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Matéria 2333, publicada em 21/06/2006.


"Eu sou um cara extremamente legalista"

concedida a Leonel Camasão

João Luiz Sdrigotti (PMDB) está em seu sexto mandato como vereador. Foi presidente da Câmara duas vezes (1998, terminando o mandato do falecido presidente João Pessoa) e 2001-2002. Também respondeu como prefeito interino no governo Tebaldi. Atualmente, é presidente da Comissão de Obras, urbanismo e serviço público. Natural de Joinville, bacharel em direito pela Associação Catarinense de Ensino (ACE), Sdrigotti teve seu primeiro mandato em 1983. Ele nunca exerceu a profissão de advogado, mas se considera extremamente legalista.

Sdrigotti é pai de quatro filhos, casado. Para manter contato com a população, os assessores do vereador fazem visitas aos estabelecimentos comerciais, perguntando qual as necessidades da região. Após algum tempo, o próprio vereador retorna a esses estabelecimentos. No total, foram 471 visitas realizadas pelos assessores e 240 na qual o vereador já retornou. Segundo ele, apenas uma pessoa não o recebeu bem.

O senhor representa que bairro?

João Luiz Sdrigotti: Acho um tremendo erro e uma jogada dos partidos políticos para enganar a população e um erro de quem entende assim. Vereador representa cidade, todos os campos da cidade. Eu trato da educação como um todo, da saúde como um todo. Faço questão de dizer aqui: Porque que se diz que representa o bairro? Não é bairrista. É porque os partidos políticos, objetivando ganhar o maior número de cadeiras no legislativo e conquistar a maioria, colocam os representantes de cada bairro, lançado por aquele bairro. Porque aí as pessoas dizem “ah, porque esse cara é aqui do bairro eu vou votar nele”. E o bairro que não lança candidato? Não tem representante? Eu represento a cidade, e penso que todos deveriam agir assim.

Como o senhor vê quem fica pulando de partido em partido?

Sdrigotti: Eu tive um período na juventude no qual eu fazia parte do PDT, por quatro meses, porque naquele momento da história política do Brasil, eu via o Brizola [Leonel, ex-governador do Rio de Janeiro] como um grande político. Ele foi um grande político. Mas eu defendo a fidelidade partidária. Nós só vamos ter partidos sérios, fortalecidos, ideologicamente claros, quando se retomar o instituto da fidelidade partidária. Porque se não vira mecanismos de negociação. O cara se elege, sai, vai para um partido porque lhe é conveniente por “n” motivos, depois buscam outros abrigos, de acordo com seus interesses. E aí confunde a opinião pública, e demonstra que uma pessoa dessas não tem direção. Eu tenho uma tese, um pensamento. O Brasil precisa de várias reformas, mas a principal, que deveria ser a mãe das reformas é a reforma político-partidária.

O senhor é a favor da cláusula de barreira?

Sdrigotti: Sim, acho que esse seria um dos caminhos. Creio que os partidos devam ser claros com seus estatutos, com suas posições ideológicas, para que aqueles que concordam com esta ideologia, se filiem ao partido que condizer. Porque daí assim: “Eu vou votar no José porque ele parece uma pessoa de bem”. As pessoas tem que votar em um programa. Porque o partido tal vai votar no PMDB, cujo candidato é fulano, porque o programa deles, apresentado pelos meios de comunicação e discutidos em praça pública é o melhor. E este programa é que tem que ser executado fielmente. E aquela partido, com aquela pessoa que o partido indicou para presidir, para gerenciar, para executar aquele programa. Acho que aí começaria a reforma política que o país quer, e o retorno da credibilidade das instituições políticas.

Para o senhor, a relação poder-mídia é conflituosa? Ela contribui para a imagem negativa dos políticos?

Sdrigotti: Em boa parte, ela contribui para esclarecer a opinião pública, em boa parte ajuda a denegrir a imagem. É uma faca de dois gumes. Não porque os profissionais sejam mal intencionados. Não. Alguns são, porque são frutos de uma empresa jornalística, que como toda empresa, tem como finalidade o lucro. Cito o caso quando foi criado o Jornal do Município. Ali, houve um caso muito claro dos interesses da empresa jornalística, e houve um conflito onde entre o mar e o rochedo quem pagou o pato foi o marisco. É verdade. Uma boa parcela da imprensa eu considero séria, e outra parte que considero extremamente ruim.

Falando sobre a relação entre imprensa e poder legislativo, como o senhor vê as declarações gravadas sobre o caso Lauro Kalfels?

Sdrigotti: Não vi crime nenhum. Não há crime. Do ponto de vista da legalidade, não há crime. Isso eu tenho certeza e te digo isso como profissional [advogado].

O senhor votou pelo arquivamento?

Sdrigotti: Não votei pelo arquivamento. Por uma incrível coincidência, até fui mal interpretado, eu tinha oferecido um jantar para um grupo de amigos, numa recreativa de empresa, e a sessão se estendeu muito além do horário, e o requerimento estava por último, e eu devo confessar que pedi licença e me retirei. Mas eu votaria contra, assim como votei contra no caso do Mariano porque entendi que não havia ilegalidade.

Naquela gravação que o jornal A Notícia possui, em certo o momento o vereador [Kalfels] compromete até a imagem do legislativo por dizer que os outros vereadores davam “presentinhos” para a imprensa...

Sdrigotti: Não vi, não li e não ouvi a declaração, não posso tecer comentários. Só vou me ater ao texto do requerimento.

Como o senhor pode definir ética?

Sdrigotti: Eu defino a ética como o próprio dicionário define a palavra ética, não é? A ética está no respeito às leis, a moral, aos bons costumes, uma pessoa que tem ética é uma pessoa de bem.

Em comparação com as outras legislaturas, o senhor acha que está sendo muito difícil, por todas as questões que a imprensa levantou nesses um ano e quatro meses de legislatura?

Sdrigotti: Por mais que a gente se esforce, a gente nunca está 100% preparado para o que vem. Acho que a nossa Câmara avançou em relação aos anos anteriores. Para nos deslocarmos aos bairros, a Câmara disponibiliza os veículos, temos verbas de gabinete, os assessores, tudo isso contribui para que os vereadores possam desenvolver da melhor forma as suas atribuições. Mas acho que os partidos políticos deveriam, ao lançar um candidato, promover cursos de formação política, para que eles tivessem noções muito claras sobre o que é ser um vereador. Sobre o que é efetivamente legislar, de que forma fiscalizar, mas para que as pessoas estejam um pouco mais preparadas. Temos excelentes vereadores preparados aqui na Câmara. Uns mais outros menos. Entretanto, não se pode comparar essa legislatura com a anterior. Essa Câmara vive um momento diferente da legislatura anterior, e a legislatura seguinte viverá um outro momento e assim por diante.

Em relação ao caso Marcucci, se o senhor estivesse na presidência, tomaria alguma posição?

Sdrigotti: Eu acima de tudo sou um cara legalista. A nossa lei orgânica, as legislações maiores estabelecem que ninguém é culpado até que o processo transite em julgado [quando não se pode mais recorrer]. Então, a Câmara não poderá tomar nenhuma medida legal enquanto não transitar em julgado. Mesmo assim, se não me falha a memória, depois de transitado e julgado, a perda não é automática. Ainda deve haver uma comissão processante.

O caso Marcucci já está na mídia a mais de um ano. O senhor acha que isso não desgasta a imagem do legislativo?

Sdrigotti: Olha meu amigo... o que desgasta a imagem do legislativo são as ações. Não só o caso Marcucci, porque o caso Marcucci ainda não está devidamente comprovado. As pessoas podem até maldosamente fazer comentários depreciativos ao poder. Mas não me parece justo. O que desgasta o poder legislativo são os chamados mensalões, que ocorrem principalmente na Câmara maior. Se lá acontece toda essa bandalheira, com certeza o povo joga tudo na vala comum. Isso que provoca o desgaste no legislativo. Porque a pessoa liga a TV e o que ela vê? Todos os dias, escândalos e mais escândalos nos governos. Não só nesse governo, mas de forma mais acentuada neste governo. Quem é que é serio nisso tudo? E todos são jogados na vala comum. Veja o caso do Mariano, por exemplo. Agi com transparência e com imparcialidade, tendo sempre a finalidade de buscar a verdade e de estabelecer justiça. Quando o relator propôs, em seu relatório, que fosse advertido o vereador Mariano pela conduta não ilegal, mas irregular de seus assessores, eu simplesmente disse não. Porque uma advertência é uma forma de punir, porque se ele não cometeu nenhuma ilegalidade, não se pode puní-lo pelo erro de seus assessores.

Então o senhor não condena a atitude dos assessores em dividir os salários?

Sdrigotti: Não, eu não entendo nesse mérito. Eu não vejo ilegalidades. Pode haver uma ilegalidade com o fisco. Se eu recebo meu salário e quero dar “x” pra fulano eu dou. O caso Lauro. Pelo que eu fiquei sabendo, ele presenteou em dinheiro uma profissional da imprensa. Segundo ele e segundo ela, ele não pediu nada em troca. Não há crime. Não foi uma ação de corrupção. Agora, se eu dissesse “olha, estou lhe dando estes R$ 100,00...” ou 200? R$ 200,00 né? [risos] Duzentos reais... e gostaria que você desse preferência em matérias para mim, aí sim seria uma violação, mas isso não ocorreu.

O vereador Kalfels declarou que outros vários vereadores davam dinheiro para os profissionais da imprensa...

Sdrigotti: Quer dizer que se algum jornalista ou radialista depender de que eu faça uma coisa dessas vai morrer de fome. E eu não conheço. Nunca me envolvi nisso. Meu irmão, que é humorista, costuma dizer: “Luiz, como é que tú pode ser político sendo tão carrasco?”. Então assim, como figura, eu não sou um sujeito simpático. Mas é meu jeito de ser. Eu nunca vou tratar você com desrespeito, sempre vou ser firme nas minhas posições, aquilo que eu não sei eu pergunto, aquilo que não dá pra fazer eu digo “não dá pra fazer”. Eu sou um político que muitas vezes digo “não”. E também já tive casos em que as pessoas querendo discordar de mim, quiseram me vaiar. Eu parei e disse para eles: “o aplauso dos ignorantes são as vaias”.

 

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