Ao lado do telefone, na mesa polida de madeira, seis livros estavam empilhados. “Manual do Vereador”, de Casildo Maldaner; “Nada vai me intimidar”, do dinossauro da oligarquia catarinense e senador, Jorge Bornhausen; “Opinião e Debate”, de Carlito Merss; e um outro, do senador Leonel Pavan, cujo nome não pôde ser observado, graças a uma imagem de Nossa Senhora, que obstruía o título da obra. O último volume era uma publicação institucional chamada “A refundação do PFL”, partido do vereador Odir Nunes. Já em seu quinto mandato no Legislativo, Nunes foi secretário de Habitação do município, secretário distrital de Pirabeiraba e também intendente da mesma região. No governo de Esperidião Amim (PP) entre1998 e 2002, dirigia a Casan. Dentre outros cargos públicos exercidos em outros mandatos atuou como secretário e vice-presidente da Câmara de Vereadores.
Odir Nunes é natural de Vidal Ramos, Alto Vale do Itajaí. Aos 49 anos de idade, é defensor da emancipação do distrito de Pirabeiraba, onde reside, na região do Rio Bonito. Antes do primeiro mandato militava no Movimento Democrático Brasileiro (MDB, atual PMDB).
Qual o principal interesse na emancipação da comunidade de Pirabeiraba?
Entendemos que se Pirabeiraba se emancipar ela se tornará uma das cidades com a maior qualidade de vida do país, levando em conta a arrecadação. Também acredito que teríamos um crescimento mais ordenado, e tratar melhor da questão do meio ambiente, vendo que 73% da água de Joinville vêm de lá.
Sobre seu trabalho na Câmara, quais suas ações mais importantes?
Participamos de momentos históricos na Câmara. Em 1990 tive a satisfação de participar da elaboração da Lei Orgânica do município. Também participei da elaboração do Código do Meio Ambiente, do Regimento da Câmara, e agora, o trabalho mais importante desta legislatura é o Plano Diretor. O plano atual é de 1973, e acabou virando uma colcha de retalhos: emenda pra lá, emenda pra cá. A Câmara não pode mais estar a bel prazer em função de determinados interesses, mudando o Plano Diretor. Joinville é uma cidade muito difícil de administrar porque cresceu horizontalmente em vez de verticalmente.
Como assim?
Em vez de ela crescer em prédios, ela se espraiou. Foi se estendendo, daí havia os interesses das imobiliárias. Isso encarece muito para o município, porque precisa de mais linhas de ônibus, mais asfalto, mais encanamento, etc, e claro, a questão do meio ambiente. Outra coisa a ser apreciada no Plano Diretor é a questão dos distritos industriais. Deveriam existir quatro distritos industriais, um em cada zona da cidade. Porque hoje as pessoas que moram no quilômetro 4, lá no Itinga, vêm trabalhar aqui na zona Norte.
O vereador Luiz Bini possui um projeto para o distrito industrial da zona sul. Isso sai?
Sai. Já temos áreas contempladas na zona Sul para iniciar o distrito. São áreas que inclusive já estão desmatadas. Mas o que temos que fazer é limitar o perímetro urbano. O que aconteceu nos últimos anos foi uma ocupação desordenada da área urbana sobre a área agrícola. Quando assumi, o perímetro urbano passava a entrada do [rio] Quiriri. Quem diria... Nossos avós jamais imaginaram que a água seria um bem finito. Segundo um estudo de uma empresa francesa ,nós de Joinville, Barra do Sul, Araquari teremos que buscar água no rio Itapocu.
Já que estamos falando de água, como o senhor vê as recentes aparições de tainhas no rio Cachoeira? Qual sua opinião sobre o sistema Flotflux?
Tive a oportunidade de ver exemplos da Europa, porque melhor do que você receber uma mensagem é você ver. Ver vale mais do que mil mensagens. Por exemplo, a França é cortada pelo rio Sena, que era um rio poluído, e hoje eles despoluíram o rio. Vi exemplos semelhantes em Viena, na Áustria. Nesses lugares, a pesca é comum. Podemos transformar o Cachoeira em um rio Sena. Mas isso passa pela conscientização. Temos que voltar aos bancos escolares, pois as crianças, quando aprendem isso na escola, repreendem os adultos. Meu filho de 7 anos não deixa a água correndo enquanto escova os dentes, e se algum irmão dele ou eu mesmo faz isso, ele repreende. Não somos contrários ao desenvolvimento, mas temos que trabalhar um desenvolvimento sustentável. Não podemos ser tão xiitas e dizer "não, nada pode fazer", não é isso. Temos que ter um crescimento sustentável.
Sim, mas o senhor acha que o Flotflux está sendo eficiente?
Não posso dizer porque eu não sou técnico nessa área. Mas tem que ter duas ações: tem que fazer o saneamento básico, de fato, e a outra é a consciência. Quando eu era diretor da Casan, víamos que as pessoas não faziam as ligações de esgoto, e não chamavam a Casan para fazê-lo. Tivemos 78% de irregularidades nos 12% da população atendidas pelo sistema de esgoto.
Só 12% da população é atendida pelo sistema de esgoto?
É, só 12%. Não adianta termos a rede coletora e o pessoal fazer a ligação na rede fluvial. Acho que o Flotflux é interessante. Mesmo que tenhamos 100% de esgoto, temos a fuligem que cai sobre as águas. A poeira, por exemplo. Mas acho que o Flotflux não vai resolver o problema, vai ajudar. Ele deveria ser colocado nos afluentes do rio Cachoeira.
O senhor sabe quantas estações do Flotflux serão necessárias?
O projeto tem 10 estações. Está em fase experimental. A gente não pode dizer que é ineficiente, porque ajuda. Mas sozinho não resolve o problema. Mas eu também estou estudando um projeto onde se colocaria mini estações de tratamento de água nos prédios. Uma estação dessa pode reciclar água para cerca de 200 pessoas. Isso contribuiria para a despoluição dos afluentes.
Qual o custo dessas estações?
Algo perto dos R$ 11 mil.
Mudando um pouco de assunto: esta legislatura está muito difícil em relação às anteriores?
Nas outras legislaturas, víamos mais polêmicas sobre planos para a cidade. O Código do Meio Ambiente foi uma polêmica avassaladora.
Sim, mas me refiro aos casos dos vereadores Lauro Kalfels, Mariano, e outras tantas polêmicas levantadas nessa legislatura.
Bem, o Mariano foi uma rivalidade política que ele tinha, né? Mas o Kalfels não considero crime, porque ele não deu dinheiro público e não pediu nada em troca para a jornalista. Eu por exemplo, nunca dei um real para a imprensa, e também não gosto de ficar dando presentinhos.
O que é ética para o senhor?
A ética maior está na boa conduta, na moral. Eu, como pessoa pública, tenho que manter uma posição ética no meu trabalho, tenho que manter uma posição ética com você. Mas a moral depende do local, da cultura. Por exemplo, eu estava em viagem na China e lá é normal que garotos andem de mãos dadas. Mas se isso acontecer aqui, já vão falar que é gay. Não podemos discriminar as pessoas, pois cada um faz o que quiser. Mas vejo que a ética maior tem que existir na questão da imprensa, pois a imprensa é fundamental na construção da cidadania.
Temos que buscar nossos fundamentos na família, na escola e na igreja, independente da religião. O Dalai Lama, liderança do budismo, disse: "Não importa a sua religião, contanto que você seja uma boa pessoa".