Com andar calmo, olhos deslumbrados e disposição desafiante. Caminhavam pelo
pátio do Bom Jesus/Ielusc, na última quinta-feira (dia 1º), oito senhores, entre
58 e 76 anos, risonhos e corajosos, para conhecer as dependências da
instituição. A iniciativa é das acadêmicas do 9º período de enfermagem Linamar
Martins e Violene Tank, que desde 20 de abril trabalham com o grupo. A visita
foi a última etapa do projeto de TCC delas, intitulado “Cuidar do idoso: gênero
masculino como foco do processo de educação em saúde”. O tema surgiu porque o
enfoque em pesquisas é sempre dado à mulher e não ao homem da terceira idade.
“Então, resolvemos enfrentar este desafio e foi além da expectativa”, diz
Violene.
Eles chegam agitados e tagarelantes. Observam tudo com entusiasmo, fazendo
brincadeiras. “Aqui é só colocar uma mesa para jogar dominó e tomar uma
cervejinha”, comenta o aposentado Nizio Panger, 66 anos, ao passar pelo pé de
jambolão. “Tem um pátio muito grande. Quem olha de fora não diz que é isso tudo.
Lá do meu prédio, eu só vejo a torre da igreja”, fala Vandir da Silva, 69 anos.
Encantam-se com os estúdios de televisão e rádio, assistem a alguns trabalhos
produzidos pelos acadêmicos de comunicação social e, silenciosamente, acompanham
a visita nos laboratórios de informática e na biblioteca, recebendo uma
explicação de cada funcionário.
O grupo já realizou seis encontros na Associação de Moradores Jardim
Francine, do bairro Aventureiro, para discutir assuntos sobre saúde junto das
duas acadêmicas. Não é mais só um trabalho de pesquisa. É um ato de
solidariedade. A vida de cada um dos idosos já mudou muito desde que começaram a
discutir acidentes domiciliares, câncer de próstata e depressão – temas
escolhidos de acordo com o interesse deles mesmos. Confidências e experiências
são trocadas a cada reunião. No passeio, percebe-se a animação e o interesse
pelo cuidado à saúde no laboratório de anatomia, quando querem saber como
funciona cada parte do corpo humano. Contam histórias de acidentes, indagam
sobre o aparelho reprodutor, e observam, sem nem piscar os olhos, os ossos e
fetos humanos que estão à mostra.
Nos primeiros encontros, as discussões duravam uma hora e no restante da
tarde faziam recreação: jogavam baralho e contavam lorotas. Hoje, o apego pelas
enfermeiras quase formadas manifesta-se em uma tarde inteira de conversa séria.
Violene se surpreendeu muito com o resultado, mas agora que está próxima da reta
final do trabalho, o coração aperta. Ela afirma: “Vamos dar continuidade aos
encontros. Não podemos abandoná-los assim. Eles se sentiriam usados.” Nizio,
sempre muito falante durante a visita, confessa: “É um passatempo pra gente. Por
mim poderia continuar o ano todo.”