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Matéria 2325, publicada em 14/06/2006.


"Nunca tive nenhum projeto importante aprovado"

concedida a Erivellto Amaranth

Eleito em 2000, Adilson Mariano exerce atualmente o segundo mandato pelo Partido dos Trabalhadores. Como um dos poucos vereadores de oposição à bancada governista, o parlamentar protagonizou um dos casos mais polêmicos deste ano na Câmara, após vazar na plenária que seus 12 assessores haviam feito um acordo para dividir os salários. Independentemente de cada função, todos recebiam a mesma quantia no final do mês. O fato repercutiu entre os colegas de situação, que não hesitaram em pedir a abertura de uma comissão processante para apurar legalmente as acusações. Nesse momento, o que mais se ouvia pelos corredores da Câmara e por toda a imprensa era o termo cassação. Mas a poeira baixou. Em seu discurso de defesa, Mariano alegou que, embora não seja diretamente empregado pela casa, o irmão do presidente Darci de Matos também trabalha com o chefe do legislativo municipal.

Filho de agricultores, Mariano trocou aos 15 anos o campo pelo chão de fábrica, onde começou trabalhar na Metalúrgica Dunque. Em 1989, comprou briga com o sindicato da categoria, que segundo ele estava “vendido para o patrão”. Montou uma chapa de oposição e foi eleito presidente. Ficou na diretoria até 1997, quando depois de perder a segunda candidatura para vereador, tornou-se assessor do recém-eleito Francisco de Assis Nunes, hoje deputado estadual pelo PT. Enquanto atuava no sindicato e depois como assessor parlamentar, Mariano sempre participou ativamente de trabalhos sociais na igreja católica, como pastoral da juventude, grupo de jovens, além de teatros da paixão e nascimento de Cristo. Formado em História pela Univille, também militou nos movimentos estudantis, tendo sido presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Univille.

Durante os 45 minutos de entrevista, Mariano falou sobre a polêmica envolvendo seus assessores, e também do caso Lauro Kalfels e Marcucci. Sobre os projetos de sua autoria, que ajudaram a comunidade, foi enfático ao afirmar que por ser minoria (a oposição), nunca teve nenhum projeto importante aprovado pela casa. Atualmente, prepara-se para disputar uma vaga na Assembléia Legislativa.

Você concorda que existem muitas leis injustas?

Mariano: Tem muitas leis injustas. Se lei fosse justa viveríamos na escravidão.

Mas em relação ao seu trabalho hoje na casa?


Mariano: Nós fomos vítimas de uma comissão processante porque existe uma portaria na Câmara que em um gabinete, o funcionario não pode ser de uma única função. Tem que ter oito funções, cada função com um tipo de atividade e um tipo de remuneração. Definimos que todos que estavam aqui, fazendo trabalho interno ou externo, tinham o mesmo valor e a mesma importância, e os assessores colocaram em discussão de que era importante que todos ganhassem salários iguais. Praticamos isso e a Câmara nos impediu de fazê-lo, então fizemos a contratação dentro dos níveis e isso que gerou problema agora. A lei não permitia salário igual, os assessores optaram entre eles por fazerem isonomia. E isso acabou culminando de eu ter quase a cassação do mandato.

Quem levantou essa questão?

Mariano: Foi uma matéria que saiu no A Notícia, relatando esses procedimentos dos assessores. E aí, algumas pessoas com interesse, que sabe-se das quais, utilizaram essa matéria para pedir nossa cassação. É um exemplo de lei que não permite a isonomia.

Como foi resolvido? Existem casos parecidos?

Mariano: Na Câmara desconheço casos parecidos. Existem informações de outros tipos de práticas, de um vereador contratar por um nível e exigir, depois que a pessoa recebe o salário e repasse uma parte para o vereador. É um absurdo e é diferente do nosso processo. Foi uma discussão dos assessores que eles decidiram por eles mesmos, por vontade deles, que como exerciam a mesma atividade fariam a isonomia salarial.

Na sua defesa você se referiu ao presidente da Câmara...

Mariano: Não é igual. O irmão do presidente da Câmara atua na casa a serviço do presidente. Ele paga do bolso dele para o irmão. Não tem vínculo na Câmara. E usamos esse argumento. E o caso do Kalfels que foi arquivado também.

E o caso Kalfels, qual sua opinião?

Mariano: Quando você oferece uma coisa para o jornalista que, coincidentemente, escreve sobre política, fazendo reportagens sobre os vereadores da casa, e você presenteia essa jornalista, mesmo que não peça para ela amenizar quando escrever sobre você, fica implícito esse recado. Porque querendo ou não essa pessoa vai lembrar que recebeu R$ 200 na hora de escrever a matéria. E será que isso não vai influenciar? Eu penso que sim. Mesmo que ele disse que não tinha pedido nada em troca, mas no subconsciente da jornalista, se ela recebesse, estaria levando isso em conta. Então, é um suborno velado. Por que não presenteou a pessoa que leva um cafezinho e o vigilante? Por que a jornalista que escreve sobre política e sobre a Câmara de Vereadores?

Quando aconteceu isso, ele disse inclusive que era uma prática comum entre os vereadores da casa. Mas não disse quais vereadores ou quais jornalistas.


Mariano: Foi justamente por isso que votei favorável à abertura da comissão processante em relação ao caso. Se é comum seria pertinente se fosse dito, que a comissão fosse investigar isso. Deveria ser investigado para ver quem é quem entre jornalistas e vereadores.

Um dia antes da votação do Kalfels, vários vereadores defenderam a ética e até mesmo a conduta do Kalfels. No dia seguinte, a maioria foi contra ou não votou. Existem duas faces numa mesma moeda?

Mariano: Com certeza, somos vítimas disso. Isso aconteceu na Câmara e acontece. Na medida em que for para lado governista a gente protege, se é do lado oposicionista a gente ataca. É praticado de acordo com os interesses. Infelizmente, a Câmara deixou muito claro que usa suas avaliações de acordo com dois pesos e duas medidas.


O caso Marcucci: até que ponto afeta a imagem da Câmara e abala o poder legislativo local?

Mariano: Abala e de certa forma quebra as ilusões que o povo tem sobre esse poder. Muita gente acha ainda que esse poder resolve muita coisa. Eu estou convencido hoje de que esses poderes não resolvem a vida do povo. O que resolve a vida do povo é a capacidade de organização para lutar e fazer com que esses poderes atendam as suas reivindicações. Esse poder na verdade deixa o povo na ilusão. Sobre o caso Marcucci, temos o regimento interno na Câmara que trata dessa questão, por exemplo quando alguém comete algum tipo de crime. O regimento diz que não é possível cassá-lo sem transitar em julgado. Agora, nada impede também de qualquer eleitor poder usar o mesmo que foi usado pra mim e com o Kalfels. E poder ser usado em relação com o Marcucci, isso vai a discussão. E vai ser levado em conta o que o regimento diz sobre o transitar em julgar. Como ele ainda tem esferas de recurso é possível que permaneça na Câmara.

Por questão de regulamento o presidente da Câmara não estaria sendo omisso, já que é responsável pela imagem da Câmara e tem um detento entre os seus colegas, condenado em primeira instância?

Mariano: Eu, particularmente, não tenho interesse nenhum em me meter nessa situação. Acho que como você colocou, quem preza muito pela imagem do poder é o presidente do poder, entre outros vereadores. Acho que vivemos num estado burguês. Onde as instituições, Câmara, Prefeitura são burguesas. Então aí, para reproduzir o status quo e o poder da burguesia. Agora, quem tem preocupação com o poder, que tome então a atitude de avaliar. Não vou me preocupar com isso porque estamos aqui justamente para romper com a ilusão do povo. E cada vez mais o povo tem percebido que não basta acreditar em vereador ou prefeito. É preciso se mobilizar, se organizar e botar essa gente na pressão a atender as reivindicações. E essa é minha linha e o meu entendimento e eu estou aqui para ser um ponto de apoio dos trabalhadores dentro desse poder.

Qual sua opinião sobre os investimentos do governo em publicidade, tanto na esfera municipal como na federal, inclusive, com o presidente Lula do seu partido?

Mariano: Em todas as esferas, esse tipo de investimento é um valor grande do orçamento, que é investido nisso que é público, acho que é descabido. Evidentemente que tem algumas informações obrigatórias que você está informando a população. Agora, o que a gente tem percebido é propaganda com vistas a eleições. Botar a imagem daquele que governa. Todos os casos. Uma propaganda exacerbada de obras que não tem porquê. Se você utiliza todo o recurso público para fazer obra, a obra por si só é uma propaganda, você não precisa investir em publicidade para divulgar aquilo que utiliza. E a gente não pode esquecer também que o espaço da comunicação é um espaço de muita corrupção. O caso de Duda Mendonça, do Benhur. Então, paira uma série de irregularidades nas questões de investimento de publicidade. Ou seja, o investimento de publicidade é um dos meios de tirar dinheiro do povo e sabe lá botar onde esse dinheiro. Além de propagar a imagem do administrador é um tipo de gasto que você não consegue mensurar.

Quais as maiores dificuldades e pressões que você sofre no mandato?

Mariano: Na verdade, as pressões vêm do poder econômico da cidade. Temos algumas lutas no nosso mandato que assumimos desde o início. A questão do serviço público, estamos sempre na defesa do serviço público, que somos contrárias à privatização do serviço público e quando a gente bate nisso a gente bate na questão do lixo, na questão da Engepasa, Transtusa e Gidion, companhias águas de Joinville que foi terceirizada para Engepasa também. A defesa do serviço público permanentemente público, inclusive, executada por empresa pública é uma questão que a gente bate. E isso, de certa forma, afeta o interesse do poder econômico da cidade. Como a gente se coloca na defesa dos trabalhadores isso também afeta os interesses da classe patronal e também tem todo o tipo de ação para tentar nos amedrontar. Não tenho dúvidas que essa  comissão processante teve o intuito de tentar nos fazer recuar e nos adaptar para a gente parar de incomodar. Então há a pressão do poder econômico e dos próprios membros do poder legislativo descontente com a nossa postura e com nossa prática. Porque quando você está num poder e você tem uma postura diferente dos demais, você expõe o poder e isso gera uma pressão do outro lado. Mas o espaço do parlamento é isso mesmo, é um espaço de pressão e eu estou aqui para me dobrar para apenas uma pressão: a pressão da classe trabalhadora, que foi quem me elegeu. As outras pressões eu vou bater de frente porque eu não estou a fim de me dobrar a elas.

Quais as votações mais polêmicas de que você participou?

Mariano: Constantemente fizemos muitas votações contrárias na Câmara. Quando você coloca o público a serviço do privado somos contrários. Já teve projetos de doação de terreno público para Acij (Associação Comercial e Industrial de Joinville). Um absurdo. A Acij tem dinheiro para tranqüilamente comprar um terreno e fazer sua sede, no entanto essa casa doou um terreno público e fomos contra. A questão do nepotismo: propusemos e fizemos o debate, a do passe livre ao estudante, a do transporte coletivo, que quando os ônibus tiverem sua vida útil terminada fossem doados ao poder público, já que foram pagos pelo dinheiro da tarifa pelo povo de Joinville. É um projeto que deve dar uma certa polêmica. Nossa posição dentro da Câmara tem sido nesse sentido de que aquilo que é interessante para o conjunto da comunidade joinvilense, principalmente pela classe trabalhadora, nós votamos nesse lado, nem que para isso a gente tenha que ser o único a votar contra determinado projeto ou favoráveis a outros.

Existe algum projeto polêmico que acaba esbarrando nos interesses econômicos e que foram votados ou algum projeto que você acha que foi significativo, e foi aprovado?

Mariano: Na verdade, projetos relevantes para comunidade mesmo, que afetem o interesse econômico, a gente não conseguiu avançar muito. A gente teve um projeto na questão de gratuidade de estacionamentos em shoppings, que nós conseguimos aprovar, o prefeito vetou e os vereadores se dobraram à vontade do prefeito. Foi uma pressão dos donos do estacionamento. Foi um projeto que a gente bancou e que perdemos. Então os próprios projetos relacionados a transportes coletivos raramente conseguimos aprovar, porque eles votam o contrário. Estamos aprovando um que é o uso do espaço público dentro dos ônibus para fazer campanha de conscientização dos direitos da mulher. Foi aprovado mas não tem nenhum custo relevante e por isso foi aprovado. Então, nenhum projeto significante que a gente apresentou foi aprovado. A burguesia está muito bem representada aqui dentro.

Dois vereadores do PT mudaram de partido. Como fica a fidelidade partidária?

Mariano: A fidelidade partidária é o que falta, foram pessoas que entraram no partido um ano antes da eleição, usaram a sigla para se eleger e foram embora. É com certeza um problema sério. Mas outro problema sério é a própria fidelidade das direções partidárias com os programas dos partidos. Eu sou do PT e temos um programa bem definido com o qual eu concordo. Além de isso defender os eleitores, no meu caso a casa dos trabalhadores.

Que nota você daria para seu trabalho?

Mariano: Tenho me esforçado muito, mas tenho muito o que fazer. Então, eu daria 7.

E o seu projeto político futuro, você se vai ser candidato a deputado?

Mariano: Sou instrumento do coletivo. A gente tem discutido isso muito e as pessoas que atuam e participam do coletivo do mandato, tem proposto que eu saia a deputado estadual, e eu me coloco à disposição. Porque a gente é um instrumento sim, e se o povo achar que a gente está fazendo um bom trabalho vamos levar esse trabalho que estamos fazendo na Câmara também para a Assembléia.

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