Aos sete segundos de entrevista, a assessora do vereador Luiz Bini (PSDB) abre a porta do gabinete perguntando se foi chamada. Bini com cara de quem não está entendendo, responde um “não” como se estivesse sendo estrangulado. A conversa é bem objetiva, e ele limita-se a dar respostas simples. Natural de Pouso Redondo (SC), foi vereador duas vezes naquela cidade, de 1976 a 1988. No mesmo ano, veio para Joinville, e elegeu-se vereador em 1992, com 2.020 votos. Bini foi secretário regional do Paranaguamirim por quatro anos, e do Boehmerwaldt, por mais três. Nesse período, passou pelo PSDB e pelo PMDB. Antes, teve dois mandatos de vereador pelo PP, dois pelo PFL (sendo que renunciou ao mandato pelo PFL em 2001) e retornou ao PSDB, elegendo-se em 2004.
Antes de começar a gravar, na recepção do gabinete, Bini comentava sobre a felicidade de uma mulher da comunidade, a quem ajudara a comprar um par de óculos. Edilma Lemanhê, assessora parlamentar do vereador, se fez presente na maior parte da entrevista. Ele olhava-a, antes de responder, como se estivesse esperando sinais de aprovação ou de reprovação. Quando gaguejava demais, a funcionária intercedia em suas respostas. Questionado sobre o trabalho na Câmara, Bini faz declarações que deixam claro seu caráter assistencialista como forma de angariar votos. Além disso, demonstrava dificuldades em enumerar seus principais projetos de lei. Como se não bastasse, defendeu a prática do nepotismo no poder legislativo. Em novembro de 2005, Marina Fuzonato Bini, sua filha, foi exonerada do cargo de coordenadora da assessoria de imprensa da Câmara. Na época, Marina tinha apenas 19 anos e estava se formando no ensino médio. Segundo o vereador, nepotismo ocorre apenas quando “a pessoa não vêm trabalhar”.
Bini define, em trecho literal da entrevista, a função de vereador, os projetos de lei considerados mais importantes, e de quebra, tenta, sem muito sucesso, explicar a direção do seu mandato. Ele é pré-candidato a deputado estadual pelo PSDB, ou, em suas próprias palavras, “candidato a candidato”.
No que consiste seu trabalho na Câmara? Qual o carro-chefe de mandato?
Bini: O meu trabalho na Câmara... ah... hoje eu sou vice-líder da bancada do PSDB.
O senhor participa de que comissão?
Bini: Comissão de financia [sic] e da educação.
Como o senhor define o seu trabalho na Câmara?
Bini: Bom, o trabalho do vereador é entrar com moções, com indicações, do povo que pede pra gente, pede as indicação, o que precisa ser feito no bairro. Principalmente a gente trabalha mais na zona sul, porque sou vereador da zona ... mais da zona sul a gente é vereador da zona sul. É de Joinville nóis! Bairro Paranaguamirim, Petrópolis, a gente é da zona sul, pode botar zona sul aí. Gente entra com indicação, com os projeto, né, que o povo pede, os projeto traz pra ser aprovado pela Câmara. O trabalho do vereador é fazer projeto, é fazer lei, né, fazer lei entrar com indicações que o povo pede... E eu trabalho muito também, assim, sobre atender a população.
De que forma?
Bini: A pessoa liga pra mim, se é que precisa falar comigo, e eu vou lá falar com a pessoa. Se precisa ir na prefeitura resolver o problema dele a gente vai lá resolver o problema dele. É muita atenção nas bases, sabe. Eu trabalho mais é nas bases, né, porque eu tenho certeza que o vereador que ficar aqui na Câmara o dia todo, e ele esquecer da base, ele não se elege mais.
Então o senhor tem esse contato com a população?
Bini: Contato com a população!
Como o senhor faz isso?
Bini: Por telefone, a pessoa liga pra gente, pra ir lá na casa dele. Faz reuniãozinha, e a gente entra em contato com a população, conversa, passa, cumprimenta a pessoa vê o que precisa, faz visita. A gente vai atendendo as pessoa assim.
O senhor tem algum projeto de lei, do qual se orgulha, tenha sido ele aprovado ou rejeitado?
Bini: Por exemplo, a gente conseguiu botar uma ponte aqui numa família, certo? Um projeto também daquele tomiragista [sic], que faz aquelas bolsinhas na barriga. Como é que é o nome certo? É oto... como é que é?
Não entendi, desculpe.
Bini: Aquele projeto de onto... como é que é? Ele falou o nome lá. Fugiu da minha cabeça agora. Aquela que faz com as bolsinhas na barriga?
Ah, sim, uma sonda ali?
Bini: É sonda, é que passa férias por aí, como é que é o nome? Putz, esqueci.
Ah, eu não sei...
Bini: Puta, é um projeto que a gente tá lutando pra ser executado. Ô, Edilma [chamando a assessora]! Esqueci o nome. Me deu um branco agora.
Bini: Edilma, como é o nome do projeto da, da... esqueci ,deu um branco.
Edilma: Foi um homem lá que sumiu [referindo-se a uma pessoa que ela estava atendendo].
Bini: Da bolsinha lá...
Edilma: Ostomia.
Bini: Ostomia!
Edilma: Isso é, bolsa coletora pra ostomia.
Bini: Tem o projeto daquela ponte, né, Edilma, da ponte ali da, o, nome ali daquela... [começa a gaguejar]
Edilma: Da Calmoni, que é essa ponte nova que liga a Dona Franscisca, e a nomeação da ponte e ...Tu colocou a zona industrial, o distrito industrial da zona sul?
Bini: É, o distrito da zona sul!
Já está sendo aplicado?
Edilma: Não, nós fizemos uma moção fazendo essa reivindicação para que o município fizesse a criação de um distrito industrial na zona sul, e a resposta do gabinete do prefeito é aonde ele está encaminhando pro Ipuuj que é responsável pela fundação de zonas. E eles estão colocando pra análise no novo Plano Diretor. O Bini alega que a região sul fica desprovida de indústrias, diferente da zona norte, e a região desenvolve mais.
Bini: A gente tem também um projeto pra criar uma base policial. Por exemplo, em Joinville existe 14 secretarias regional, acho assim, que tem que descentralizar a polícia. Porque hoje tem só uma parte no centro, central, e então se descentralizasse a polícia então eu acho que se formar uma base policial em cada região da secretaria, porque daí fica tudo secretaria regional, certo. Vão dizer que são assim. Por exemplo, eu faço assim uma comparação com municípios pequenos, porque hoje Joinville é um município grande. Se fosse fazer 14 base policial, assim comparando se fosse município pequeno, que cada região daquela secretaria que a polícia tivesse 50 policial, 60, cuidar daquela área seria por exemplo como ficar em município pequeno. Porque em município pequeno não acontece quase muitas bandaiera? Porque o município é pequeno! Se fosse dividir Joinville em 14 base policial que cuidasse daquelas base policial, a polícia daí eu acredito que seria muito melhor, que não dava tanto homicídio.
[Edilma interrompe]: Porque daí a polícia já está no local para atender, assim muitas vezes a polícia demora uma ou duas horas pra chegar.
Bini: Hoje você liga pra polícia ela leva duas, três, quatro horas pra chegar na sua casa. Se tivesse a polícia lá perto da sua casa, se ligou e em cinco minuto é porta na sua casa pra pegar o ladrão, pegar o bandido na hora.
Edilma: E até acaba inibindo o ladrão a não ir ali roubar porque, “opa! A polícia tá ali, então vai vir aqui e me pegar”.
Qual a sua opinião sobre o nepotismo?
Sobre o nepotismo eu não sei, o nepotismo eu acho que pra mim o nepotismo, eu, nunca fui contra pra falar bem a verdade, porque eu acho que a pessoa...
Sua filha trabalhava aqui?
Bini: É,.eu acho que a pessoa de confiança, por exemplo assim, eu tinha uma filha que trabalhava aqui dentro, só que num trabalhava comigo, trabalhava na Câmara. Acho que a pessoa cumprindo o horário dela pra mim não é nepotismo. Não é verdade? Nepotismo é aquela pessoa que ganha sem trabalhar. Porque eu acredito que o vereador tendo uma pessoa parente dele, é pessoa de mais de confiança dele. Não é verdade? Desde a hora que trabalhando! Agora se deixar de trabalhar, aí é nepotismo. Como hoje tem muitas pessoas, no município eu acho que eu quase não conheço. Mas uns ano atrás tinha muitas pessoas que viviam sem trabalhar, não é verdade?
Na Câmara de Vereadores?
Bini: Não! Não na Câmara, como no estado como...
Funcionários fantasmas?
Bini: Funcionários fantasmas, antigamente tinha muito disso, hoje já quase não tem mais porque já foi dado muito em cima disso. Hoje tem poucos, né, mas existem algumas pessoas que ganham sem trabalhar.