Intensa espiritualidade, cultivo de tradições e luta pela defesa dos recursos
naturais são para Mauro Scholl, 41 anos, a forma perfeita de se viver em
cidadania e harmonia, buscando o aprimoramento máximo de qualidade de vida e
sustentabilidade na sociedade. Agrônomo, naturopata (desvenda fundamentos da
medicina natural), terapeuta, educador ambiental, massagista, tarólogo e
artesão, Orua, nome espiritual de Mauro, é educador do instituto Ânima, criado
em 1979 para “conscientizar a humanidade e defender uma cultura sustentável que
valorize todos os recursos que a natureza oferece”.
A Associação Ânima de Cultura e Desenvolvimento Sustentável é uma ONG que
atua no sul do Brasil, principalmente nos estados de Santa Catarina e no Paraná,
e na Amazônia. Destacou-se participando na criação da Lei Estadual dos
Agrotóxicos. Incentivou a disseminação da agroecologia e a introdução de uma
ciência agronômica mais sustentável em programas de treinamento de professores,
profissionais liberais e técnicos de governos e na formação de grupos acadêmicos
sobre agricultura biodinâmica, educação ambiental, permacultura, terapias
naturais e agroecologia.
Orua transmite tranqüilidade. Tem olhar e sorriso pacífico. Usa roupas leves
e claras típicos de um ambientalista. Graduou-se em agronomia pela UFPR
(Universidade Federal do Paraná). Fez cursos espirituais e hoje atende pessoas
que queiram fazer meditação, massagem, terapias em geral, além de lecionar
cursos no instituto Ânima em Florianópolis, onde vive.
Com o pescoço coberto de colares de sementes, como forma de trazer “energia
espiritual”, Orua esteve presente no V Congresso Ibero-americano de Educação
Ambiental, expondo a arte das sementes em forma de colares, pulseiras e brincos.
Ele costuma participar de congressos como artesão para obter contato com as
pessoas da área e que todos possam admirar a obra artística das sementes. O
educador ambiental e mais 15 participantes da ONG defendem a idéia de que os
transgênicos destroem as sementes tradicionais. “As florestas estão sendo
destruídas. Lá existem plantas ornamentais, animais selvagens e as sementes que
dão origem ao artesanato”, explica Orua.
O instituto já tem um projeto em andamento com o governo do Paraná para
aprovar um curso superior de educação ambiental que teria como base a
reciclagem, agricologia, uso adequado dos recursos naturais, nutrição vital,
medicina natural e permacultura. Esta última baseia-se na prática de "cuidar da
terra, cuidar dos homens e compartilhar os excedentes" (quer sejam dinheiro,
tempo ou informações). A permacultura usa intensivamente todos os espaços
através da cooperação entre os homens para resolver os grandes e perigosos
problemas que hoje assolam o planeta.
Nessa prática, em um hectare de terra pode ser produzido 30 toneladas de
alimento. E aí entra a idéia das ecovilas. Esses lugares reúnem famílias para
morarem no mesmo pedaço de terra, mantendo um ritmo de trabalho coletivo de
agricultura, sem a intenção de ganhar dinheiro. Apenas morar e comer bem entre
encontros e movimentos espirituais. Já são cinco ecovilas no Brasil. Ao todo, 40
famílias convivem nesse estilo de vida. Em Santa Catarina, há uma ecovila em
negociação na Praia do Rosa, região da grande Florianópolis.
“É uma visão gandhiana. Um desafio de mudar o mundo. Poderíamos tentar e
criar automóveis com bancos de fibras naturais, couro vegetal, biocombustíveis,
óleos vegetais, sem voltarmos na idade da pedra”, conta Orua. “Procurar manter
uma alimentação leve, nutritiva, natural e integral. Ou pelo menos conversar e
debater em palestras, aulas de yoga e meditação sobre tudo isso”, finaliza.