O polêmico delegado-vereador Marco Aurélio Marcucci, 39 anos, mostra-se uma
figura mais complexa do que aparenta. Nascido em Jundiaí, está em Santa Catarina
há dez anos. Antes de vir para o estado, era policial da divisão de homicídios
de São Paulo. Prestou concurso para delegado em 1995, obtendo sucesso parcial. O
vereador não quis dar detalhes, mas foi necessário que um mandado de segurança
garantisse sua vaga.
Segundo o próprio Marcucci, sua representatividade não é focada em um
bairro. “Não se faz a lei para um bairro, se faz lei para o município”. Dentre
suas leis mais polêmicas, constam algumas que prezam pela moralidade no poder
público, como a extinção da remuneração dos vereadores durante as convocações
extraordinárias. Ele também alegou que estava arquitetando um projeto contra o
nepotismo, mas desistiu quando soube que Adilson Mariano (PT) já estava com um
projeto semelhante pronto.
A figura do vereador torna-se ainda mais
enigmática por um simples ponto: sem nunca ter se candidato a nenhum cargo
público, Marcucci filiou-se ao PSDB e no mesmo ano, 2004, conquistou o maior
número de votos do partido. Segundo ele, isso ocorreu pelo fato de ser
delegado-regional. Logo que assumiu, em janeiro do ano seguinte, despontaram
diversas denúncias na mídia, o que originou um imbróglio judicial no qual ele
foi preso, solto, ficou foragido e foi preso de novo. Em seguida, ocorreu a
condenação a cinco anos e nove meses de prisão em regime fechado, que ainda não
foi julgada em todas as instâncias. O TJ (Tribunal de Justiça) negou
recentemente o pedido de habeas corpus de Marcucci, que recorrerá a Brasília.
O senhor acha que sua carreira de vereador-delegado foi um tanto
conturbada?
Marcucci: Desde as eleições não tive mais sossego. Em todos os sentidos.
Eu não era um dos favoritos.
Quais são seus projetos mais importantes?
Marcucci: Um de meus projetos mais interessantes foi o que acaba com a
remuneração dos vereadores nas convocações extraordinárias. Outro, que não foi
aprovado, pede a isenção de taxas de concurso público para os pobres. Têm outros
projetos aí. O da lan house, por exemplo, exige que as pessoas efetuem um
cadastro para que possam ser identificadas caso cometam alguma invasão de
sistema.
Como é sua relação com a mídia?
Marcucci: Até ser vereador é uma
coisa. Na política é diferente. Acho que a mídia faz o papel dela. Muitas vezes,
o que vem do jornal, é o seguinte: quanto mais polêmico, melhor. Não sou um
produto bom pra se vender (risos). Não me abalo com criticas, nunca me abalei.
Vivo sobre pressão há oito anos.
Para o senhor, a relação está mais tensa na Câmara de Vereadores?
Marcucci: Acho que essa legislatura conseguiu muitos avanços que ninguém
conseguiu. Políticos novos, eu, a Tânia, deu uma mexida.
Qual sua opinião sobre o projeto do nepotismo? Muitos colegas rotularam o
projeto como “rígido demais”.
Marcucci: Votei a favor. Não acho rígido. Inclusive, eu ia propor esse
projeto, mas ele, [Adilson Mariano, PT] o fez antes. É um projeto interessante.
Não tem mais espaço pra isso hoje na política
Hoje tem um desgasto na política? As pessoas não acreditam mais na
política?
Marcucci: Em função do que está acontecendo em nível nacional eu acho que
sim. Ter consciência e acompanhar o trabalho. O pessoal não está mais tão
manipulado pelos jornais. As eleições estão mais conscientes.
Sobre os outros projetos e casos polêmicos, como o caso Lauro Kalfels,
Mariano...
Marcucci: Do Mariano eu votei a favor da Comissão Processante (CP) por uma
questão partidária. O partido decidiu e eu acatei. Já fui contra o meu partido
várias vezes. E no Kalfes, foi como eu disse no plenário. Levei uma vaia tão
grande como nunca tinha levado. Não se tinham elementos para investigá-lo. Se
abriu a CP para arquivar. Os alunos não entendiam. Não fui eu que fiz o
regimento interno e o regimento não prevê essa situação. Como não previa a minha
situação. E o regimento interno é uma lei que tem que cumprir. Por isso votei
pra não abrir. Acho que não houve erro do Mariano também, é correto
arquivar.
Como o senhor vê sua condenação?
Marcucci: Estou em processo de recurso. Tenho recurso até Brasília. Estou
recorrendo Florianópolis depois eu vou para o Supremo [Tribunal de Justiça,
STJ]. São fatos que supostamente ocorreram e que eu nego hoje. E quando você
entra na política é assim, né. Se você não quer se incomodar vai vender carne e
açúcar na rua, pastel. Nunca tive nenhuma sindicância na minha vida
policial.
Por que o senhor entrou na política então?
Marcucci: Em função disso que falei no início. Acho que a política
brasileira é uma máfia. A política, tradicionalmente, culturalmente, veio do
passado foi feita pra cuidar das elites e perseguir as pessoas menos
favorecidas.
Um dos casos mais notórios na sua época como delegado foi a prisão do
falso “maníaco da bicicleta”, que inclusive foi veiculado em rede nacional,
destruindo a vida de um inocente. Foi o senhor que comandou a operação?
Marcucci: Eu que salvei a reputação dele [Alosísio Plosharski]. Eu peguei o
verdadeiro e tirei o mercado na pressão dele.
O senhor pretende voltar pra delegacia regional?
Marcucci: Nem estou pensando nisso.
Por quê?
Marcucci: Ah, não estou pensando.
Como é seu relacionamento dentro da Polícia Civil?
Marcucci: Estou afastado agora. Atuei muito forte na Polícia Civil, então vou
deixar o tempo mostrar as coisas. Não me preocupo com meu futuro dentro da
polícia. Vivo hoje, não estou preocupado com o amanhã. Se for para voltar eu
volto.
O senhor entrou com um mandado de segurança no seu concurso?
Marcucci: Ah, isso aí faz seis anos.
Mas o que aconteceu?
Marcucci: Fase de concurso, não tem nada a ver com isso aí. Está tudo
arquivado já.
Mas o que aconteceu?
Marcucci: Foi uma fase de concurso. Eu não poderia ser nomeado. No meu
primeiro concurso passaram só dois, daí não tinha vaga. Não tem nada a ver com o
processo, porque se for buscar no meu passado tem tanta coisa também. E com o
tempo não muda nada pra mim.
Quanto tempo o senhor está detido?
Marcucci: Desde fevereiro
Quanto tempo sumiu?
Marcucci: Um mês, janeiro.
O senhor será candidato agora?
Marcucci: Sou pré-candidato a deputado federal. Só espero que quando você for
divulgar, retrate fielmente o que eu falei. Você é jornalista e está começando a
faculdade, e muitas vezes a gente fala umas coisas e a mídia transporta as
coisas diferentes. Nunca deixei de conversar com a imprensa. E sobre meu
processo não falo com ninguém sobre isso, só mais o lado político.