Revi Bom Jesus/Ielusc

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Matéria 2222, publicada em 05/06/2006.


:Bruna Nicolao

Acadêmica dá aula de anatomia aos idosos

Relação de amizade nasceu a partir do contato entre pesquisador e objeto de estudo

Bruna Nicolao


Com andar calmo, olhos deslumbrados e disposição desafiante. Caminhavam pelo pátio do Bom Jesus/Ielusc, na última quinta-feira (dia 1º), oito senhores, entre 58 e 76 anos, risonhos e corajosos, para conhecer as dependências da instituição. A iniciativa é das acadêmicas do 9º período de enfermagem Linamar Martins e Violene Tank, que desde 20 de abril trabalham com o grupo. A visita foi a última etapa do projeto de TCC delas, intitulado “Cuidar do idoso: gênero masculino como foco do processo de educação em saúde”. O tema surgiu porque o enfoque em pesquisas é sempre dado à mulher e não ao homem da terceira idade. “Então, resolvemos enfrentar este desafio e foi além da expectativa”, diz Violene.

Eles chegam agitados e tagarelantes. Observam tudo com entusiasmo, fazendo brincadeiras. “Aqui é só colocar uma mesa para jogar dominó e tomar uma cervejinha”, comenta o aposentado Nizio Panger, 66 anos, ao passar pelo pé de jambolão. “Tem um pátio muito grande. Quem olha de fora não diz que é isso tudo. Lá do meu prédio, eu só vejo a torre da igreja”, fala Vandir da Silva, 69 anos. Encantam-se com os estúdios de televisão e rádio, assistem a alguns trabalhos produzidos pelos acadêmicos de comunicação social e, silenciosamente, acompanham a visita nos laboratórios de informática e na biblioteca, recebendo uma explicação de cada funcionário.

O grupo já realizou seis encontros na Associação de Moradores Jardim Francine, do bairro Aventureiro, para discutir assuntos sobre saúde junto das duas acadêmicas. Não é mais só um trabalho de pesquisa. É um ato de solidariedade. A vida de cada um dos idosos já mudou muito desde que começaram a discutir acidentes domiciliares, câncer de próstata e depressão – temas escolhidos de acordo com o interesse deles mesmos. Confidências e experiências são trocadas a cada reunião. No passeio, percebe-se a animação e o interesse pelo cuidado à saúde no laboratório de anatomia, quando querem saber como funciona cada parte do corpo humano. Contam histórias de acidentes, indagam sobre o aparelho reprodutor, e observam, sem nem piscar os olhos, os ossos e fetos humanos que estão à mostra.

Nos primeiros encontros, as discussões duravam uma hora e no restante da tarde faziam recreação: jogavam baralho e contavam lorotas. Hoje, o apego pelas enfermeiras quase formadas manifesta-se em uma tarde inteira de conversa séria. Violene se surpreendeu muito com o resultado, mas agora que está próxima da reta final do trabalho, o coração aperta. Ela afirma: “Vamos dar continuidade aos encontros. Não podemos abandoná-los assim. Eles se sentiriam usados.” Nizio, sempre muito falante durante a visita, confessa: “É um passatempo pra gente. Por mim poderia continuar o ano todo.”

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.