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Matéria 2039, publicada em 24/04/2006.


:Leonel Camasão

Equipamentos revelam a boa estrutura técnica da emissora

TV Cidade: o lucro em primeiro lugar. E o conteúdo?

Erivellto Amaranth


Se você é um dos poucos privilegiados que tem NET (TV a cabo pertencente ao maior monopólio televisivo da América do Sul — Globo) ou Viamax (pequena empresa de TV por assinatura em MMDS de Santa Catarina), talvez já conheça a programação da TV Cidade, único canal dedicado totalmente para as produções locais de Joinville. Caso contrário não perca o seu suado dinheirinho, nem gaste o seu precioso tempo para tentar assistir ao emaranhado de programas com conteúdo frágil, salvo raras exceções, que preenchem as míseras 6 horas diárias que marcam a grade do canal.

Tabata Cristina Maes, responsável pela administração da TV Cidade, resume como funciona a política da empresa: “Todos os nossos programas são terceirizados. As pessoas compram os horários, pagam a quantia acertada conosco e colocam o que bem entenderem no ar”. Seguindo a máximo do capitalismo, onde tudo tem seu preço e o lucro é o mais importante, o que deveria ser uma opção de qualidade para o telespectador joinvilense, refém das migalhas dos programas locais liberados pelas grandes redes de TV aberta do país, se transforma em um veículo meramente comercial, sem identidade na programação e conseqüentemente sem compromisso com seus telespectadores.

Já os anunciantes estão muito bem servidos, como enfatiza Thabata: “A TV Cidade tem um público formador de opinião, das classes A e B”. Será que a burguesia dessa cidade liga a televisão, com mais de 100 canais disponíveis, para assistir ao programa Fabíola Bernardes, que recentemente teve cancelado seu registro profissional como jornalista pelo sindicato da categoria, ou o “Encontro com a imprensa” ironicamente ancorado por Beto Gebaili, Luiz Veríssimo e Toninho Neves, que insistem em afirmar que são jornalistas? Com certeza, sim. Talvez porque essa cidade não tem opções para todos os gostos.

Há uma lacuna no campo da comunicação: o jornalismo de interesse público, comprometido com os reais problemas da sociedade. Aquele que, mesmo seguindo a lógica imposta pelo mercado, tem autonomia para fiscalizar o poder público e revelar os corruptos (se é que isso é possível). Não esse jornalismo-espetáculo, composto por “comunicadores” travestidos de profissionais da notícia, ou o gênero “eu sou amigo do prefeito”, em que o âncora recebe uma ligação do chefe do executivo municipal momentos antes de começar o programa e combina “um chopinho para o fim de tarde”, como aconteceu com o Sr. Toninho Neves no dia 20 de abril.

No caso da emissora visitada, a estrutura técnica parece não ser o problema (como acontece com muitos canais pequenos no interior do país). O “x” da questão está em romper o sistema atual, apostar no jornalismo sério, buscar uma identidade bem definida para a emissora e ajustar a programação conforme o seu público. Não adianta o canal ter um target com alto poder aquisitivo e formador de opinião, se o conteúdo não corresponde ao interesse de seus telespectadores e a qualidade é duvidosa. A parceria com o curso de jornalismo do Ielusc, para a produção de programetes informativos, é um importante começo.

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