Por todo o museu, instalado acima da Estação da Luz, no cerne da capital
paulista, se respira nosso idioma — ou o “Idiomaterno”, título de curta-metragem
exibido no terceiro piso do local. Tem a prosa e a poesia, a gíria e o
“internetês”. Tem o romance e também a música — escutar “Palavra Língua”, de
Arnaldo Antunes, enquanto se vê a instalação “Árvore de Palavras”, dá um baita
clima. Tem até jornalismo, presente nas cortinas que dão na saída de emergência
do primeiro piso: são panos com trechos de jornais repercutindo “Grande Sertão –
Veredas”, de Guimarães Rosa, que, por ter sido um ensaio de reinventar a língua
e seus verbetes, mereceu ser tema da primeira exposição provisória, no primeiro
piso. Só não achei Paulo Coelho, Jô Soares (com seu Xangô de Baker Street) e nem
trechos de livros de auto-ajuda.
O Museu da Língua Portuguesa é uma grande delícia, principalmente para os
entusiastas do verbo. Não é um amontoado de livros antigos, longe disso; lança
mão de multimídia e interatividade para cativar seus visitantes, de todas as
idades e graus de instrução. Como, por exemplo, o setor Beco das Palavras, onde
se junta dois verbetes com as mãos — como se fossem duas pererecas pulando na
sua frente — e se tem o significado e etimologia do termo formado pela união dos
anteriores. Ou a Praça da Língua, um “planetário” de letras com poesia concreta
e trechos de Drummond, Camões e tantos outros, nas vozes de sujeitos tais como
Chico Buarque e Caju e Castanha.
Já a exposição de “Grandes Sertões – Veredas” tem a obra na íntegra. Uma
parte está em latões de água, nos quais se lê com um espelhinho. Outra, só
subindo uma escada e usando uma mira. Tropeça-se em tijolos largados no chão,
lembrando-nos do cunho de construção desta obra (bem como do idioma). O segundo
piso, cheio de computadores, também é repleto de informações e curiosidades,
como o percurso da nossa língua até chegar onde está, ou os sotaques de tantas
regiões do País (inclui Joinville). Na linha do tempo, a acompanhar o idioma
desde antes do latim até as abreviações típicas da internet, o último ponto é um
espelho. Afinal, já diz o slogan do museu na portaria: a língua é o que nos une.
O objetivo deste projeto, segundo seu site, é “fazer com que as
pessoas se surpreendam e descubram aspectos da língua que falam, lêem e
escrevem, bem como da cultura do país onde vivem, nos quais nunca haviam pensado
antes”. Pode ser. Durante minha incursão no lugar, observei senhoras saindo
extasiadas das sessões, uma idosa reclamando da subida (“eu passo mal em
elevador panorâmico”) e muitos adolescentes num incomum silêncio, entretidos em
meio à enxurrada de novidades sobre o tal do português (algumas novidades
conhecidas há centenas de anos). Porém, a minha sensação ao sair de lá foi a
vontade de ler alguma coisa. Um Guimarães Rosa, talvez. Pode ser.
Amauri Abe é aluno do 7º período de jornalismo no Ielusc