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Matéria 2041, publicada em 25/04/2006.


Bolsistas são chamados de imprensa marrom por Beto Gebaili

Leonel Camasão

Era quarta feira, 20 de abril de 2006. Destino: TV Cidade. Os bolsistas da Revi começariam as visitas às emissoras de TV de Joinville, como parte do plano pedagógico do estágio. Ao chegar, eles foram recepcionados por Rochele Allgayer, produtora da TV Cidade, publicitária formada e estudante de jornalismo do Ielusc. Outra funcionária da casa cursa Publicidade e Propaganda na instituição. Até mesmo a responsável pela administração da TV, Tabata Cristina Maes, cursou jornalismo no Ielusc, trancando a matrícula em agosto de 2005. Estávamos praticamente em casa.

Todos os estúdios, dependências, equipamentos e depósitos foram mostrados. A estrutura da TV funciona em uma casa residencial, instalada num sobrado antigo. Há sete anos, sob o domínio de Sérgio Silva, a emissora terceirizou boa parte da sua programação, o que é mais lucrativo segundo as condições da TV. Um programa semanal, de 30 minutos – desde que seja entregue à emissora pronto –, custa R$ 1.000,00 mensais.

“Aqui a gente faz milagre”, diz Rochele. E fazem mesmo. São apenas 19 funcionários, desde o pessoal de limpeza até o dono da emissora. Os estúdios são montados e desmontados, dependendo do programa a ser gravado.

O trio

Durante a visita, o inusitado trio de radialistas chega para gravar o programa “Encontro com a imprensa” (ou será desencontro?). O produto televisivo gerado por Beto Gebaili, Toninho Neves e Luis Veríssimo é gravado no estúdio 1, às sextas-feiras. Excepcionalmente, para nossa sorte, o programa foi gravado na quinta devido ao feriado de Tiradentes. Com autorização da equipe técnica, Bruna Nicolao, bolsista da Revi, entrou no estúdio, durante a gravação, para bater uma foto. “Se essa foto sair na imprensa marrom, nós vamos saber quem foi”, bradou Gebaili, em sua elegante jaqueta de couro. Veríssimo confundiu: “Não, esse aí é o pessoal da Primeira Pauta”.

Enquanto isso, Toninho, minutos antes da gravação do programa, convidava o prefeito de Joinville, Marco Tebaldi, por telefone, a visitar sua casa, tomar uma “cervejinha” e “dar uma conversada”. Já no ar, ele afirmou ter falado com o prefeito pessoalmente, revelando “dados assustadores” sobre o assalto ocorrido no gabinete de Tebaldi.

Gebaili, num átimo de raiva, gritou e cuspiu falando mal de textos publicados na internet e em comunidades criadas no sítio de relacionamentos Orkut , criticando o programa e também seus apresentadores. “Estão se exibindo porque vocês estão aqui” alguém disse, na sala de edição. A todo o tempo, frases provocativas eram lançadas. Pareciam querer atenção ou simplesmente gerar polêmica. “O programa está revolucionando a mídia joinvilense”, ou “os telespectadores se multiplicam aos milhares” e ainda “Vocês devem aprender a fazer jornalismo conosco, porque o programa não pára de angariar patrocinadores”. Frases de efeito, com entonação suficiente para mostrar o que eles fazem de melhor: gerar polêmicas vazias.

Na lista de impropérios, constam acusações no ar contra profissionais da imprensa com credibilidade muito superior ao do trio de apresentadores. É o caso de José Antônio Baço, jornalista, publicitário, pós-graduado em comunicação e marketing (INP-Lisboa), especialista em pensamento contemporâneo (PUC-PR), mestre em cultura e comunicação (UCP-Lisboa) e doutorando em ciências da comunicação (UNL-Lisboa). Baço foi colunista do ANexo, suplemento cultural do Jornal A Notícia .

Dar eco a rebuliços pré-fabricados é tudo o que aqueles seres desejam. Estudantes viram terroristas. Jornalistas formados viram pé-de-chinelos. Vereadores são atacados ou acarinhados conforme o partido. Todas as afirmações contrariando os princípios jornalísticos mais comuns, mais simples, mais elementares. O único problema é que isso vende. Mas, sejamos claros, o índice de vendagem de um produto informativo-midiático geralmente é proporcional a sua má qualidade e à falta de conteúdo. Gebaili e companhia estão para a imprensa assim como a egüinha pocotó está para a música.

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