Natural de Braço do Norte, Sul de Santa de Catarina, Lauro Kalfels veio para Joinville em 1977, onde começou a trabalhar na Fundição Tupy. Anos mais tarde, começou atuar no comércio. Mas foi na igreja católica que ganhou destaque, participando dos movimentos sociais da Paróquia Imaculada Conceição no Bairro Boa Vista. Casado e pai de três filhos, ele também foi secretário regional do bairro por seis anos (1997/2003) e ao tentar pela primeira vez um cargo legislativo, transformou-se no nono vereador mais bem colocado, com 4.544 votos.
Na entrevista à Revi, Lauro Kalfels defendeu-se das acusações de tentativa de suborno e confessou que errou ao oferecer dinheiro para uma jornalista, mas disse que não deixará de presentear a quem admira. Perguntado sobre os nomes dos profissionais de imprensa que recebem seus presentes ele não quis se comprometer: “Prefiro não citar nomes. Já é mais complicado”. Ele abordou o possível caso de nepotismo envolvendo seu filho, que depois de trabalhar em seu gabinete, ganhou um cargo de chefia na Conurb (Companhia de Desenvolvimento e Urbanização de Joinville). Sobre as verbas públicas destinadas a educação e saúde, Kalfels “defende a bandeira” da pavimentação alegando que “a saúde e a educação hoje estão consumindo praticamente 45% dos recursos arrecadados no município” e faltam “praticamente 800% de pavimentação a fazer”.
O senhor representa algum um bairro em especial ou um setor específico da sociedade?
Lauro Kalfels: Como vereador represento o bairro Boa Vista, além de toda a Joinville. Mas é a minha base, é o meu reduto, é a minha comunidade. Aonde a gente vem sempre procurando desenvolver o trabalho conforme a necessidade deles. É o que estão mais próximos, é que mais cobram, é o que mais pedem. Eu tenho procurado atender dentro dessas reivindicações. A gente vê que estendem para mais bairros, onde a gente consegue resolver muitas situações e desenvolver um bom trabalho.
Por que o senhor saiu de seu partido (PSL)?
Kalfels: O meu partido, o PSL, no qual eu ingressei para disputar as eleições de 2004... Durante as eleições até que estava se reunindo quase que mensalmente, estávamos discutindo. E depois da eleição tivemos uma dificuldade muito grande, até de fazer reunião dentro do próprio partido. O presidente municipal foi para um lado, o municipal já não dava a mínima importância, e nos sentimos desrespeitados pelo nosso mandato. Nós sentimos que não estávamos sendo valorizados, sentimos que nossos interesses não estavam sendo definidos em grupo. Então, a decisão de deixarmos esse partido, tanto eu, como a vereadora Dalila, quanto o grupo de todos os candidatos desse partido, foi unânime em buscar uma sigla partidária que nos estruturasse, porque nós precisamos fazer política. Uma política sadia, uma política de integração, coletiva. Lá não estávamos tento isso.
Quantos assessores trabalham com o senhor no gabinete?
Kalfels: Hoje eu estou com 12 assessores locados no meu gabinete.
Tem algum parente trabalhando com o senhor ou no executivo municipal?
Kalfels: No início eu tinha o meu filho, que trabalha aqui comigo. Foi no início do meu mandado, na qual ele foi exonerado em julho de 2005. Aí, não pedi mais nada a ele. Inclusive pedi, cuida dos teus estudos, procura uma empresa privada, mas ele foi convidado para participar de um projeto na Conurb, o qual foi contra os meus desejos e as minhas vontades. De tanto eu persistir com ele, de que ele deveria ingressar em empresa privada e buscar um outro caminho a não ser o político, até para não caracterizar nepotismo, ele pediu demissão na Conurb. Inclusive hoje está partindo para uma empresa privada.
O senhor votou a favor ou contra o projeto do nepotismo?
Kalfels: O voto do nepotismo foi contra o projeto que apareceu nesta casa. Por entender que tínhamos que fazer a prática sim, mas de uma vez por todas acabarmos com o nepotismo. Só que essa lei é uma lei maior, entendeu? Então como o poder judiciário já tomou essa iniciativa, por decidir que nepotismo já não existia mais naquele poder, entendo que o Legislativo e o Executivo devem tomar a posição. Como a Câmara de Vereadores tomou essa decisão, eu estou acordando para que o Executivo tome a mesma decisão. Para que de uma vez por todas isso se acabe. Isso é uma prática que já vem desde os nossos antepassados, e que não é louvável, não é agradável para o homem público, que hoje está desacreditado com tanta coisa errada que vem praticando. E de fato, se constata, que é um grande cabide de empregos, de parentes, de pessoas desqualificadas e que estão ali ocupando os espaços. O poder legislativo de Joinville já tomou essa posição. Foi ótima. Espero que o Executivo tome. O poder judiciário já tomou também. Eu acho que chegou o momento de darmos credibilidades, de arrumarmos a casa, para termos a credibilidade do eleitor, da sociedade de um modo geral.
Sobre os R$ 200 que o senhor ofereceu para a repórter do Jornal A Notícia, Betina Weber. Qual era sua real intenção?
Kalfels: Veja só. É meu primeiro mandato, minha primeira legislatura. Vim e fui criado em famílias onde, em momentos comemorativos como o Natal, Páscoa, a gente se confraterniza, a gente troca de presentes. Faz isso com as pessoas que você se identifica. O caso da Betina não foi diferente. Durante o Natal presenteei muitas pessoas. Jornalistas, médicos, advogados, como também o catador de papelão, aquele que passa lá na frente de casa todo o dia. São vários. Não são um e nem dois. Eu fiz um presentinho para todos. Minha intenção foi única e pura em presentear a Betina porque, eu disse e continuo dizendo que a Betina é uma pessoa que tem um grande caminho como profissional. Porque ela é coerente, ela não desvincula as matérias, ela é uma menina que tem um potencial como imprensa muito bom. Só que o momento desse presente, que eu fui mal interpretado, com certeza. Minha assessoria falhou por ter levado o presente. Foi levado em espécie, e não era para ter levado em espécie. Aquela má interpretação acabou nessa polêmica, e eu entendo que, de fato, ela talvez, como não entendeu também e eu digo pra você que na minha profissão aqui, eu como legislador, se recebo alguma coisa nesse sentido, tomaria a mesma posição dela. Teria feito da mesma forma. Só que minha intenção foi mesmo de presenteá-la, como Betina, não como repórter. E o presente foi como Lauro e não como vereador. Só que eu fui mal interpretado, só que, enfim, isso não tira o mérito dela e espero que não tire o meu mérito.
O senhor acha que a cobertura feita pela imprensa da cidade a respeito do fato foi justa?
Kalfels: Me pronunciei na tribuna. Não procurei responder a nada. Fiz meu pronunciamento e disse da minha intenção, disse do meu interesse em dar esse presente. Que não havia intenção de forma alguma. O interesse então, era então somente, pela amizade, pela qualificação e pela vontade e pelo desejo de ter presenteado aquelas pessoas. Agora, a imprensa de modo geral, deu uma grande nota por isso tudo. Para mim foi bom. A gente anda por aí, até ouve, entende. As pessoas têm outra versão da aquela imprensa que critica, que condena.
O fato não prejudicou o senhor?
Kalfels: Não. Politicamente entendo que não se constata crime, nada pedi em troca. Isso ficou muito bem claro. E eu, de uma certa forma, o meu nome foi para uma parte da cidade que não me conhecia.
Se existisse uma possibilidade o senhor voltaria atrás?
Kalfels: Presente, eu não vou parar de dar. Eu acho que presente...a não ser que vier uma lei que proiba dar presentes. Presentear é você partilhar daquilo que você sente, ou daquele desejo que você tem de presentear uma pessoa que você gosta. Infelizmente o caso da Betina, ela é repórter e aí desvincularam as coisas. Talvez eu não teria que fazer da forma que foi feita. A minha assessoria fez da forma errada. Condenei a assessora por isso. Por ela ter feito. Eu havia pedido para que ela comprasse um presente, não só para a Betina, para mais pessoas que eu havia passado pra ela. Claro que nem todos do mesmo valor também.
Mas em espécie também?
Kalfels: Não. A única que recebeu em espécie, e que não deveria ter recebido foi a Betina. Os demais receberam presentes. Garrafas de vinho, champanhe. Receberam xícara, várias coisas assim no sentido diferente. Mas como bens materiais, não em espécie.
O senhor poderia citar nomes dos profissionais de imprensa que também recebem seus presentes?
Kalfels: É, pra você citar nomes, aí você já se complica um pouco. Quero me referir ao seguinte: todos, vários jornalistas, receberam presentes. Receberam vinho, caneca bem trabalhada. Foram vários, vários segmentos da imprensa.
O senhor não pode citar nomes?
Kalfels: Prefiro não citar nomes. Já é mais complicado.
O senhor acha que em nenhum momento houve falta de conduta ética ou moral de sua parte?
Kalfels: Bem, aí é que eu quero chegar. Se dar presente fere com a ética, com a moral, eu quebrei com a ética e com a moral. Agora se dar presente não fere com a ética e com a moral, eu estou totalmente bem à vontade nesse caso. Porque não quebrei nem a ética nem a moral. Estou muito bem com minha consciência. Em nenhum momento me condenei por isso, porque minha intenção foi aquela. Fui mal interpretado, estou tranqüilo nesse caso.
O senhor votou a favor ou contra a comissão processante envolvendo o caso Mariano?
Kalfels: A questão do Mariano, quando eu tomei conhecimento, também pelo jornal, da situação, fiquei na minha, fiquei tranqüilo, analisando ali e entendi que não havia crime. Como houve denúncia da citada situação, apurou-se para que se criasse uma comissão de investigação. Comissão não cassa ninguém, comissão apenas analisa os fatos. E como ali dizia que a Câmara poderia ser prejudicada dentro da questão da lei trabalhista, eu achava, e acho justo, que se averigúe os fatos. Mas, a comisão analisou e não constatou se há irregularidades. A Câmara pronunciou-se, passou para os órgãos competentes, para o Ministério do Trabalho, fazer as investigações e dizer se está errado ou se está certo. A Câmara simplesmente tomou as providências que deveriam tomar. A questão de cassação do Mariano, e digo para você que não havia razão, nem base para fazer isso, base fundamental para fazer isso. Então a questão da cassação é um processo totalmente diferente. Nem a CPI cassa. A CPI analisa e remete para os órgãos competentes, ou para a plenária, que é quem tem o poder de cassar ou não. Então eu já estava convencido de analisar o projeto, o processo do Mariano no caso, e entendi que realmente os advogados já falaram, não há base nem fundamento para cassação. É preciso sim, que a Câmara de Vereadores tome uma posição e diga, ´não me omiti da situação, encaminhamos´. Porque se amanhã vem acontecer alguma coisa, ou um ex-assessor do Mariano for demitido e incrimine o Mariano, não vai pagar nada, quem vai pagar é a Câmara. E com dinheiro público, que é dinheiro que temos que cuidar. Então, temos que defender sim, os 18 vereadores. Defender o poder legislativo, a Câmara de Vereadores, para que não faça mau uso do dinheiro público.
Qual a mais importante contribuição que o senhor ofereceu para a comunidade nesses primeiros meses de legislatura?
Kalfels: Olha, fico feliz quando vejo minhas moções, meus projetos sendo aceitos pelo Executivo. A moção da reforma da Praça do Espelho D'água. Ela vai ser reformada agora está para ser reformada a qualquer momento, como área de lazer para a terceira idade. Ela vai ser adequada com equipamentos para essas pessoas. Outra moção que foi acatada e que está sendo implantada é a questão dos sindicatos da Fundamas (Fundação Municipal Albano Schmidt). Nos hospitais públicos, que vejo lá aquelas pessoas jogadas, levar pedicure, manicure ou cabeleireiros para levantar a auto-estima dessas pessoas. Vejo as obras da beira-mangue começando no Boa Vista. Vejo pedidos e conquistas.
O que o senhor acha em conviver com um detento (Marcucci) entre os seus colegas? Isso não acaba afetando a imagem do legislativo municipal?
Kalfels: Bem, quero dizer que, com certeza, pode até afetar a imagem do legislativo. Só que, como o processo dele está em julgamento, trânsito, não podemos tomar nenhuma decisão aqui. Ele já perdeu a primeira instância que foi em Joinville, já foi condenado a cinco anos. Está recorrendo em Florianópolis, que provavelmente vai acatar o que veio daqui, e depois para Brasília. Se for condenado nas três instâncias, aí sim, ele não será nem cassado na casa. Simplesmente será desligado.
O senhor sabe quanto a prefeitura gasta com saúde e educação?
Kalfels: A prefeitura hoje investe 25% do orçamento, do montante arrecadado em educação. Tem mês que aplica até mais que 25%. Na saúde ela investe 15%, mas tem meses que chega a aplicar 20% do montante. Porque veja só, a gente está de fora e percebe muito bem - você monta um posto de saúde e gasta R$ 1 milhão para montar o posto. Estou citando um exemplo. Tudo bem, não é difícil. Recurso tem, se pratica, se constrói. O mais difícil, e que vira uma bola de neve na saúde, é a manutenção daquele posto. É a despesa fixa, é o servidor que está ali, é o medicamento. Hoje, da arrecadação do município, e aí que está a grande dificuldade, venho defendendo a idéia, até que tudo bem, se mantenha a verba para a saúde e educação, mas que estamos esquecendo da infra-estrutura de Joinville. Temos aí, praticamente 800% de pavimentação a fazer. A bandeira que defendo é a pavimentação asfáltica, ou com lajota, seja lá. Que se crie algum programa desse tipo. A saúde e a educação hoje estão consumindo praticamente 45% dos recursos arrecadados no município.
Seu projeto político futuro.
Kalfels: Quero cumprir meu mandato. Não tenho objetivos de chegar lá na Assembléia Legislativa, nunca pensei nisso. Meu projeto é cumprir os quatro anos.