Revi Bom Jesus/Ielusc

>>  Joinville - Quinta-feira, 28 de março de 2024 - 07h03min   <<


chamadas

Matéria 1975, publicada em 05/04/2006.


:Divulgação

Jornalista cria blog internacional

Tariq Saleh quer mostrar o mundo que não está nos jornais

Evilazio de Oliveira


O jornalista Tariq Saleh, 31 anos, formado pela Unisinos (RS) e especializado em assuntos internacionais, é o editor do Le Indépendant, um blog que inclui notícias, artigos sobre política, direitos humanos, ambiente, tecnologia e mídia – abrindo espaço para assuntos que não são incluídos nas pautas da grande imprensa. Notícias referentes ao Brasil também são publicadas, como forma de mostrar a realidade do País para os leitores de fora.

O blog de Tariq Saleh está no ar há pouco mais de dois meses, de forma incipiente. E, somente nos últimos dias, depois de uma série de experimentos, é que ele decidiu pela atualização diária do noticiário, publicado em português, inglês e espanhol. E adverte aos leitores que a manutenção é feita independente dos seus afazeres diários. Ou seja, a empreitada não é lucrativa, “por enquanto”.

O jornalista Tariq Mohd Hassan Saleh nasceu no Líbano e aos cinco anos veio com a família para o Rio Grande do Sul. Depois de um período no município de Guaíba, mudaram para Sapiranga, também na Grande Porto Alegre, onde residem até hoje. Ele cursou jornalismo na Unisinos (Universidade do Vale dos Sinos), em São Leopoldo, teve uma passagem pelo jornal Zero Hora e, atualmente, além de editar o blog, colabora como freelancer para jornais árabes, publicados em inglês, e para o El Mundo, da Espanha. Fala inglês, espanhol e árabe.

Antes do Jornalismo, Tariq Saleh cursou Engenharia Civil, “um sonho do pai”. Mas, na verdade, o seu grande sonho sempre foi o jornalismo. Ele conta que no dia 2 de agosto de 1990 assistia à televisão, quando ouviu a notícia de que Saddam Hussein estava invadindo um pequeno país chamado Kuwait, depois de ter mantido uma sangrenta guerra por oito anos contra o Irã. Ficou muito impressionado com aquela informação e, naquele mesmo dia, começava o trabalho de repórter, ao informar ao pai sobre o episódio que comentou: “Saddan ficou louco”. Começava também a paixão pelo jornalismo internacional e pela visão crítica do que acontece no mundo e não é mostrado de forma adequada pela grande imprensa. Daí, a importância do blog www.leindependant.org, diz.

Preconceitos

Filho de um professor de Literatura e de uma professora de História e vivendo entre os “patrícios” sempre interessados no que acontecia nos seus locais de origem, com os parentes ou com o aumento da violência no Oriente Médio em decorrência da ocupação da Palestina pelos judeus, o jovem Tariq desde muito cedo teve uma visão mais ampla do mundo. Certamente isso teria muita influência no seu futuro e no entendimento de muitas outras coisas, conforme destaca. E na área do jornalismo, identifica com facilidade a cobertura superficial da maioria dos acontecimentos internacionais, todos seguindo a orientação do noticiário norte-americano. Isso pela absoluta falta de informações mais críticas ou da falta de conhecimento dos jornalistas, o que é muito triste.

Acredita que a Universidade proporciona bons conhecimentos, um grande aprendizado e a possibilidade de ter uma visão crítica sobre vários assuntos. Reconhece que ele próprio precisou fazer a reformulação de muitos conceitos. O jornalista precisa ter a cabeça aberta, sem preconceitos, afirma. E cita a falta de imparcialidade que um repórter que detesta homossexual teria ao escrever sobre esse assunto. Num plano maior, comenta sobre o enorme preconceito existente em relação aos árabes, principalmente depois de 11 de setembro de 2001, quando árabe ou muçulmano passou a ser sinônimo de terrorista, de aliado do Bin Laden.

Lembra que Bin Laden não significa uma unanimidade entre os muçulmanos, embora muitos até o admirem em razão da violência e humilhação praticada pelos Estados Unidos e seus aliados contra árabes e palestinos ao longo dos anos. Esse tipo de preconceito e as dificuldades de entendimento da cultura desses povos milenares não são bem compreendidos entre os ocidentais. E muito mais ainda para os jovens estudantes de jornalismo que pouco conhecem de história, política ou das relações internacionais e dos interesses que predominam e que tentam justificar a maioria das guerras e das vítimas inocentes.

Com esse desafio e essa esperança de mostrar mais detalhes, dar mais informações ao leitor, é que o palestino Tariq Saleh está se empenhando e se aperfeiçoando. Confessa que ninguém está suficientemente preparado para coberturas de guerras, porém garante que está pronto. Esteve no Líbano logo depois da guerra civil e viu muitas coisas terríveis. “Mas tenho sangue frio e posso contar coisas com uma visão diferente, mais real”, garante. Talvez, o outro lado da notícia, como querem todos os jornalistas. Pelo menos os mais inquietos.


Evilazio de Oliveira é jornalista em Porto Alegre

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.