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Matéria 1971, publicada em 04/04/2006.


: Janaína Righi

Paulo Gerloff, idealizador da revista Banda Grossa

Festa teve direito a show de rock, animação e até streaper

Leonel Camasão


Em frente ao bar, Janaína e eu notamos que a chegada ocorreu muito cedo. Ele (o bar) estava quase vazio. Aguardamos, enquanto trocávamos palavras e observávamos o cartaz. No mesmo instante, reconheci o traço de Pablo Meyer, cartunista da Gazeta de Joinville. Além de anunciar o lançamento da revista em quadrinhos Banda Grossa,  também prometia um show com a banda Esquadrão Relâmpago, além de uma “atração surpresa”. Conversamos com o recepcionista na porta. Ele era italiano, de português bom, mas com um sotaque típico. Nos recebeu bem, esclareceu algumas dúvidas e não quis revelar a atração surpresa. “Se é surpresa é surpresa”, disse.

Conseguimos uma pequena mesa, bem na quina entre o bar e a parede defronte ao palco. Nela, mal cabiam nossas mochilas. Colocamos as malas e agasalhos no cantinho da parede, sentamos e pedimos cerveja. Jana foi capturar algumas imagens com sua máquina. Eu fiquei, capturando impressões com meus olhos, bloco e caneta.

Um homem grisalho, de óculos de armação grossa e negra, usando um macacão jeans estava sentado em uma mesa igual à nossa, bem próximo ao palco. Não parava de rabiscar umas folhas, e não prestava atenção em mais nada. Em seu copo, um líquido transparente com um limão, talvez caipirinha. Cheguei a pensar que era o desenhista da revista.

Bem à minha frente, outro homem de olhos grandes e camiseta preta com bolinhas brancas conversava alegremente com sua companheira de cabelo liso e maquiagem forte. Os dois são os criadores da tira Tatuí, publicada regularmente no jornal A Notícia. Ela, egressa do curso de publicidade, me cumprimentou, perguntou sobre os professores e sobre o curso. Talvez os dilemas ielusquianos deixem saudades.

Enquanto isso, senhores e senhoras de idade respeitável, cabeludos com camisa de bandas que estão fora do circuito midiático-comercial, garotas, garotos, cartunistas da cidade, um professor conhecido dos corredores do Ielusc e uma garota com uma camisa onde se lia “Almodóvar” totalizavam 120 pessoas espalhadas pelo bar, que, apesar de não ser muito grande, era agradável.

A sexta-feira 31 estava quase virando 1º de abril, e a banda entrou. Quatro dos cinco membros estavam de jeans e camisetas sem qualquer atrativo. Um deles, o vocalista, usava um chapéu que evocava aquele ar de mafioso italiano (talvez em homenagem ao recepcionista). Diogo César, que também colabora na revista, anunciou Paulo Gerloff, o idealizador da publicação. Gerloff agradeceu a todos, comentou o projeto e disse “ela custa R$ 4,50”. “Só pensa em dinheiro”, alguém brincou da platéia. O Esquadrão Relâmpago começou seu número com Rolling Stones, e pareciam razoavelmente à vontade. Jana ouviu dizer que era a primeira vez que eles se apresentavam em público.

Ela se concentrou no ensaio, e foi capturando instantes de luz. Meus sentidos já estavam mais ampliados devido à cerveja, e fui ao encontro de Gerloff. Ele é jovem, magro, cabelo raspado e as olheiras são visíveis sob os óculos. Estudante de design na Univille, ele têm apenas 20 anos, e desenvolveu o projeto junto com amigos, vários deles não-residentes em Joinville. "Eu gosto mesmo de escrever. Desenhar é consequência", diria ele.

A entrevista é interrompida, pela “atração surpresa”. Uma garota com asas de anjo e vestimenta provocante sobe ao palco, para um streape-tease . Perdi o entrevistado, e o show começou, ao som de The Doors . O atrativo da moça era exatamente a sua imperfeição. Ela era bela, tinha traços de adolescente e celulites discretinhas nas nádegas. Sua apresentação não levou mais de cinco minutos, mas foi suficiente para transformar o ambiente, já bem animado, numa verdadeira festa. Os andarilhos noturnos e quem estava parado em frente do bar colaram os rostos nos vidros da entrada, similares a vitrines, para assistir os movimentos do “anjo”.

“A informação procede: é a primeira vez que eles tocam mesmo”, me disse Jana, trazendo mais uma cerveja. Beattles, Creedence, Strokes, The Who , entre outros, estavam no repertório dos moços. Para uma primeira vez, eles pareciam deveras experientes na arte de tocar. A revista ganhou o edital de apoio à cultura da Fundação Cultural de Joinville (FCJ).

As histórias em quadrinhos (HQ’s) e o traço satírico retomam os grandes sucessos dos anos 1980, como Strep-tiras, Piratas do Tietê, Chiclete com Banana etc. A editora, Esprito de Porco Quadrinhos (é “esprito” mesmo), é independente. Gerloff tem a pretensão de publicar um número novo da revista a cada dois meses. “Estaremos lançando a revista nacionalmente no Rio de Janeiro, no final de abril. Lá, tem mais mercado para esse tipo de quadrinhos e temos mais chance de conseguir um patrocínio”, afirma. O dinheiro do edital bancou os 1.700 exemplares do nº 1, que pode ser encontrado na maioria das bancas do centro a partir da próxima semana.

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