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Matéria 2319, publicada em 14/06/2006.


"Escritório comunitário" propaga o assistencialismo

concedida a Erivellto Amaranth

José Cardozo (PPS), conhecido popularmente por Cardozinho, nasceu em 1962 em Ibirama, área indígena do oeste de Santa Catarina. Seu pai, Fermino Valentim, foi assassinado quando criança, deixando 16 filhos. Aos 12 anos veio sozinho para Joinville e começou trabalhar na Busscar. Em 1992, já participando dos trabalhos sociais da Igreja Católica, foi convidado para trabalhar na campanha para prefeito de Wittich Freitag (PFL), e lhe rendeu o cargo de diretor administrativo da Fundação Municipal de Cultura e Desporto (em 1995). Também apoiou à eleição de Luiz Henrique da Silveira (PMDB) para a prefeitura do município, e em 1999, foi nomeado diretor do presídio de Joinville.

Em sua segunda legislatura, o vereador Cardozinho ganhou destaque na impressa depois de contratar o seu irmão para trabalhar na Câmara. Em entrevista à Revi, que teve uma atraso de 40 minutos, ele rebateu as críticas chamando o semanário Gazeta de Joinville de “jornalzinho” por “não usar a verdade”, e alegou: “Ele [seu irmão] não era o meu funcionário, era funcionário da Câmara de Vereadores”.

O parlamentar orgulha-se de ser o único vereador em Joinville que possui um escritório comunitário para atender a população. Localizado no bairro Costa e Silva, o espaço, que inicialmente funcionou como comitê da campanha [em 2000], atende hoje cerca de 15 pessoas diariamente. Seguindo a linha do assistencialismo as pessoas pedem de tudo: “remédio, caixão, material escolar, terreno no cemitério, dentadura, tudo que você possa imaginar”.

O senhor estava presente no dia da votação para a abertura da comissão processante envolvendo o vereador Lauro Kalfels?


Cardozinho: Na votação....na votação...eu acho que foi só um vereador que foi contra. Aquilo foi um processo turbulento que entrou na casa e que ninguém processou. A mesa diretora encaminhou para o jurídico da casa. Eu vi ali, como o dinheiro, falando em R$ 200 no envelope, o R$ 200 reais não foi da Câmara, foi do bolso dele. Lógico que foi um erro dá própria assessoria, ou dele mesmo.

Mas na sua opinião, foi tentativa de suborno?


Cardozinho: Não, não. Foi um gesto de inocência, de presentear. Eu conheço o Lauro Kalfels, é do tipo meu, ele trabalhou lá na associação dos moradores, por muitos e muitos anos. Foi um líder comunitário. Tenho certeza que ele não fez nenhuma maldade com a compra. Porque ela é repórter, ela trabalha aqui na Câmara. Ele fez isso aquilo para ajudar mesmo, foi bem na época do natal.

E sobre o caso Mariano, o senhor estava presente na votação?


Cardozinho: Não estava na abertura, nem na votação. Fiz parte da comissão processante. Vimos que dentro do debate da comissão os argumentos apresentados pelo seu advogado, justificariam o encaminhamento do processo para a Procuradoria Pública. Não para uma cassação do mandato dele pelo legislativo. Foram feitos os pareceres, foi feita a defesa, do que aconteceu, através do relato da própria imprensa. Isso valia muito. Fechamos por unanimidade o processo para encaminhamento da procuradoria pública, não pela a cassação dele pelo legislativo. Eu já conversei com ele várias vezes. Principalmente o Adilson, que prega muito pela ética, pela transparência. Eu não tenho o relatório aqui, mas tem assessor que é R$ 2.200, R$ 2.500, outro é R$ 460. Do maior ao menor. Então tu podes colocar lá cinco, dez e depois divide o teu salário? Não pode isso.

Então não foi uma postura correta?


Cardozinho: Não, não foi correto. Tanto é que ele foi chamado a atenção pela mesa diretora. O próprio Ministério do Trabalho ou a própria, onde foi justificado o imposto de renda. Como é que ele pode declarar? Se eu ganho R$ 2.000, dou R$ 100 pra esse aqui, mas R$ 100 para aquele ali como é que eu vou declarar o meu imposto de renda? Eu doei para alguém? Então fica uma coisa muito complicada que a Procuradoria Pública que deveria tomar as suas providências. Então foi um processo bastante complicado, que ele mesmo deve estar arrependido do que vez.

Sobre o caso Marcucci, até que ponto isso afeta a imagem da Câmara, já que ele foi condenado em primeira instância e continua na casa?


Cardozinho: Hoje os poderes são independentes. Ele cometeu um crime no judiciário, não cometeu no legislativo. Ele não pode ser cassado no poder legislativo, no meu ponto de vista. Eu quando fui diretor do presídio, ele era delegado. Então eu acho, todos os vereadores, nesse lado a justiça tinha que fazer o seu papel. Se abriu uma regalia isso é uma determinação judicial. O juiz, o promotor tem que tomar a sua decisão. E ele, com as competências de seus advogados, recorre em todas as instâncias. Nesse lado o poder legislativo interfere pouco, a não ser uma ação popular que encaminhasse uma representação para que os vereadores tomassem alguma decisão. Isso seria notório para nós tomarmos uma decisão, mas até hoje não ocorreu.

E como o senhor analisa o nepotismo?


Cardozinho: Vejo que o nepotismo hoje, eu penso na qualidade da pessoa, da sua eficiência para atuar dentro de cada instância. Eu vou citar um exemplo bem claro, do meu caso aqui em Joinville. Eu fui malhado por um jornalzinho aí. Eu já falei na tribuna, falei na imprensa que é jornalzinho pra mim. Ele usa a maldade muitas vezes, e não usa a verdade.

É a Gazeta de Joinville?


Cardozinho: É, é a Gazeta de Joinville. Então me criticaram durante um ano. Tinha um irmão e um cunhado. Agora uma família humilde, que veio do interior, com 16 irmãos. Esse único irmão que estava aqui, que coordenou a minha campanha e estava desempregado, cuidava da parte de marketing, placas. Eu dando uma ajudinha pra ele, para manter água, luz, a mulher estava desempregada, acabou as eleições eu fui vitorioso. Quem é que não vai dar um emprego para uma pessoa dessa? Na prefeitura não, então eu coloquei na Câmara. O caso do meu cunhado é a mesma coisa. Trabalhou no meu processo, no meu gabinete. Um monte de cunhado também. Me elegi graças à Deus e a família. Hoje, se você não tiver uma família que te apóie é melhor nem sair candidato. Imagina você sendo candidato e a tua própria família te criticando, votando em outro e não em você. Então você tem que ter uma base familiar também.

Os parentes hoje não trabalham mais com o senhor?


Cardozinho: Não. Já saíram faz dois meses já.

Foi por causa da repercussão na imprensa?


Cardozinho: Não. Nós tínhamos um projeto que foi encaminhado para o Ministério Público e está lá até hoje. Foi encaminhado pela Câmara, mas foi vetado. O próprio nepotismo dentro do judiciário hoje não foi regulamentado. Hoje nenhuma instancia dos poderes estão cumprindo.

Então o senhor acredita que o importante é a competência, independente se ser parente ou não?


Cardozinho: Eu acho que a competência ajuda bastante. Lógico, tem pessoas que abusam do nepotismo. Agora quando se trata, eu pego o caso meu: uma família enorme, com vários desempregados, mas eu dei pra um o cargo. Não dei para cinco que estavam desempregados. Então eu vejo que não foi um abuso, foi uma parte que funcionou. Ele não era o meu funcionário, era funcionário da Câmara de Vereadores. Ele tinha que abrir a Câmara todos os dias às seis horas da manhã, desligava o alarme, ia para a mesa dele e fazia a parte de patrimônio. Duas horas da tarde ele batia o cartãozinho dele para ir embora. Então ele cumpria integralmente o trabalho dele. Com competência, pela mesa diretora, que ele era diretor, fizeram um bom trabalho, pra ver o apego que eles tiveram ali em cima. Tanto que pra substituir ele foi uma assessora minha que é advogada.

Qual projeto feito pelo senhor que teve um respaldo positivo da sociedade?


Cardozinho: Nós temos um que foi aprovado e eu vejo que vai dar uma repercussão na mídia, que é o teste da orelhinha para recém-nascidos. Isso aí é um projeto muito importante para a saúde na sociedade. Que é um modelo, inclusive no Paraná já existe, mas aqui em Santa Catarina ainda não. Nós temos uma lei já aprovada, que é os motoqueiros tira os capacetes antes de entrar no comércio. Tinha em média dois, três assaltos por semana. Botavam o capacete e assaltavam. Eles investiam em câmera, mas na hora de identificar, não identificava. Então eu fiz uma lei para que os comerciantes colocassem seus cartazes nas lojas pedindo para que os motoqueiros retirassem o seu capacete. Ajudou muito na segurança.

O senhor acha o passe livre viável?


Cardozinho: É, o passe-livre hoje é uma repercussão em nível nacional. Eu vejo que hoje tem que ter uma regra para quem vai usar esse passe-livre. Quando a concessionária ganha a concessão de transporte, eles têm custo, tem investimento, tem cobrança. Existe uma lei para ser cumprida. O ônibus tem que estar bom tem que trocar tem que ter qualidade, então tem que ter um bom investimento. Felizmente em Joinville nós temos uma qualidade, em vista de outras cidades que a gente visita. Então se hoje o passe-livre fosse liberado pra todos alguém vai pagar por isso. A lei já garante isso. Sou a favor, desde que, comprovadamente existem pessoas que se não tiver o transporte não pode ir para aula.

O senhor vai ser candidato nessas próximas eleições?


Cardozinho: Sou pré-candidato para deputado estadual. Já me lançaram lá em Florianópolis. Estou esperando as coligações do meu partido, em nível nacional, e estadual também, para a gente ir para a rua.

 

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