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Matéria 2139, publicada em 18/05/2006.


:Renato Segui

Cravo Albin e Valsinha na varanda do instituto

Cravo Albin conta como reuniu a cultura musical do país

Pollyanna Niehues


A Urca é um dos bairros mais calmos da cidade do Rio de Janeiro. Com uma vista paradisíaca, abriga as ruínas do cassino histórico da cidade, palco para tantos famosos como, por exemplo, Carmem Miranda. Logo atrás do cassino da Urca está localizado — e muito bem localizado — o Instituto Cultural Cravo Albin. Criado no verão de 2001, a entidade existe para pesquisar e preservar as fontes da música popular brasileira e incentivar atividades culturais. O presidente da organização, Ricardo Cravo Albin — com seus bem vividos 66 anos — se senta tranqüilamente à varanda para conversar sobre a sua iniciativa.

A casa onde tudo isso funciona foi doada em cartório por Ricardo, com o consentimento da família. Agora ele não tem mais herdeiros para os bens que doou, mas também não tem lá muita ajuda do Estado. Ele lamenta: “O que mostra uma face cruel do nosso país para as pessoas que abrem mão de seus bens, e deveriam ser melhor favorecidas com verbas públicas.”

O instituto não tem fins lucrativos. “Foi inaugurado formalmente, amparado por uma instituição civil. Tem seu quadro de 10 apoiadores, e se mantém através de projetos”, explica Ricardo. Abriga um acervo de 30.000 discos de vinil, 2.000 fitas de rolo, 700 cassetes e cerca de 5.000 CDs, além de fotografias, recortes de jornais e revistas, roteiros e programas de rádio e TV. Lá, existem pessoas devidamente instruídas para recuperar os elepês antigos, para que possam ser gravados e ouvidos.

Durante a conversa, passa um cachorro, solto, assim bem à toa, no meio de tanto trabalho. “Bom dia, Valsinha”, diz Ricardo. O nome da vira-lata é Valsa, e entre outros cachorros que Ricardo teve, um se chamava Samba e outra, Chica. Tudo na vida de Ricardo Cravo Albin está relacionado à música brasileira. Talvez por isso seja dono de tão simpática personalidade.

No verão de 1962, Ricardo iniciou a carreira de radialista na rádio Roquette Pinto. Seu programa era sobre jazz e bossa nova, e por lá passaram Tom Jobim, Vinícius de Moraes, etc. Além de radialista, Ricardo tem um currículo extenso. Ele é escritor, pesquisador, historiador e crítico musical. A biografia do fundador do instituto pode ser encontrada no Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira.

O dicionário

Ricardo Cravo Albin é o autor de um dicionário virtual de 7.000 verbetes sobre a música popular brasileira. Quando questionado sobre o tempo que levou para concluir o trabalho, desafaba: “Uma vida inteira. Desde que me conheço por gente”. Ele dá uma bela risada e, de pronto, emenda: “Concretamente debruçado sobre o trabalho, dia a dia, literalmente, há 10 anos”.

Além do verbete, também estão disponíveis no sítio virtual a biografia, a discografia e a obra dos autores da MPB. A idéia de Ricardo era reunir a cultura musical brasileira, para que não se perca, não se torne ruínas, como o tão famoso e hoje tão esquecido cassino da Urca.

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