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Matéria 2006, publicada em 11/04/2006.


:Google Imagens

Bakhtin, tema dos primeiros encontros

Encontros do Necom ajudam a romper mitos

Letícia Caroline


Dois russos entram na pauta de discussão do Necom (Núcleo de Estudos em Comunicação). Mikhail Bakhtin (1896-1934), tema dos dois primeiros encontros, era um lingüista russo. Teve trabalhos influentes nas áreas de teoria literária, crítica literária e semiótica. No entanto, sua tese mais importante era que a língua não poderia ser analisada isoladamente, mas sim, envolvendo os fatores externos como contexto histórico e a intenção do falante.

Na sexta-feira (07/04), o assunto foi o texto “A formação social da mente”, de Lev Vygotsky (1895- 1975). Psicólogo influente, nascido em Moscou, Vygotsky destacou-se por estudos sobre o desenvolvimento intelectual das crianças. Para ele, a construção do intelecto se dá através das interações sociais e condições de vida no decorrer do crescimento da criança (veja imagem do autor)

O encontro começa com atraso. Aos poucos, os participantes vão chegando. O dia é especial, a mesa estava completa e ainda tinha participação de uma professora de enfermagem, além desta repórter (as outras vezes só o pessoal do Necom fez parte). A metodologia utilizada para os debates é esclarecida. O que o grupo quer não é só fazer dicionário de conceitos. “Queremos discutir os textos, fazendo relações com outras leituras”, diz o professor Silnei Soares, integrante do Necom. A professora de enfermagem se interessou porque sabia que Vygotsky tratava da aprendizagem. E para ela, estudar a obra do psicólogo russo é importante para saber como lidar melhor com os alunos.

Depois de tocar o telefone, de cada um pegar seu café ou água, os debates iniciam. O grupo procura seguir uma linha para estudar os textos, tentando abordar o contexto histórico, os conceitos e os métodos do autor em questão.

Como o livro de Vygotsky chegou ao Brasil e quais as relações que ele faz com Marx e Engels no texto, são alguns dos pontos discutidos. Outro ponto, colocado em questão pela professora de enfermagem, foi o silêncio dos alunos durante a aula. Ela questionava o que fazer para ter uma turma participativa. Todos concordaram que é uma problemática comum, mas que, as vezes, o silêncio também quer dizer algo.

Adentrando a obra do psicólogo russo, viu-se que ele fazia experiências para observar o comportamento das crianças. O que interessava era o processo e não o resultado que a atividade iria alcançar. Para isso, ele propunha algumas tarefas às crianças e ia colocando obstáculos, para perceber como elas agiam diante de dificuldades. Através de suas experiências concluiu que os agentes externos influenciam no desenvolvimento das crianças.

Estudar os fenômenos como processos em movimento e mudança era o método utilizado por Lev Vygotsky. Ele procurava fazer relação com os trabalhos de Marx e Engels porque acreditava que só fazendo, a criança aprenderia o processo. O que tem a ver com a teoria dos filósofos, já que eles diziam que a consciência se dá através da produção.

A imaginação também fez parte da rodada de debates. As crianças têm o poder de transformar objetos em outras coisas, como imaginar que um cabo de vassoura é um cavalo. À medida que vão crescendo, elas perdem essa capacidade. A construção sócio-cultural impede que adultos façam esse tipo de coisa. A passagem desses estágios e as mudanças ocorridas também eram temas de pesquisa de Vygotsky.

Quando a discussão atinge o ponto mais profundo, até semiótica entra no meio. Isso porque Vygotsky afirmava que os signos facilitavam a compreensão do processo para as crianças. Nessa parte, a discussão fica mais interessante para as estudantes. Como se sabe, muitos acadêmicos têm dificuldades com essa matéria. E o encontro com Pedro Russi e os outros professores ajudaria muitos deles a entender e se aprofundar no assunto.

Apesar de, na maioria do tempo, só os professores falarem, o encontro é esclarecedor. Os textos são extensos e o conteúdo, pesado, mas com as discussões é possível entender pontos obscuros. O clima é de descontração e liberdade. Todos podem falar e fazer perguntas, para que aproveitem ao máximo a tarde.

Depois de viagens e voltas nos textos de Vygotsky e Bakhtin, o encontro chega ao fim perto das 17h30. A sensação é de que a tarde valeu a pena. O mito de que teóricos russos são inatingíveis cai por terra. É possível entender as teorias com ajuda de um grupo estruturado. Por isso, fica o convite para quem se interessou. O próximo encontro será dia 20 de abril, quinta-feira, devido ao feriado de Tiradentes.

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