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Matéria 1858, publicada em 22/03/2006.


:Letícia Caroline

Luana em seu local de trabalho

Luana Hudler, do Secord, conta como começou a praticar montanhismo

Letícia Caroline


Ela chega ao Bom Jesus/Ielusc logo pela manhã e só sai da instituição no final da tarde. Quem a vê trabalhando com a edição das páginas virtuais do Ielusc, nas depedências do Secord, nem de longe suspeita o que Luana Hudler, 33 anos, faz durante as horas vagas. “Eu não sou profissional, pratico só por hobby mesmo”, justifica-se envergonhada. A tarefa à qual dedica-se com tanto prazer é o montanhismo. Diferentemente do alpinismo, que consiste na escalada de rochas, o montanhismo inclui escalada e caminhada por trilhas.

A loira de olhos azuis apresenta porte de atleta e mede 1,67. Talvez por isso a ânsia de escalar montes e estar sempre nas alturas. Freud explicaria. Ou quem sabe, ficar trancafiada a semana inteira em uma sala pequena, com um ar artificialmente gelado e constantemente na frente do computador fazendo movimentos repetitivos, desperte o desejo de liberdade? Quem sabe.

Há cerca de seis anos, Luana conheceu dois amigos em Joinville, que praticavam o esporte. Como eles haviam feito curso, passaram o que sabiam para ela, que começou a praticar a modalidade a partir daí. Para tanto, contou com o apoio do namorado que já escalava. Nas primeiras escaladas, sentiu medo e um pouco de vertigem. A insegurança de estar a muitos metros do chão causava desconforto. “Todo esporte novo que você faz provoca estranheza. Principalmente o montanhismo, porque requer muita concentração e é praticado em um ambiente diferente”, ensina a esportista.

A partir desse momento, a entrevista vira uma aula de montanhismo. Depois do susto provocado pela “descoberta” de seu hobby secreto, Luana fica mais solta. Utiliza papel e caneta, faz desenhos, pega um calendário para servir como “montanha” e explica com detalhes como se faz para escalar. Enfim, começa a relatar suas experiências...

Entre os picos mais significativos que escalou estão o Conjunto Pedra do Baú, em São Paulo; o Pão de Açúcar, o Morro da Urca e o Pico do Capacete, todos no Rio de Janeiro. O Morro da Cruz, em São Francisco do Sul, também está na lista. Nele em especial, teve uma experiência interessante. Quando chegou com os amigos ao local, uma menina estava desesperada. Não conseguia descer nem subir. Era inexperiente e não estava acompanhada de instrutores. Esqueceu de ir esticando a corda à medida que fazia o rapel - técnica utilizada para descer das montanhas. No fim, um grande nó se formou no equipamento, travando tudo. Graças a um amigo de Luana, a menina foi salva. “Nessas horas é preciso ter calma, pois o nervosismo diminui as forças”, afirma a funcionária do Ielusc.

Em outro episódio foi Luana quem entrou em pânico. Era umas das primeiras vezes que iria escalar. Ainda era inexperiente. Ela havia parado só para descansar, mas quando baixou a cabeça viu a imensidão do precipício que se abria abaixo dela. Em um segundo, com um único olhar, ficou paralisada. Não tinha mais forças nem coragem para continuar.

Conseguiu sair do estado de torpor quando ouviu Eduardo perguntar: “Tudo bem contigo?”. Conteve-se para não chorar, respirou fundo e respondeu ao namorado: “Está sim, só parei pra descansar. Espera um pouco que já estou aí”. Então concentrou-se, meditou, para daí, sim, retomar a escalada. Isso aconteceu no monte Pedra do Baú, em umas das vias com maior inclinação vertical, o que permite que se veja a totalidade do penhasco.

Qualquer pessoa pode escalar, mas é indicado que faça um bom curso, com instrutores qualificados. De acordo com Luana, antes de ir a um lugar é preciso conhecê-lo. Isso se faz através de croquis, que são desenhos dos morros, indicando graduações de dificuldade e lugares apropriados para prender a corda, entre outras informações. Conversar com escaladores que já conheçam a região, também ajuda. Além disso, é preciso estudar as condições climáticas e ambientais do local para não ter surpresas desagradáveis. “O montanhismo é um esporte que exige seriedade. Afinal, qualquer coisa errada que você faça pode resultar em acidentes”, avisa.

A jovem não tem intenção de escalar picos famosos como o Aconcágua, embora encararia o desafio se aparecesse um patrocinador. Um dos sonhos acalentados é um dia poder viajar por lugares que tenham picos de escaladas. Sempre calma e segura do que fala, confessa: “Adoro o contato com a natureza, a paz e a tranqüilidade. Não posso dizer que faço pra desestressar, porque não sou estressada. Faço porque gosto mesmo”. No verão, quando é desconfortável escalar devido aos mosquitos e ao sol forte, ela procura variar praticando ciclismo ou andando de caiaque.

O montanhismo é um esporte antigo no Brasil. As primeiras incursões datam do século 19. No entanto, foi em meados dos anos 60 que a prática começou a se alastrar, devido ao trabalho dos grupos excursionistas. A partir da década de 80, esportistas brasileiros passaram a se destacar no país e no exterior. E em 14 de maio de 1995 o Monte Everest era conquistado, pela primeira vez, pelos brasileiros Mozart Catão e Waldemar Niclevicz.

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