Lauro não votamos, estávamos ausentes. No Mariano nós também votamos contra a comissão processante. Porque entendemos que antes de ir para uma comissão processante precisa ser discutido a questão, e ai o conselho de ética aqui na casa, que agora vai ser constituído. Discutir essa questão. Ver se ouve má fé, ou não ouve. Qual é a versão, quais são os fatos. Para gente não ficar expondo de qualquer forma. Também existem erros médicos. Eu nunca vi, ou poucos são os casos que são denunciados. Também a imprensa comete erros, então os políticos...uma coisa é erro, outra coisa é má fé, é vício. Eu não acho que o Lauro, não agiu de má fé. Penso. O problema foi todo o desenrolar que se deu nesse caso. como o Mariano também não. Ele trouxe uma questão de justiça, de dividir o salário, que os assessores aprovaram. Então nós, a bancada do PMDB, quando é uma coisa maior, nós discutimos juntos e procuramos não fazer um julgamento político, mesmo que nós podemos discordar do partido, de algumas idéias. Nós temos nos pautados aqui, todos os temas polêmicos ele discute, e se posiciona, mesmo sendo governo. Nós votamos favorável no Mariano, não estávamos na votação do Lauro. Então é uma postura de bancada, sempre nessa linha da coerência, da ética, de não ir ao sabor do vento. Eu gosto desse, ou não gosto desse. Então eu não vejo, eu acho que tem outras coisas aqui maiores, já que você está falando de imprensa. A assessoria da casa não tem nenhum concursado. Então nós precisamos urgente fazer um concurso público nessa casa para que quadros possam ser preenchidos com profissionais qualificados. Hoje são nomeados. Mesmo que não sejam parentes, mas ao meu entendimento a gente precisa rever as nomeações. Então a Câmara de Vereadores de Joinville, sim, precisa fazer concurso público para preencher cargos de nomeações.

A Revi noticiou a audiência pública que ocorreu na Câmara para discutir o caso Lauro Kalfels com a manchete: "Na segunda vereadores defendem a ética, na terça tudo não passou de um teatro", já que a sessão seguinte os vereadores simplesmente esqueceram o que defenderam na noite anterior e votaram, quase por unanimidade, contra a abertura da comissão processante para investigar o caso. Você acredita que na casa existem dois lados para uma mesma moeda?

Osmari Fritz: Cada voto é um voto, e cada postura é individual. A casa como um todo, ela abriga varias tendências, várias correntes aqui dentro. Como eu representativa, de várias tendências. Nessa questão eu não respondo pelos outros, cada um tem que responder pelo voto que deu ou não deu, pela presença ou ausência. Eu quero dizer que não estava no debate, não votei, eu estava fora, e estou declarando para você, é a primeira vez que me perguntam como eu me manifestaria. Então da mesma forma que nos manifestamos favorável ao Mariano, estaríamos nos manifestando em relação ao Lauro. O que nós precisamos é de uma imprensa vigilante, atuante, e de que todos nós colocamos a mão na nossa consciência e dizer que há falhas. A falhas na imprensa, o poder público aqui, é o legislativo tem, a igreja tem escândalos, todos né? Quem não tiver pecados que atire a primeira pedra. Então eu não quero fazer um julgamento de valores, e sobre a instituição quem responde pela casa é a presidência, a mesa, e nós fomos oposição à mesa, na eleição da mesa. Eu não tenho cargos na mesa, eu não tenho cargos na estrutura da casa, eu tenho aqui o meu gabinete. Então quem responde pelos atos da casa, se tem que chamar a atenção ou não é uma presidência. Cabe a essa presidência.

O senhor não acha que a presidência da casa, responsável por preservar a imagem da Câmera de vereadores, não foi omissa nessas polêmicas, como no caso envolvendo o vereador Marcucci, condenado em primeira instância pela Justiça?

Osmari Fritz: O juiz é o leitor. Na próxima eleição ele vai dizer se a conduta desse ou daquele vereador foi, merece confiança ou não. Se merece voltar para essa casa, ou ser extirpado do poder. Então eu não quero ser juiz aqui, de quem foi colocado aqui com mandado popular. Ele chegou aqui graças à democracia. Agora quem vai dizer se permeasse ou não, se vai para frente, é o povo. Então eu prefiro o juiz do eleitor, o juízo do eleitor. Eu não quero ficar aqui julgando A, B ou C. Tenho que dar conta da minha ação e da minha postura. Se eu ficar agindo e julgando os outros, eu não quero ter essa postura de juiz, mas eu acho que o juiz é o eleitor que vai decidir se volta, se não volta.

O senhor sabe o quanto o município gasta com publicidade?

Osmari Fritz: Está no orçamento, se você pegar lá os valores...

Mas o senhor não sabe?

Osmari Fritz: Saber eu sei, mas seu eu ficar dizendo pra você....é que eu disse, eu te dou o meu currículo e esses dados, você pega aqui o orçamento do ano de 2005 e 2006 você vai ter todas essas informações.

Qual é a sua opinião sobre os pesados investimentos do poder executivo municipal na divulgação das suas obras?

Osmari Fritz: Todos os governos fazem. O governo federal está fazendo uma mídia pesada. Todos divulgam as suas obras, dentro da legalidade. Eu não acredito que alguém está fazendo fora do que é legal divulgar. Eu acho que é o direito de divulgar, agora cabe a comunidade fiscalizar.

Eu gostaria que o senhor falasse de um projeto em especial que foi feio pelo senhor e teve um respaldo positivo da população?

Osmari Fritz: Nós temos vários projetos em tramitação. Eu diria para você que o projeto que mais me alegre é aquele que mais ajuda a comunidade. Eu gostaria de ver um projeto meu , que ainda não está aprovado, está nas comissões, que é a não cobrança de taxa para a religação de água. Ou seja, a pessoa carente não consegue pagar a sua taxa, corta a água. Quando ela vai ter que pagar os seus atrasados ela ainda vai ter que pagar a taxa. Então eu estou com esse projeto, de não... e outro é o direito do idoso, a questão do estacionamento rotativo. O estatuto do idoso garante 5% das vagas para o idoso, em Joinvile isso ainda não foi regulamentado. Então nós gostaríamos de ver o respeito ao idoso. Tendo seu espaço público, pra estacionar para poder se expor. Então eu tenho outros projetos, a questão do deficiente, das questões especiais, da sinalização, das calçadas. Os meus projetos todos eles são pequenos mas vão na linha do respeito à pessoa.

Quantos foram aprovados, teve algum importante?

Osmari Fritz: Ano passado nós tivemos aprovado, por exemplo, a questão do impacto ambiental, o passivo ambiental. As empresas vêm aqui, fazem a poluição, deixam o resto e vão embora. Então nós tivemos o passivo ambiental, que nem uma empresa pode fechar sem ela zerar o lixo tóxico. Nós tivemos aprovados também o projeto de certificação da madeira, ou seja, o órgão público não pode mais construir obras com madeira não certificada, porque que senão nós estamos ajudando a destruição da mata Atlântida, da Amazônia. Então também foi um projeto, o da certificação.

Eu gostaria que o senhor falasse sobre o seu projeto político futuro, se o senhor tem interesse...

Osmari Fritz: Na verdade, eu sou padre casado. Espero que a igreja mude a lei e eu volte para a ativa, eu brinco que estou na reserva. Então eu não sou político profissional. Estou na política como estaria no sacerdócio. Eu não sou carreirista nem profissional. Agora eu tenho sonho sim, de que a minha igreja católica mude a lei do celibato e que eu possa voltar a fazer o trabalho social que eu fazia. Que eu não precise fazer do mandato de vereador o púpito. Que eu possa ser incluído novamente na igreja, na minha igreja, porque eu tive uma opção, por uma família. Mas o meu sonho é voltar fazer para aquilo que eu me preparei, a profissão que eu optei. E ai como psicólogo também.

Mas o senhor não pensou em mudar de religião?

Osmari Fritz: Não. Não vai adiantar. Poderia ser um protesto individual. Mas, eu prefiro ficar dentro da igreja, sendo pedra de tropeço do que sair fora, e ai eu não tenho mais nada. Então eu permaneço na igreja católica questionando a lei do celibato.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.