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Matéria 2229, publicada em 05/06/2006.


"Quando você não tem experiência, você arrisca"

concedida a Leonel Camasão

Graduada em Pedagogia e Supervisão escolar pela Ufsc (Universidade Federal de Santa Catarina), a vereadora Carmelina Barjona supervisionou a 5ª CRE, (Coordenadoria Regional de Educação ) por 23 anos. Candidatou-se em 2000 pela primeira vez. Na época,além dela, Nelson Quirino e Clarikennedy Nunes formavam a bancada do PP. Em 2002, atuou durante dois meses como secretária adjunta da educação. Já em 2004, se reelegeu com quase 3 mil votos.
Carmelina ministra aulas na ACE (Associação Catarinense de Ensino) desde 1976, para o curso de pedagogia. São apenas quatro aulas semanais, na disciplina de Supervisão Escolar. Segundo ela, a atividade de professora é uma paixão. Aos 55 anos, possui quatro filhos que sempre lhe auxiliam durante as suas “campanhas fransciscanas”, como ela define. No próximo mês de outubro ela pretende conquistar uma cadeira na Assembléia Legislativa de Santa Catarina.


Dentro do seu trabalho na Câmara de Vereadores, quais os seus projetos que consirdera mais importantes?

Pela minha formação humanística na educação, eu procuro trabalhar projetos dentro da área social. Muitos deles trabalham com formas de inclusão de crianças e adolescentes carentes. Há outro projeto, já foi aprovado em 2003, mas que não estava sendo cumprido, que permite que pessoas com câncer em processo de tratamento andem de graça nos ônibus. A comissão de cidadania foi verificar o porquê deste projeto não foi regulamentado até agora.

Falando em gratuidade de passagens, a senhora já votou a favor do projeto de lei do passe livre. Qual a sua opinião sobre o tema hoje?

Bom, nós precisamos fazer um projeto com muito critério. Pois acho que precisa ter um incentivo para o estudante. Que não fosse totalmente livre, mas que tivesse um desconto de 50%. Já ajudaria. Eu defendo que a matéria precisa ser estudada. Falta debater o tema. Eu não sou a favor de muito paternalismo, sabe, mas a matéria é meritória. O Celso Ramos, por exemplo, que é um colégio aqui no centro, está com as salas ociosas a tarde. Porque? Porque as pessoas não podem pagar a passagem para ir para escola. E quantas mães querem que o filho estude de dia lá no bairro? Precisam colocar o filho para estudar a noite, sendo que poderiam estudar aqui [no Celso Ramos]. Se tivesse um desconto de 50%, já melhoraria. Não totalmente livre pois tem aqueles que podem pagar um pouco. Essa é a minha opinião. Também tenho um outro projeto que está tramitando. Ele prevê que seja feita uma educação para a paz. Pois hoje nós vemos um mundo muito violento. A escoca precisa trabalhar o tema “paz” com atitude. Um dia na semana onde as pessoas possam vir de branco, trabalhar a concientização, enfim, a cultura da paz.

Tratando desta questão, a senhora votou sim ou não no referendo do ano passado?

Eu votei para que não desarmasse a população, pois eu achava também muito perigoso. Mas acho que a pessoa deve ter o direito. Eu nunca tive arma em casa, mas acho que as pessoas devem ter a liberdade de escolher. Eu defendo a liberdade.

Segundo o sítio do TSE, a senhora é a vereadora que menos gastou para se eleger e obteve quase 3 mil votos. Como foi esse “aperto”?

As minhas campanhas, todas as duas, foram campanhas fransciscanas, como eu diria. As pessoas votaram na professora, na amiga, na pessoa Carmelina. Eu não tive aqueles cabos eleitorais pagos. O mais caro na campanha é contratar pessoal. Eu não tinha recursos para pagar pessoal. Então, eu contei com a ajuda dos amigos. Eu paguei o material, mas foram meus filhos, meus sobrinhos que cerraram as placas, que as penduraram nos postes. E eu também tive doação de material, me doaram 5 mil santinhos. E assim eu levei minha campanha. Eu acho que não se pode comprar votos, eu sou contrária a isso. As pessoas têm que votar no candidato por aquilo que acreditam que ele fará como seu representante.

E agora você será candidata a deputada estadual? Você é o único nome da sigla?

Serão lançados candidatos apenas eu e o Kennedy. Cogitamos lançar apenas um candidato, mas eu e o Kennedy viemos de seguimentos diferentes, e como o colégio eleitoral de Joinville é grande, decidimos pelas duas candidaturas. Sem falar também que eu represento o seguimento mulher.

Você acha que são poucas mulheres na política?

Sim, são poucas. Dificilmente se preenche a cota. Agora existem mais mulheres na vida política, mas nem sempre elas estão dispostas a aceitar esse desafio. E agora, nos últimos tempos, ficou mais complicado, devido a falta de ética dentro da política. Nós ficamos desanimadas. Eu fui muito cobrada pelos meus filhos, inclusive: “Ah, não sei o que a mãe tá fazendo, na política só tem sujeira”. Meus filhos são jovens como você, e os jovens são muito honestos, sinceros, críticos, é uma qualidade muito bonita que a gente vê nos jovens hoje. Quando eu comecei a minha carreira política, eu sentei com os meus quatro filhos para conversar e eles disseram: “Mãe, a gente tem o conceito de que político se vende a toa. Se você for entrar na política, vê se não envergonha a nossa família”.

A senhora falava de ética, corrupção em nível nacional. Como você vê essa legislatura 2004-2008, que já passou por vários casos polêmicos, como o caso Marcucci, as duas comissões processantes praticamente seguidas, o nepotismo etc.?

Pois é. Essas questões da Câmara fazem parte, pois aqui é a caixa de ressonância das reações da comunidade. Então essas questões que precisam ser resolvidas e que dependem da opinião pública, elas passam pelos que representam a comunidade, que são os vereadores.

E caso Lauro Kalfels? Qual é a sua opinião?

Foi o que eu disse naquela época, né? Foi uma atitude imatura. Ele está começando um processo com toda a empolgação. É assim que eu vejo. “Ah, eu sou vereador, eu preciso estar bem com isso, estar bem com aquilo, então eu vou agradar”. Talvez ele não teve a malícia de querer comprar a pessoa. Mas de agradar sim. Daí vem a questão: eu agrado porque? Aí vem a questão da subjetividade. Mas eu acho, pelo que eu conheço dele, porque ele é uma pessoa meio ingênua...não, não é essa a palavra porque ninguém é ingênuo...mas ele é uma pessoa simples, meio simplória, essa é a palavra. Então ele não pensou nas consequências. Ele foi impulsionado pela empolgação de ser vereador no primeiro mandato. Acho que foi falta de experiência. E quando você não tem experiência, você arrisca. De repente, faltou discutir a idéia com alguém. Eu não faço nada sem discutir com a minha assessoria, com meu marido, com meus filhos. A gente não age sozinha.

E o caso Mariano, foi algo próximo?

Bom, o caso Mariano volta na questão ética. Se você quer ter ética, você precisa de transparência na tua administração. Se você tem transparência na tua administração você pode ser vasculhado sem problema. Até é bom que se vasculhe para que se coloque a verdade, para colocar em pratos limpos, como a gente diz na gíria. Eu sabia qu não era uma proposta de cassação, e eu acho que não era motivo de cassação. Mas achei bom que se investigue. É aquela história: se tem fumaça, vamos ver se tem um foguinho, por que se for pouco, apaga. Se fosse comigo eu também diria: investigue. Em nenhum momento eu falei em cassação e não achei que fosse motivo de cassação. Depois que investigaram e viram que não era quilo tudo, arquiva. Acho que isso é uma atitude ética. Se abrir para que você possa ser bem avaliado.

 

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