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Matéria 2318, publicada em 14/06/2006.


"A política brasileira é uma máfia"

concedida a Leonel Camasão

O polêmico delegado-vereador Marco Aurélio Marcucci, 39 anos, mostra-se uma figura mais complexa do que aparenta. Nascido em Jundiaí, está em Santa Catarina há dez anos. Antes de vir para o estado, era policial da divisão de homicídios de São Paulo. Prestou concurso para delegado em 1995, obtendo sucesso parcial. O vereador não quis dar detalhes, mas foi necessário que um mandado de segurança garantisse sua vaga.


Segundo o próprio Marcucci, sua representatividade não é focada em um bairro. “Não se faz a lei para um bairro, se faz lei para o município”. Dentre suas leis mais polêmicas, constam algumas que prezam pela moralidade no poder público, como a extinção da remuneração dos vereadores durante as convocações extraordinárias. Ele também alegou que estava arquitetando um projeto contra o nepotismo, mas desistiu quando soube que Adilson Mariano (PT) já estava com um projeto semelhante pronto.


A figura do vereador torna-se ainda mais enigmática por um simples ponto: sem nunca ter se candidato a nenhum cargo público, Marcucci filiou-se ao PSDB e no mesmo ano, 2004, conquistou o maior número de votos do partido. Segundo ele, isso ocorreu pelo fato de ser delegado-regional. Logo que assumiu, em janeiro do ano seguinte, despontaram diversas denúncias na mídia, o que originou um imbróglio judicial no qual ele foi preso, solto, ficou foragido e foi preso de novo. Em seguida, ocorreu a condenação a cinco anos e nove meses de prisão em regime fechado, que ainda não foi julgada em todas as instâncias. O TJ (Tribunal de Justiça) negou recentemente o pedido de habeas corpus de Marcucci, que recorrerá a Brasília.


O senhor acha que sua carreira de vereador-delegado foi um tanto conturbada?

Marcucci: Desde as eleições não tive mais sossego. Em todos os sentidos.
Eu não era um dos favoritos.

Quais são seus projetos mais importantes?

Marcucci: Um de meus projetos mais interessantes foi o que acaba com a remuneração dos vereadores nas convocações extraordinárias. Outro, que não foi aprovado, pede a isenção de taxas de concurso público para os pobres. Têm outros projetos aí. O da lan house, por exemplo, exige que as pessoas efetuem um cadastro para que possam ser identificadas caso cometam alguma invasão de sistema.

Como é sua relação com a mídia?
Marcucci: Até ser vereador é uma coisa. Na política é diferente. Acho que a mídia faz o papel dela. Muitas vezes, o que vem do jornal, é o seguinte: quanto mais polêmico, melhor. Não sou um produto bom pra se vender (risos). Não me abalo com criticas, nunca me abalei. Vivo sobre pressão há oito anos.

Para o senhor, a relação está mais tensa na Câmara de Vereadores?

Marcucci: Acho que essa legislatura conseguiu muitos avanços que ninguém conseguiu. Políticos novos, eu, a Tânia, deu uma mexida.

Qual sua opinião sobre o projeto do nepotismo? Muitos colegas rotularam o projeto como “rígido demais”.

Marcucci: Votei a favor. Não acho rígido. Inclusive, eu ia propor esse projeto, mas ele, [Adilson Mariano, PT] o fez antes. É um projeto interessante. Não tem mais espaço pra isso hoje na política

Hoje tem um desgasto na política? As pessoas não acreditam mais na política?

Marcucci: Em função do que está acontecendo em nível nacional eu acho que sim. Ter consciência e acompanhar o trabalho. O pessoal não está mais tão manipulado pelos jornais. As eleições estão mais conscientes.

Sobre os outros projetos e casos polêmicos, como o caso Lauro Kalfels, Mariano...

Marcucci: Do Mariano eu votei a favor da Comissão Processante (CP) por uma questão partidária. O partido decidiu e eu acatei. Já fui contra o meu partido várias vezes. E no Kalfes, foi como eu disse no plenário. Levei uma vaia tão grande como nunca tinha levado. Não se tinham elementos para investigá-lo. Se abriu a CP para arquivar. Os alunos não entendiam. Não fui eu que fiz o regimento interno e o regimento não prevê essa situação. Como não previa a minha situação. E o regimento interno é uma lei que tem que cumprir. Por isso votei pra não abrir. Acho que não houve erro do Mariano também, é correto arquivar.

Como o senhor vê sua condenação?

Marcucci: Estou em processo de recurso. Tenho recurso até Brasília. Estou recorrendo Florianópolis depois eu vou para o Supremo [Tribunal de Justiça, STJ]. São fatos que supostamente ocorreram e que eu nego hoje. E quando você entra na política é assim, né. Se você não quer se incomodar vai vender carne e açúcar na rua, pastel. Nunca tive nenhuma sindicância na minha vida policial.

Por que o senhor entrou na política então?


Marcucci: Em função disso que falei no início. Acho que a política brasileira é uma máfia. A política, tradicionalmente, culturalmente, veio do passado foi feita pra cuidar das elites e perseguir as pessoas menos favorecidas.

Um dos casos mais notórios na sua época como delegado foi a prisão do falso “maníaco da bicicleta”, que inclusive foi veiculado em rede nacional, destruindo a vida de um inocente. Foi o senhor que comandou a operação?

Marcucci: Eu que salvei a reputação dele [Alosísio Plosharski]. Eu peguei o verdadeiro e tirei o mercado na pressão dele.

O senhor pretende voltar pra delegacia regional?

Marcucci: Nem estou pensando nisso.

Por quê?

Marcucci: Ah, não estou pensando.

Como é seu relacionamento dentro da Polícia Civil?

Marcucci: Estou afastado agora. Atuei muito forte na Polícia Civil, então vou deixar o tempo mostrar as coisas. Não me preocupo com meu futuro dentro da polícia. Vivo hoje, não estou preocupado com o amanhã. Se for para voltar eu volto.

O senhor entrou com um mandado de segurança no seu concurso?

Marcucci: Ah, isso aí faz seis anos.

Mas o que aconteceu?


Marcucci: Fase de concurso, não tem nada a ver com isso aí. Está tudo arquivado já.

Mas o que aconteceu?


Marcucci: Foi uma fase de concurso. Eu não poderia ser nomeado. No meu primeiro concurso passaram só dois, daí não tinha vaga. Não tem nada a ver com o processo, porque se for buscar no meu passado tem tanta coisa também. E com o tempo não muda nada pra mim.

Quanto tempo o senhor está detido?

Marcucci: Desde fevereiro

Quanto tempo sumiu?

Marcucci: Um mês, janeiro.

O senhor será candidato agora?

Marcucci: Sou pré-candidato a deputado federal. Só espero que quando você for divulgar, retrate fielmente o que eu falei. Você é jornalista e está começando a faculdade, e muitas vezes a gente fala umas coisas e a mídia transporta as coisas diferentes. Nunca deixei de conversar com a imprensa. E sobre meu processo não falo com ninguém sobre isso, só mais o lado político.

 

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