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Matéria 2341, publicada em 21/06/2006.


"Fui podado pelos membros do partido"

concedida a Erivellto Amaranth

Quem chega ao gabinete do vereador Maurício Peixer (PMDB) se depara com uma imagem de Nossa Senhora na parede e uma bíblia aberta sobre uma mesinha, que também hospeda outros santos do catolicismo. Depois de passar rapidamente os olhos pelos poucos metros quadrados que separam a recepção da sala do político, o visitante menos informado percebe nitidamente a convicção religiosa do parlamentar. Participante da Renovação Carismática Católica, ele foi candidato a vereador por incentivo da própria igreja que, em 1996 usou o tema “Fé e Política”, na campanha da fraternidade para angariar nomes à eleição.

Mesmo com o apoio de Luiz Henrique da Silveira (PMDB), os 2.408 votos não foram suficientes para Peixer se eleger. Mas seu padrinho não o esqueceu. Depois de LHS assumir a prefeitura e nomear alguns vereadores para cargos de confiança do Executivo, Peixer assumiu como suplente da Câmara e em 1999, como secretário do Meio Ambiente. Embora tenha conseguido 3.608 eleitores e se elegido oficialmente em 2000, continuou na secretaria até 2002.

Peixer foi um dos muitos vereadores que ao tomar posse em 2005 mudou de partido. Na entrevista concedida à Revi ele afirmou que deixou o PMDB porque membros do partido podaram sua candidatura para a direção da Câmara, além de ser humilhado publicamente. Hoje, no PSDB, ele se orgulha de ter aprovado o projeto que proíbe a exibição das vitrines de sex shop por acreditar ser ofensiva a família.

Por que o senhor mudou de partido no momento de assumir o cargo na Câmara?

Maurício Peixer: Foi em função da situação em que eu fui colocado. Eu saí da campanha como um bem votado, e eu fui indicado pelo PMDB para ser o presidente da Câmara de Vereadores, e estávamos conversando sobre isso, mas infelizmente, fui podado pelos membros do próprio partido. Os vereadores me podaram e me constrangeram. Sofri uma humilhação muito grande, me cortaram totalmente. E até hoje, não sei porque, talvez porque meu crescimento dentro da política, dentro do PMDB, me colocava como principal candidato a deputado estadual. Não quiseram que eu assumisse nada. Ia ser vice-presidente da Câmara, também não me deixaram ser. Me podaram lá na frente da posse, no meio de todo mundo. E naquele momento, diante de tudo aquilo que penso da política, segui minha consciência.

O senhor não é a favor da fidelidade partidária?

Peixer: Eu penso o seguinte: minha primeira fidelidade é com Deus. Sou e sempre fui a favor da fidelidade partidária, desde que exista uma ideologia, desde que exista um programa para ser seguido. Os partidos hoje infelizmente não têm ideologia, não levantam, não defendem mais uma bandeira. Defendem interesses próprios. E não estou falando de um só, estou falando de todos. O único que todo mundo pensava que tinha uma bandeira, que defendia as causas e que ia em frente, infelizmente, vemos que não está na mesma posição, já se quebrou também, que é o PT. Isso falo abertamente. Sempre admirei o Partido dos Trabalhadores pela ideologia. Não concordo com muitas coisas que eles têm de ideologia, mas respeitava pelo posicionamento. Infelizmente isso se quebrou. Os outros partidos, devido a mudanças, perderam a ideologia. O que não concordo são as coligações com interesses próprios. Acho que temos que ter coligações de idéias. Por exemplo, vejo que cada partido deva lançar seu candidato para presidente e governador em nominata própria. Porque é pra isso que se faz partido: para defender suas idéias. Quando vai para o segundo turno, se aproximam as idéias e os programas de governo. Aí se juntam para poder um ganhar, mas não no primeiro turno.

O senhor acha saudável a Câmara de Joinville ter mais de 90% dos vereadores na bancada da situação?

Peixer: Tem uma frase, que infelizmente não me lembro de quem é, que diz o seguinte: quando se elege um governo, traz consigo a oposição. Então a oposição é necessária. Ela tem que existir para que haja um equilíbrio. Então acho necessário e essencial uma oposição. Crescemos quando há uma crítica construtiva, quando há alguém cobrando. Quanto à quantidade de oposição, quem vai decidir não somos nós, é o povo que define na escolha. Quando ele vota. São as pessoas que fazem a votação que vão escolher, se vão ser de oposição ou de situação.

O senhor votou a favor ou contra a abertura do processo envolvendo o Lauro Kalfels?

Peixer: Veja bem, não me inteirei no início do processo, depois procurei saber mais do que tinha acontecido. Conversei inclusive com o vereador Lauro. Ele me explicou porque aconteceu aquilo. E era um dinheiro pessoal, particular. Não era dinheiro público. Um valor dele, que ele deveria comprar um presente para alguém. Acho que não foi correta a atitude de dar um presente em dinheiro para a pessoa, porque vejo que o dinheiro corrompe. Então ela entendeu como suborno.

Mas o senhor acha que essa não foi à intenção dele?

Peixer: Pelo o que ele passou pra mim, não. Eu prefiro acreditar naquilo que ele me falou. Ele disse que essa não foi a intenção dele, de comprá-la. Até ela depois confirmou que ele não pediu nada em troca. Mas vejo que é errado também, e eu nunca dei presente para jornalista ou quem quer que possa fazer a imagem da gente. Nunca paguei ninguém, sou contra e até apareço muito pouco na imprensa. Agora quando eu votei, até pedi pra ele no dia seguinte: olha, Lauro, eu acho importante que se deixe abrir o processo para que você seja absolvido, e quando for absolvido isso morre, acaba o caso. Ele achou que não, o grupo achou que não, dizendo que iria aproveitar da situação, o pedido de investigação, para explorar isso negativamente. Como foi explorada, muito forte, essa questão dele pela imprensa. Então eu votei por não abrir o processo, de acordo com a escolha da bancada governista.

E o projeto do nepotismo? O senhor votou a favor ou contra?

Peixer: Eu me abstive por dois pontos: fui muito criticado nisso, e não tive oportunidade de me explicar. Apesar de eu ter explicado no meu discurso o porquê. Quando o vereador Adilson Mariano entrou com o projeto contra o nepotismo, eu conversei com ele e fui co-autor do projeto. Conversei com ele para termos um avanço no projeto. Existe um projeto a nível federal, que estava em fase final, para botar em discussão na Câmara Federal. Conversamos para aguardar esse processo ser discutido lá. E ele concordou. Depois ele conversou comigo novamente e pedi para ele: Adilson vamos colocar para frente, que eu sou presidente da comissão. Só que o projeto dele estava muito radical. Porque o projeto dele previa até a contratação de uma empresa que prestasse serviços para a Prefeitura. Eu acho que isso era um exagero, então eu disse para ele: em vez de a gente querer ganhar tudo, o que a gente faz: fazermos por parte. Então a gente entraria com uma emenda proibindo parentes de primeiro grau e segundo grau. Já era um avanço para a cidade de Joinville. E isso ele concordou. Mas de repente ele disse: tudo ou nada. E eu pensei em negociar isso com a bancada governista, tanto é que apresentei a proposta de não poder parentes de primeiro e segundo grau e que não houvesse também a contratação cruzada. Mas foi rejeitado, não foi aceito. Então no dia da votação, fui lá e disse para todos que não estava preparado e que não me sentia à vontade para votar. Então me abstive e não votei.

O senhor votou a favor ou contra a comissão processante envolvendo o Mariano?

Peixer: Eu votei favorável a abertura da comissão processante porque entendo que no caso do vereador Adilson Mariano, houve um caso de gabinete. O assessor dele, ai sim é dinheiro público que está envolvido, porque cada um recebe da Câmara de Vereadores. E há uma distribuição igualitária dos salários. No direito que nós vivemos hoje no Brasil é ilegal. Por exemplo, se eu tenho aqui no meu gabinete, um assessor de imprensa e um motorista, eu não acho justo, até por uma questão de valorização, ambos ganharem a mesma coisa. Então por isso eu achei que não estava correto. Alertei também para a questão de imposto de renda, que também podia ter algum problema com o fisco. E tem que ver com a Câmara de Vereadores. Porque se houver um processo trabalhista, quem vai resolver vai ser a casa. Então nós votamos, mas no momento eu disse o seguinte: que nós teríamos que abrir a investigação e apurar muito rapidamente. Se houvesse uma indicação do nosso jurídico que não teria como fazer a punição, que poderia pedir para voltar a funcionar da mesma forma. E o que eu queria exatamente aconteceu. Houve uma investigação muito rápida, um posicionamento jurídico pra questão, e foi votado. Tanto é que o vereador declarou que acabou a distribuição igualitária dos funcionários dele.

Teve algum projeto de lei seu, que foi votado e teve um respaldo positivo da sociedade?

Peixer: Bem, eu apresentei alguns projetos de lei importantes para a cidade e outros que ainda estão tramitando na Câmara de vereadores. Um deles, e eu acho até que não foi bem interpretado, foi o da exposição do sex shop. Eu estive na Holanda, e fiquei abismado com a exposição aberta, nas ruas de Amsterdam. De mulheres seminuas, passando por crianças, mães e tudo mais. Fui para São Paulo e vi a exposição de figuras de sex shop nas vitrines. Vi coisas assim que eu acho que para família não é bom. As crianças não estão preparadas para verem isso. Então por isso eu proibi a exposição de vitrines de sex shop em Joinville.

O que o senhor acha de conviver com um detendo dentro da Câmara de Vereadores?

Peixer: Primeiro o seguinte: ele está aqui na Câmara, ele foi eleito com a representatividade dos votos. Não me cabe julgar. Eu não sei do processo dele. Enquanto ele não for julgado em última instância, eu particularmente não posso fazer julgamento nenhum. Eu convivo com ele aqui. Já até tivemos problemas, divergências em plenário, mas não é por isso que eu vou descriminá-lo, deixá-lo de lado. Agora é lógico, que lá fora as pessoas perguntam pra gente: porque esta lá uma pessoa presa, que foi condenada? O que eu digo é o seguinte: primeiro ele ainda não foi condenado, perdeu um processo em primeira instância e ele está recorrendo. Segundo, a mesa diretora não pode ter cassado porque ainda não foi condenado.

O que o senhor acha dos pesados investimentos públicos do poder executivo para a publicidade?

Peixer: Primeiro que é uma coisa legal. Eu acho que dentro da lei tem que ser feito a publicidade sobre as obras do governo, então já é uma questão legal. Cabe ao vereador é fiscalizar.

O senhor pretende disputar algum cargo público nesta eleição?

Peixer: Eu me coloquei como pré-candidato para deputado estadual pelo PSDB. Estou fazendo campanha, estou fazendo planejamento de campanha. Estou correndo o estado todo. Tenho uma situação boa aqui em Joinville. Isso faz com que eu possa fazer uma campanha livre e sem depender de ninguém. Não sou ligado a nenhum grupo econômico, nem do grupo político, então eu estou indo para a campanha de deputado estadual. O meu projeto atual é esse. Eleito, nós vamos fazer um planejamento para frente. Se um dia eu puder, eu quero ser deputado federal porque eu entendo que lá, em Brasília, é que realmente fazem as leis. É lá que mudam as coisas todas. Eu sou contra o aborto, vou lutar sempre por isso. Eu sou contra a união civil de pessoas do mesmo sexo, a violência e valorização da vida. Acho que tem que respeitar sim, cada um, mas não que fira a liberdade do outro.

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