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Matéria 2177, publicada em 23/05/2006.


Jornalistas, radialistas e comunicadores falam à Revi

Izani Mustafá

Quando conversamos com comunicadores do rádio, aqueles que são apaixonados e sonham como sonhou o professor Roquette-Pinto, começamos a entender porque a informação deixou de ser o carro-chefe das emissoras. Jota Martins, 52 anos, é um dos radialistas de Joinville com mais experiência na cidade. Em dezembro, completará 36 anos à frente dos microfones. Começou sua carreira nos Diários Associados do Rio de Janeiro, de Assis Chateaubriand. Trabalhou um período na Rádio Guarujá de Florianópolis, demitiu-se e fez um estágio na Globo AM do Rio de Janeiro, no início de 1978. Um ano depois, foi contratado pela Cultura AM de Joinville. Desde 9 de agosto de 2004 está na Globo de Joinville AM, onde apresenta o programa Manhã da Globo.

Para ele, o sonho de Roquette-Pinto não se mantém porque "criaram em torno da cultura uma elite", referindo-se à dificuldade de tocar músicas de qualidade, falar de livros e artes. “Quando comecei a trabalhar em rádio AM eu tocava, normalmente, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque. Fazia parte da programação”. Hoje, compara, “se a música não estiver na novela, você não pode tocar porque alguns acham que é elite. Anularam a boa música. O povo não sabe quem é Lenine, João Bosco. Estamos numa carência grande”.

O radialista lamenta que o desejo de Roquette-Pinto de fazer um rádio para educar, informar e divertir as pessoas ficou para trás. “Nós ficamos só com o divertimento e da pior qualidade”. Para reverter a situação, recomenda, do alto da sua experiência: as emissoras precisam de bons profissionais, esforçados e que leiam muito.

A jornalista Charlene Serpa, de 24 anos, formada em 2003 no curso de jornalismo do Ielusc, produtora dos programas Manhã da Globo e Globo no Ar, é categórica: “O compromisso social do rádio é muito importante e estamos tentando resgatar isso”. A jovem começou sua carreira na Floresta Verde AM – antiga Floresta Negra AM –, em junho de 2004 com o jornalista Celso Schimitt. Segundo ela, muitas pessoas da sua idade, quando perguntadas sobre o que é rádio, respondem: “Rádio é onde eu ouço música”. Muito devagar, mas com os olhos brilhando e otimista, afirma Charlene que, mesmo com poucos recursos, quer "mostrar para as pessoas que o rádio, além da música, pode ter muita notícia e pode ser um entretenimento de outra forma”.

As máscaras começam a cair

Leo Saballa, jornalista formado pela PUC-RS e radialista há 35 anos, faz uma análise sob a ótica da legalidade. Segundo ele, uma minoria trabalha com o registro profissional e com a carteira de trabalho assinada pelo empregador, “uma condição obrigatória para as empresas de comunicação e radiodifusão de Joinville contratarem seus empregados”. No entanto, salienta ele, a maioria dos radialistas vive sem amparo legal. “São falsos profissionais que, atraídos pelo fascínio do microfone, buscam popularidade fácil, mesmo com salário irrisório”. E prossegue: “Claro, para o patrão é cômodo contratar pessoas sem qualquer qualificação. As outras emissoras não se preocupam. Não há uma guerra de audiência, as emissoras se nivelam por baixo. Os pseudoprofissionais acabam tirando do mercado de trabalho os profissionais com registro, com escolaridade e preparação”.

Segundo Leo, os verdadeiros profissionais acabam se afastando de sua principal função, que é o microfone, e procuram outras atividades. Em outros casos, quando são descobertos os falsos profissionais na medicina, odontologia e outras atividades, “os charlatães são presos e a mídia toda indignada dá destaque”. O radialista desabafa: “Mas quando todo mundo mete o bico no microfone, compra o horário em rádio e TV, trabalha sem carteira assinada, não acontece absolutamente nada para quem contrata e nem para quem pensa que está trabalhando como radialista.”

Para o jornalista e coordenador da Rádio Udesc FM de Joinville, Paulo Roberto Santhias, uma rádio, para ser um veículo sério e comprometido, deve “respeitar o bom senso, a inteligência e a cidadania com pluralidade, ouvindo todas as pessoas envolvidas. Isso vai poder formular ao ouvinte uma opinião sobre qualquer caso. Isso é uma peça fundamental. Faz parte do código de ética do jornalista”.

Em sua opinião, notícia é tudo o que tem interesse público, não interesse pessoal, financeiro ou que possa beneficiar apenas um segmento ou uma única pessoa ou entidade. “O interesse público é a base de todo material jornalístico e de todo material de comunicação. Não fosse assim, os veículos não sobreviveriam. Tanto o de publicidade como de jornalismo. Vemos que têm muitos comerciais, mas a espinha dorsal está no interesse público”. Ele exemplifica com o comercial da WWF Brasil, no ar em algumas emissoras e destacando a importância de preservar a natureza. “Isso beneficia a todos. É um preâmbulo básico para quem trabalha na área. Que realmente seja honesta, ética”. Para Santhias, o investimento no profissionalismo é imprescindível para o comunicador de rádio, independentemente de ser jornalista ou radialista.

Apresentadora do programa Chilli Magazine na Floresta Negra FM, Ana Paula Peixer, acredita que os meios de comunicação deveriam auxiliar a sociedade a crescer e ser instrumento de ensino. “Todo o veículo de comunicação, num país como o Brasil, deveria ser utilizado para promover educação, cultura, crescimento e desenvolvimento”. Mas, salienta a jovem, “infelizmente é complicado focar esse assunto porque são vários quesitos envolvendo essa movimentação. Vem desde a colonização complicada, depois o paternalismo e concessões que foram dadas principalmente a políticos”. Para ela, é necessário entender que 90% dos meios de comunicação foram conseguidos por meios políticos e seus resquícios se mantêm até hoje. Ana Paula complementa: “E ainda tem a questão do capitalismo que domina. O problema da rádio envolve essas questões e muitas outras como interesses e cúpulas. Tem acordos e conchavos políticos e empresariais”. Uma alternativa para reverter a situação é fazer uma análise crítica mais ampla e que nem sempre está focada somente no dono do rádio e no radialista, diz. “Uma pessoa que está no ar há tanto tempo e tem patrocinadores, como os patrocinadores vêem isso?”

A comunicadora Roberta Mendes, que comanda os programas Linha Direta e Pimenta Malagueta, na Cultura AM, e há 19 anos trabalha em rádio, afirma que boa parte da sociedade não acredita mais na imprensa. Isso porque “muitos comunicadores trabalham para políticos e órgãos públicos e depois apresentam seus programas em emissoras ou escrevem em jornais diários”. Roberta condena a situação tanto quanto a vinculação dos profissionais de rádio aos patrocinadores. Em sua opinião, a falta de compromisso social e a baixa qualidade dos programas que estão no ar são culpa das empresas e das direções de rádio. “Qualquer um pode ter espaço, basta comprar um horário. As emissoras terceirizam os horários. Infelizmente não existe norma e padrão dentro das rádios”. Roberta tem experiência em emissoras como Rádio Menina FM, Rádio Jornal de Blumenau e foi locutora de esportes na Jovem Pan em São Paulo.

Multimídia

> Jota Martins: "O contrato é mais importante"

> Charlene Serpa: "O ingrediente principal é informar"

> Paulo Santhias: "É preciso investir no profissionalismo"

> Paulo Santhias: "Comunicadores devem se capacitar"

> Leo Saballa: "Em joinville vale tudo"

> Leo Saballa: "Emissoras loteiam seus espaços"

> Ana Paula Peixer: "Há interesses em toda a sociedade"

> Ana Paula Peixer: "As máscaras começam a cair"

> Kennedy Nunes: "Nota cinco para as rádios de Joinville".


Izani Mustafá é professora de Meios Rádio I e II e Produção e Difusão em Rádio I e II do curso de comunicação social do Bom Jesus/Ielusc

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