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Matéria 2069, publicada em 04/05/2006.


Adriana Bastos luta contra o padrão na RBS

Pollyanna Niehues

É engraçado aceitar que uma rede de televisão não tenha uma reunião de pauta diária. Ou que o jornal vai acontecendo ao passar do dia e a editora apontando o que entra e o que não entra. Mas é assim que acontece na RBS de Joinville — a última TV visitada pela Revi dentro do projeto “Uma tarde na redação”.

No prédio da RBS funcionam, além da redação dos dois telejornais, a Rádio Atlântida, a Rádio Itapema e a sucursal de Joinville do Diário Catarinense. Um prédio bonito, bem estruturado, cheio de canteiros e pequenas árvores no jardim. A vista é linda: o zoobotânico fica do outro lado da estreita rua, e o morro Boa Vista fica logo atrás, lembrando que o pólo industrial que é Joinville ainda tem natureza.

Mas a beleza não deixa esquecer o propósito. Nem a grandiosidade de fora deixa esquecer a hierarquia de dentro. A equipe de telejornalismo da RBS de Joinville tem de 18 a 20 minutos no bloco local do Jornal do Almoço, e três minutos e 30 segundos no RBS Notícias, à noite. Os dois telejornais diários são produzidos em sua maior parte em Florianópolis, ficando para Joinville um tempo curto para, de fato, informar. Dá tempo de colocar as notícias mais importantes.

Gislene Bastos, coordenadora do telejornalismo e editora dos dois jornais, foi quem recebeu a equipe de bolsistas para a visita, e contou que todos os dias ela tem que escolher o que não entra no jornal. Talvez isso explique a ausência da tão famosa reunião de pauta. A notícia trazida da rua pelos repórteres é que vai definir o jornal. É um processo contínuo. Segundo Gislene, o tempo de cada matéria “é o que o assunto vale”. Para ela, é inconcebível dar à matéria mais tempo do que merece.

Como nas outras redes de televisão, na RBS o número de funcionários também é o mínimo possível — 11 neste caso, incluindo o co mentarista esportivo Ricardo Freitas — e cada um tem mais de uma função. Os repórteres trabalham sete horas por dia, inclusive sábados e domingos. Nos finais de semana, a equipe é reduzida, e o revezamento de folgas é de 15 em 15 dias. Cada repórter precisa fazer pelo menos duas matérias por dia para fechar o jornal, e eles mesmos são editores de suas matérias. Gislene lembra também do “profissional multimídia”. Os funcionários são contratados do grupo RBS e prestam serviço para os veículos do grupo, e não só para o telejornal.

Quando questionada sobre a hierarquia dos repórteres que produzem, mas não aparecem nas reportagens nacionais, ela explicou que isso é uma prática antiga. Então, se há qualidade para ir ao ar em rede nacional com o repórter regional, irá. Gislene conta que já apareceu em rede nacional e que seus repórteres também. “Esse padrão Globo está mudando com o passar dos anos, e a editora explica que sua luta é pelo distanciamento da unidade visual. Em seus repórteres, Gislene procura o que está além da beleza e do cabelinho curto: conteúdo, qualidade, ousadia, criatividade, investigação e “nada que seja padrão”.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.