O banheiro feminino em nada difere do masculino. Ainda não sei, como homem
algum sabe, o porquê de elas irem juntas ao banheiro – coisa que nós não nos
dispomos a fazer. De diferente, só a ausência dos urinóis e as inscrições nas
portas. Se analisadas as plantas como um espelho, no bloco A, o mictório reflete
uma cabine para deficientes físicas e no bloco C, duas cabines. Os dois têm o
mesmo cheiro típico, o das mulheres não é mais cheiroso e não aparenta ser menos
feio, só tem mais espelhos.
Entrei de cabine em cabine, sentei-me de vaso em vaso, na esperança de me
deliciar com as coisas exteriorizadas nas portas. Triste ilusão. Nada de
surpreendente. Elas escrevem poemas, assinam seus nomes e, principalmente,
lembram de música e de religião dentro do cubículo – coisas não praticadas pelo
clube do bolinha. Não é difícil ver “Jesus” dividindo a porta com bandas como
“Green Day” ou “Coldplay”.
O que tem de mais revelador no banheiro feminino são os fatos. A zeladora de
38 anos Venilda Spiler Se afirma que elas fazem muito mais sujeira que eles –
vítimas de chacota por “errarem a mira” e sempre deixar respingar algo no
assento. Tal fato justifica a separação dos banheiros por sexo: as mulheres
necessitam de um banheiro especial, já que se sentam para urinar. Contudo, a
regra é diferente no Ielusc. Talvez seja por isso que elas disponham de mais
pias: das 31 no Ielusc, 17 são só delas. Elas têm 19 dos 32 vasos sanitários, e
até direito a um chuveiro no bloco C. É numa mistura de lástima com divertimento
que Venilda relata o dia em que uma aluna sujou todas as paredes do cubículo de
forma inexplicável. “Não sei se ela estava com dor de barriga ou o quê, mas era
sujeira no bacio, na parede, no chão”.
Quem sabia que “Drikinha ama Roberta”? ou que o professor Jacques é
lunático? Elas! Também afirmam que “Se Diabo fosse respeito, não tinha chifre”
(ou seria: se barba fosse respeito, bode não tinha chifre). A Leonardo da Vinci
foi atribuída a citação: “A doçura do mel nem sempre vale a ferroada da abelha”.
À Aids, a definição “Agora Idiota Durma Sozinho”.
Os materiais usados para escrever nas portas são os mesmos que no banheiro
masculino: canetas, canetões, corretivos e outros objetos que arranhem a
madeira. Contando com as frases citadas, são 29 o número de inscrições –
divididas em nove portas. E, para simbolizar a instituição religiosa onde são
encontradas, nada melhor do que finalizar este texto com outra mensagem
das portas: “Deus te abençoe”.